Os cinco desafios do momento e como compor uma carteira para os enfrentar

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A era em que os ativos financeiros batem a economia real chegou ao seu fim e abre caminho para a nova realidade: a era da disrupção. Um novo contexto com efeitos sobre a economia, ativos financeiros e, obviamente, as carteiras dos investidores. É a mensagem que transmitiu recentemente Joachim Fels, assessor económico global da PIMCO.

Relativamente aos próximos anos, o gestor prevê um contexto relativamente benigno. Não prevê que venha aí uma recessão porque a Reserva Federal deu uma tripla volta acomodatícia com a sua postura sobre as taxas, a inflação e o seu balanço. Dito isto, é provável que a economia se contraia nos próximos três a cinco anos, mas esta será pouco profunda ainda que mais alargada. “Como um prato raso”, descreve o especialista. Fels vê principalmente cinco disruptores importantes:

1- A China está a caminho do seu domínio global. O poder económico implica poder político. Para Fels isto é a raiz do conflito atual com os Estados Unidos e precisamente por isso não terá uma resolução fácil.

2- O populismo, que não é uma tendência nova, mas está a ganhar força. O auge dos partidos populistas tanto de esquerda como de direita tem uma consequência comum: maior protecionismo. “Se há algo em que concordam ambos os lados é na proteção do país, quer seja dos seus negócios ou do seu mercado laboral”, explica Fels. Esta onda de desglobalização é um risco importante.

3- A demografia, ou seja, a japonização das economias dos principais países desenvolvidos: baixa inflação, baixas taxas de juro e baixo crescimento. O problema que vê o economista é que o que funcionou no Japão poderá não funcionar bem na Europa e nos Estados Unidos.

4- A tecnologia é a grande tendência imparável que se expande mais além do seu sector. Certos modelos de negócio ficaram obsoletos e a economia real está a notar o impacto das implicações.

5- A volatilidade no mercado financeiro. Os anos de bonança da bolsa que deixámos para trás estão a mostrar as suas falhas atualmente. Os investidores adaptaram as suas carteiras para assumir mais risco, os balanços das empresas estão mais alavancadas e a liquidez do mercado foi restringida pela maior regulamentação.

Como compor a carteira

Antes desta fase final do ciclo, a empresa americana está a adotar uma postura mais cautelosa nas suas carteiras. Como premissa geral, o aforrador deve assumir que as taxas vão continuar baixas durante mais tempo. Isso, segundo explica Geraldine Sundstrom, gestora de carteiras multiativos da empresa, significa maior volatilidade e menores retornos esperados. Não obstante, isto deverá ser combinado com uma reserva de pólvora seca para ser oportunista quando os mercados oferecerem uma janela.

Sundstrom defende sobreponderar a qualidade em todos os aspetos da composição da carteira. Isto é, apostar em regiões nas quais os bancos centrais têm margem de manobra, com governos que possam usar ferramentas fiscais para impulsionar as suas economias e que tenham desenvolvido áreas inovadoras nos sectores de crescimento do futuro (basicamente a tecnologia).

Nas obrigações, estão a sobreponderar emissões americanas. “Porque é o único país que pode baixar as taxas de juro”, explica. Estão cautelosos em relação ao high yield, onde preferem emissões curtas e de empresas com boa visibilidade.

Nas ações essa qualidade é encontrada nos Estados Unidos e no Japão. Este último principalmente pelas valorizações. Por sectores, veem valor nos defensivos como o da saúde e o farmacêutico, assim como partes do tecnológico que reúnem essas características de qualidade.

Como foi notório, a Europa não se destaca entre as apostas. Na PIMCO não preveem um cenário positivo para o mercado precisamente porque é a região que sofre mais com as cinco disrupções anteriormente mencionadas. Foi um grande exportador para a China, pelo que uma base do seu crescimento económico foi posta em causa. Além disso, como refere Sundstrom, exportavam bens que na China podem substituir com facilidade. Com uma população envelhecida, a demografia não joga a seu favor e na batalha tecnológica apenas tem representação. Os seus mercados refletem mais empresas dos sectores mais clássicos e o seu banco central não tem margem para baixar as taxas nem os países para aplicar estímulos fiscais.