Os motivos que explicam por que é importante escolher corretamente o índice de alternative beta

Pedro_Coelho UBS
Cedida

Qualquer decisão de investimento na área da gestão passiva conta com duas vertentes. Em primeiro lugar é necessário selecionar o índice de referência adequado, dentro de uma ampla gama de possibilidades, que inclui índices de capitalização, sectoriais, smart-beta, investimento socialmente responsável, temática, etc. aos quais se teria de acrescentar as suas respetivas variantes com a divisa coberta. Esta flexibilidade resulta de especial utilidade na construção das carteiras, tanto para o investidor passivo como para o ativo. Em segundo lugar é necessário escolher o produto mais apropriado para o índice pelo qual se optou. Neste sentido, apesar de existir um amplo leque de opções de fundos passivos que replicam índices com exposições aparentemente similares, consideramos que escolher adequadamente o índice subjacente tem maior relevância que eleger um ETF ou outro.

Escolher o produto adequado para um índice concreto costuma dar lugar a diferenças no retorno a nível anual. Isto deve-se ao sistema competitivo de preços que existe entre os maiores fornecedores do mercado assim como ao facto de os produtos serem geridos com base em sólidos processos de gestão que incluem eficiências fiscais. No entanto, os resultados do investimento dependem em grande medida da eleição do índice correto (estratégia), que pode dar lugar à criação/destruição de até +/- 500 pontos base.

Uma comparação entre os rácios de Sharpe de vários índices que cobrem o universo MSCI USA pôs em relevo determinados padrões da rentabilidade histórica. Como se pode apreciar no gráfico que se segue, os rácios de Sharpe da maioria dos setores (em rosa) são similares aos do índice MSCI USA (em vermelho), dado que a soma de todos os setores dá lugar ao mercado no seu conjunto. Os índices por fatores (em amarelo) também estão próximos do índice de referência dado que só oferecem enviesamentos moderados (value face a growth), sendo que estes dois fazem referência ao índice global separado em duas metades, uma value e outra growth. Pelo contrário, encontramos os melhores rácios de Sharpe na mais recente geração de índices por fatores (em castanho), que oferecem uma sólida exposição a fatores específicos dado que só selecionam os títulos com as pontuações mais elevadas para cada fator.

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Como eleger o melhor índice value

Apesar de nos últimos 20 anos os índices por fatores terem batido os seus homólogos, nem todos os índices por fatores se criam da mesma forma, e daí a disparidade de retornos dentro deste grupo. Esta divergência provém do critério subjacente empregue para capturar a exposição a cada fator. A caraterística distintiva do conceito prime value reside no facto de selecionar títulos relativamente baratos, mas apenas dentro de um universo de empresas de alta qualidade. O prime value utiliza um filtro de qualidade baseado no ROE (return on equity), debt-to-equity e earnings-variability, ao mesmo tempo que determina a avaliação relativa baseando-se no price-to-book, price-to-earnings, price-to-sales e price-to-cash earnings. O índice tem como objetivo selecionar empresas que em conjunto constituem 25% do índice matriz geral, o que garante uma sólida exposição ao fator e um variado universo de investimento. Além disso, o índice não tem restrições em termos sectoriais.

Um aspeto importante na altura de selecionar o índice é a lógica económica subjacente. Neste sentido, a que está por detrás do prime value procura selecionar empresas subvalorizadas, mas de boa qualidade. Dito de outra forma, selecionar ativos de qualidade que devido a enviesamentos ou restrições sistemáticas dos investidores se encontram cotados com desconto. Considera-se que estas empresas constituem uma autêntica oportunidade e que proporcionam melhores retornos ajustados ao risco. Ao mesmo tempo, o filtro de qualidade prime value deixa de fora empresas que são baratas devido à sua má saúde financeira e aos riscos macroeconómicos, em cujo caso um desconto de preços representaria diretamente a compensação de um maior risco, não uma oportunidade de investimento.

Como investir em yield (dividendo e recompra de ações)

As estratégias de dividendos nos mercados de ações tornaram-se muito populares, pelo que a oferta passiva que existe neste segmento é bastante ampla. Fazem parte de um conceito mais amplo de investimento em yield ou carry que se baseia na observação de que os ativos com yield superiores costumam obter uma rentabilidade mais elevada. Os lucros gerados por uma empresa podem ser devolvidos aos acionistas através do pagamento de dividendos ou mediante a implementação de um programa de recompra de acções. Ambas as formas deveriam ser equivalentes em linhas gerais assumindo que não se produzirão grandes ineficiências dos mercados de capitais. Por isso, quando um investidor quer pôr em prática uma estratégia de acções baseada em yield, faz mais sentido adotar um ponto de vista mais amplo e incorporar tanto os dividendos como a recompra de acções. Centrar-se só numa destas possibilidades poderia dar lugar a um importante enviesamento setorial dado que alguns setores tendem a pagar dividendos (por exemplo as utilities) enquanto que outros se centram mais na recompra de acções (como as empresas de tecnologias de informação). O índice MSCI Total Shareholder Yield tem em conta tanto os dividendos como a recompra de acções na selecção de títulos.

Portanto, como comentávamos ao princípio, o investimento passivo consiste em eleger o índice subjacente adequado assim como o produto, também adequado, que o replique. Os últimos progressos da gestão passiva criaram uma ampla gama de oportunidades de investimento, que poderiam dar lugar a diferenças substanciais no retorno. Por isso, é fundamental entender a metodologia de construção dos índices, o seu comportamento atual e retrospetivo, e idealmente a sua exposição geográfica e por setores. Com a correta seleção do índice (e com o produto idóneo de um reconhecido fornecedor) existe margem real para conseguir melhores resultados.