Os riscos para o investidor de longo prazo rodar a sua carteira em tempos de coronavírus

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Jérémy; Flickr

A internacionalização do contágio por coronavírus e, sobretudo, a impossibilidade atual de encontrar um método para travar este contágio ativou o modo risk off dos investidores. A sequência foi a que sempre se repete em momentos de pânico nos mercados: vendas significativas de praticamente tudo o que tenha a ver com ações e compras de tudo o que tende a ser incluído no cada vez mais vazio saco de ativos refúgio: ouro, dólar, obrigações de dívida pública...

À falta de conhecer o impacto que esta crise vai ter na economia, de momento o FMI marcou este impacto no PIB mundial para 2020 com uma descida de 0,1% e 0,2%, os especialistas pedem prudência aos investidores, sobretudo àqueles que têm um perfil de longo prazo baseando-se na forma como se comportaram os mercados quando aconteceram crises semelhantes no passado.

“Suponhamos que o aumento atual continuará numa trajetória semelhante a outras epidemias recentes, o que nos leva a acreditar que os investidores não têm motivos para alarme. Cabe destacar que não existe uma abordagem segura ao investimento: portanto, passar das ações para o cash acarreta os seus próprios riscos como a cristalização das perdas devido à deterioração do sentimento e, quase com toda a segurança, a perda de uma subida se se quiser conter rapidamente a propagação do vírus”, afirmam da Morningstar. Nesta empresa analisaram, também, a reação que o mercado teve perante crises semelhantes e como se vê no gráfico a longo prazo esta foi a mais positiva.

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Por isso, nos comentários que vamos recebendo nestes dias de pânico sobre o impacto do coronavírus começam a aflorar avisos sobre o que implica abandonar o mercado antes de tempo. Um desses comentários vem da Fidelity que voltou a recordar que “os mercados podem reagir de forma muito brusca perante possíveis ameaças, mas também podem estabilizar rapidamente e terminar numa recuperação. Portanto, convém não nos centrarmos demasiado nas oscilações a curto prazo, por significativas que possam parecer, e investir em empresas de qualidade que possam continuar a gerar rentabilidades duradouras a longo prazo”.

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Fonte: Mornigstar

Além disso, na Unigestion, sublinham que o facto de que o foco se tenha posto no coronavírus evitou outros dados que continuam a ser relativamente positivos do ponto de vista económico e que continuam a confirmar o investimento em ações em detrimento das obrigações. “Na nossa perspetiva, as obrigações parecem estar mais em risco do que as ações neste momento. Ainda que o reequilíbrio da carteira após a subida das ações em 2019 tenha sido favorável para as entradas de obrigações deste ano, as yields moveram-se fortemente com as notícias do vírus. Portanto, consideramos que o aumento das obrigações está a impulsionar mais pelo medo do que por uma mudança nos fundamentais subjacentes e, portanto, é propenso a um forte investimento se esses medos se dissiparem”.

Em todo o caso, a petição massiva de cautela não implica que não se devam dar passos para ir minimizando o risco das carteiras, e não só pelo coronavírus, mas porque é previsível que o comportamento deste ano dos mercados não seja tão dinâmico como aquele que se viu no ano passado, com o mundo a avançar para uma desaceleração económica e com muitos bancos centrais com cada vez menos munições para injetar na economia. “Consideramos aconselhável enfrentar a volatilidade a curto prazo numa tentativa de aproveitar as medidas a médio prazo que acreditamos que vão implementar as instituições financeiras nos principais estados ocidentais e na China. O lema é: Paciência e Mobilidade”, afirmam na gestora La Financière de l’Échiquier.

Por exemplo, Luc Filip, responsável de investimentos de banca privada da SYZ AM afirma que reduziram "a preferência pelas ações europeias devido à sua dependência do comércio enquanto mantivemos a exposição às ações americanas, já que os Estados Unidos deverão ser mais imunes devido ao seu maior mercado interno, o seu menor viés sectorial cíclico e a autoridades que podem atuar mais rapidamente do que na Europa”.

Enquanto isso, na BlackRock defendem o investimento em empresas de qualidade neste momento de ciclo económico tardio. “Continuamos a priorizar o fator de qualidade pela resiliência que demonstra em períodos de final de ciclo económico, apesar da discreta rentabilidade que já registou este ano. Por agora, conservamos a nossa posição de predisposição ao risco moderado durante os próximos seis a doze meses, sem perder de vista o aumento das incertezas nas perspetivas de mercado”, afirmam.

Por sua vez, na Alliance Berstein reconhecem que ainda que os lucros de algumas empresas possam ver-se afetadas neste primeiro trimestre pelo coronavírus, “relatórios de lucros recentes para o quarto trimestre de 2019 foram amplamente tranquilizadores, e as baixas taxas de juro continuam a apoiar as avaliações das ações”. Por isso, o seu conselho para os clientes é que “mantenham a exposição às ações enquanto mantém o equilíbrio da carteira entre diferentes classes de ativos”.