“Os mercados estavam há mais de 1.000 dias sem uma correção de 10%. Agora é um sinal bem-vindo”

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Sören W, Flickr, Creative Commons

As tensões geopolíticas e as incertezas sobre a política monetária dominam as capas de jornais nos últimos tempos, o que fez com que a volatilidade voltasse aos mercados. Entre 24 de julho e 7 de agosto, o S&P 500 caiu e o índice VIX, que mede a volatilidade, subiu 41%. Mas poderá a volatilidade elevada ser algo bom? Na J.P. Morgan AM acreditam que sim. “A volatilidade tem estado em mínimos históricos e os mercados estavam há mais de 1.000 dias sem uma correção de 10%. Os investidores andavam preocupados com esta complacência, enquanto os comentadores evocaram a famosa frase de Alan Greenspan, que fala da “exuberância irracional”, na hora de descrever o cenário”, afirmam no seu último relatório Market Insight.

Mas na entidade acreditam que a recente correção é um sinal bem-vindo, que demonstra que os mercados não estão a fazer uma espécie de subida de forma distraída numa colina íngreme que termina num penhasco. “Pelo contrário, os investidores estão atentos ao mundo que os rodeia, reduzindo o risco de bolhas e evitando uma alocação de ativos errada que está tipicamente associada à maioria dos colapsos dos mercados”, revelam. Para Jeff Hochmam, diretor de análise técnica na Fidelity Worlwide Investment, uma pausa nos mercados  - que o especialista considera não ser superior a 20% como a que se sentiu em 2011 – ofereceria aos investidores outra boa oportunidade de compra a longo prazo, prevendo-se que o clássico bull market continuará depois deste retrocesso.

“Estas previsões bastante otimistas fundamentam-se numa melhoria gradual da recuperação económica e na volatilidade baixa e sustentável, na liderança asiática com a reavaliação dos títulos dos mercados emergentes, e ainda no registo de novos máximos históricos nas ações desde 2013”, explicam da entidade num relatório publicado. Hochman considera que, apesar dos altos e baixos vividos pelos mercados, não existem sinais que evidenciem um aumento real da volatilidade nos mercados ao longo de 2014 continuando a ser levantada a questão se existe ou não excesso de complacência entre os investidores. A Natixis Global AM é uma das empresas pioneiras nas estratégias de volatilidade, e dá conta das visões dos especialistas das suas gestoras filiadas sobre o anormal comportamento do VIX.

Um deles é Herry Merriken, estratega chefe da Gateway Investment Advisers. O profissional questiona-se se o VIX apresenta níveis excecionalmente baixos por causa da complacência... ou porque o próprio VIX se apresenta excessivamente negociado. No entanto, descarta ambas as hipóteses, considerando que a explicação para o que está acontecer se prende com o facto do “índice do medo” estar a refletir uma mistura de forças presentes atualmente no mercado, com o QE da Reserva Federal a surgir como pano de fundo.

“Em primeiro lugar, em geral a volatilidade do mercado bolsista medida pelo VIX tem-se vindo a mover numa faixa estreita. Pelo que, apesar desse intervalo se ter tornado maior ao longo do tempo, o valor do índice de volatilidade tem estado contido. Em segundo lugar, os preços das opções de compra subiram em conjunto com a volatilidade e as taxas de juro. Assim, num período de taxas de juro de curto prazo deprimidas  - e de volatilidade implícita – o índice também irá estar deprimido”, resume a estratega chefe. O especialista explica, por outro lado, que o VIX reflete os preços da volatilidade implícita “porque, ao contrário das taxas de juro, a volatilidade esperada durante a vida de uma opção não se pode observar”. O VIX é calculado sobre a volatilidade estimada durante um intervalo de contratos de curto prazo”.

A terceira razão apontada pelo especialista tem a ver com a liquidez fornecida pela Fed, que provoca o efeito de deprimir a volatilidade e as taxas. “Observando o comportamento dos investidores quando os preços estão baixos, conclui-se que eles fazem uso do excesso de liquidez. O ímpeto dos investidores para utilizarem o excesso de capital é umas das razões pelas quais o mercado não conseguiu executar uma correção de 10% ao longo dos últimos três anos, apesar das várias quedas”, assegura Merriken. No entanto, este constata que o rally sem motivos aparentes que se continua a viver no mercado está a fazer com que muitos investidores recolham os lucros, o que traz como consequência a redução dos volumes e, por sua vez, tem como efeito secundário novas quedas no VIX.

VIX, um indicador parcial

Do ponto de vista de Alexander Healy, diretor de análise estratégica e gestor do AlphaSimplex Group, os investidores deveriam fixar-se noutros indicadores para além o VIX para poderem medir os níveis de volatilidade. Por exemplo se olharmos para a última década nota-se um aumento da rapidez com que os níveis de volatilidade podem mudar, pelo que considera que os investidores “deveriam ser mais dinâmicos na forma como constroem as suas carteiras para explicar as rápidas mudanças de contexto dos mercados”.

Healy também recorda que o VIX é um indicador que se centra exclusivamente na volatilidade implícita do S&P500 durante os próximos 30 dias, baseando-se nos contratos de opções sobre o índice, ou seja, mede exclusivamente o mercado norte-americano e apenas no curto prazo. Pode dizer-se que uma leitura do VIX indica que a procura de opções ou proteção de curto prazo sobre o S&P 500 é atualmente baixa em relação às medidas históricas, o que faz sentido tendo em conta que as cotadas desse índice generalista ganharam consistência ao longo do tempo, e que a Fed continua a seguir uma política muito acomodatícia.

O especialista explica que o AlphaSimplex Group desenvolveu o seu próprio sistema para medir a percepção de risco que os distintos mercados mundiais oferecem, ao qual deram o nome de Downside Risk Index (DRI). “Com as nossas métricas, os mercados emergentes encontram-se por cima do nível médio de risco, com a Rússia, Hungria e Chile (entre outros mercados sul-americanos) exibindo leituras de 60 e 70 pontos (a média histórica do índice é de 55 pontos), muito mais acima da leitura de 28 pontos dos EUA. Desta forma, apesar da incerteza global não se refletir no VIX, parece estar refletida em alguns mercados internacionais”.

A volatilidade nos EUA aumentará em breve? Um estudo realizado pela gestora filiada da Natixis AM sobre o comportamento do mercado reflete a presença de uma tendência bem documentada de se voltar às médias históricas ao longo do tempo. “Dado o nível baixo em que o VIX se encontra atualmente face à média histórica, esperaríamos um aumento da volatilidade no futuro. Para nós não é uma questão de aumento da volatilidade, mas sim quando é que isso vai acontecer”, diz Healy.