Ouro e metais preciosos: as suas vantagens na composição da carteira de investimentos

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O investimento em ouro não é habitualmente considerado como o mais atrativo e discutido no meio da gestão de ativos, sendo por vezes totalmente omitido na composição de carteiras. Porém, no cenário de taxas de juro negativas, constante tensão geopolítica mundial e na perspetiva de um abrandamento económico, a discussão em torno do investimento neste metal precioso ganha um novo ânimo.

É com base nestas premissas que a OFI Asset Management veio a Lisboa apresentar o fundo OFI Precious Metals, na pessoa do seu portfolio manager Benjamin Louvet, que para além de enquadrar nas tendências atuais em relação ao ouro, detalhou-nos a estratégia do fundo relativamente a outros metais preciosos.

Uma nova Gold Rush?

“Ao longo de muitos anos os investidores institucionais não consideravam o investimento em ouro”, começou por contextualizar o portfolio manager, “porém, desde há alguns anos para cá, quando se começaram a registar taxas de juro negativas nas obrigações, essa tendência mudou”. A lógica por detrás desta decisão é simples: apesar do ouro não ter um cupão ou dividendo associado, no que diz respeito a investimentos será sempre melhor “ganhar nada do que menos de nada”, como aconteceria com as obrigações no cenário das taxas de juro de negativas.

E esta tendência não é exclusiva de investidores institucionais: “vários bancos centrais não ficaram indiferentes a esta estratégia e inclusive modificaram a sua relação com este metal precioso. O desejo de adquirir mais ouro permanece”, confirma o gestor do fundo, visto que “segundo o World Gold Council, mais de 50% dos bancos centrais querem aumentar a sua exposição ao ouro nos próximos anos”.

O principal motivo identificado para o reforço está relacionado com a capacidade do ouro em ser um “ativo refúgio” quando estão reunidas determinadas condições socioeconómicas, algumas das quais se têm verificado nos últimos anos. O ‘commodities portfolio manager’ salienta a correlação negativa entre o preço do ouro e a taxa de juro real – num cenário inflacionista, quando as taxas de juro reais diminuem, o preço do ouro tende a aumentar –, e também a instabilidade geopolítica mundial.

Os desafios de um fundo UCITS de commodities

Como é possível inferir pelo seu nome, o fundo também se debruça sobre outros materiais preciosos. Porém, esta diversificação trata-se mais de uma imposição do que propriamente de uma decisão estratégica. “Um fundo UCITS que investe em commodities é obrigado a diversificar”, explica, “tem de ter pelo menos cinco commodities diferentes no seu portefólio”. De forma a cumprir com esta regra, o fundo incorporou na sua carteira investimentos em prata, platina e paládio. No entanto, dada ausência de um quinto metal precioso cotado nos mercados, a última commodity foi substituída pela Eurodólar a 3 meses, ativo monetário de curto-prazo, por nas palavras do portfolio manager, ser considerado o “contrato menos volátil do mundo”, e assim ir ao encontro das intenções dos investidores que habitualmente procuram a estabilidade e segurança associada ao investimento em metais preciosos.

Mas as imposições não ficam por aqui, e para além de influenciarem a composição da carteira também têm efeito na alocação. O gestor explica que “as regras de diversificação estão bem definidas, sendo que a ponderação de cada commodity não pode exceder os 20%”, com a exceção de uma, que pode ascender aos 35%. No caso do OFI Precious Metals a escolha foi simples, ficando essa benesse atribuída ao ouro; as restantes ficam com 20% cada, e os 5% remanescentes atribuídos à liquidez.

A última exigência impacta a política de investimento estabelecida pelo fundo, que passa por investir diretamente em commodities – algo que é também interdito a um fundo UCITS. Esta questão foi contornada por via de um contrato SWAP com determinadas identidades bancárias robustas e de referência, com settlement diário em caso de uma variação material dos ativos. Para além de permitir o desejado investimento direto no mercado, também atua como um mecanismo de controlo de risco.

 

Metais preciosos: da imposição à oportunidade

O gestor do fundo não esconde que o principal desejo era construir um fundo “puro” de ouro, compatível com as diretivas UCITS, e que a incorporação de outros metais preciosos implica uma justificação acrescida junto dos investidores. Todavia, a performance histórica positiva do fundo veio aliviar a necessidade dessa justificação, para além de que os restantes metais preciosos acabam por ter o papel de captação de outras oportunidades, dificilmente alcançáveis apenas com a presença de ouro na carteira.

As principais aplicações da platina resumem-se aos mercados da joalharia e da produção da catalisadores (peças que filtram os gases poluentes dos motores) para automóveis movidos a diesel, pelo que nos últimos anos tem-se registado uma diminuição na procura por este metal, graças à polémica com o “dieselgate” na Europa. 

A produção de catalisadores é também a principal aplicação do paládio, mas neste caso para veículos a gasolina. Por isso, a procura por este metal tem sido inversa à da platina, graças à crescente popularidade dos carros a gasolina e híbridos. Na ótica do portfolio manager, o aumento da regulação sobre a emissão de gases poluentes de veículos, assim como a escassez crescente deste metal nos últimos anos (e para a produção de catalisadores só pode ser substituído por platina), revelam uma grande oportunidade de investimento neste conjunto de commodities.

Por fim, o papel da prata no portefólio é atuar como um proxy do ouro. A correlação entre os dois metais ronda os 85%, e as diferenças resumem-se à maior volatilidade da prata (quando o preço do ouro aumenta, o preço da prata pode aumentar até ao dobro, e vice-versa), e ao preço de mercado (o preço da prata é notoriamente mais baixo que o do ouro).