Olhos postos em Mario Draghi: a opinião de profissionais nacionais

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giannischicchi78, Flickr, Creative Commons

Em dezembro passado, o mercado esperava mais do presidente do Banco Central Europeu, e de “Super Mario”, Draghi teve pouco. Desde essa altura até agora, os discursos do presidente do BCE, foram apontando que seria em março que mais estímulos chegariam à economia europeia. Posto isso, o mercado encheu-se de “esperanças” de que desta vez Draghi não entre para desiludir.

Para esta quinta-feira, 10 de março, João Lampreia, equity research no BiG considera que se podem esperar várias coisas. “Pelo menos um aumento dos montantes de compras de ativos (cerca de EUR 10 mil mn mensais)”, refere, mas também a “extensão do período do programa e compromisso para continuar a voltar a repetir estas medidas”.  Ainda no campo das possibilidades, o profissional entende que Draghi poderá efetuar “o corte da taxa de depósitos junto do BCE em 10 p.b. para -0,4%”, ou perspectivar a “criação de um sistema dual em que apenas parte do excesso de reservas dos Bancos seriam afectos à referida taxa de depósitos (à imagem do que se aplicou já na Suíça)”.

Inês Risques, da Caixagest, por seu turno, acedita que o "BCE deverá rever em baixa as projeções de inflação e crescimento económico, divulgadas em dezembro, para os anos 2016 e 2017". Refere que é esperado que "o BCE venha a incrementar as suas medidas de política de estímulos monetários, podendo estas vir a incluir (i) novas reduções da taxa de juro da facilidade permanente de depósito entre 10 a 20 pontos base (p.b.), passando para -0.40% - 0.50%, (ii) o aumento do total de compras mensais, (iii) extensão to programa de compras de ativos por mais três meses, para junho de 2017, (iv) alargar o universo de títulos previstos no mesmo, de forma a incluir instrumentos de dívida de emitentes privadas, (v) a eliminação do limite inferior para a yield implícita nos títulos de dívida objeto de compra e (vi) a remoção do limite da proporcionalidade no montantes de compras relativamente ao capital que cada país emitente detém no banco central".

O desafio do BCE, lembra Rui Bárbara, economista e gestor de ativos do Banco Carregosa, continua a residir numa equação difícil de resolver: “como estimular o crescimento económico sem tomar medidas que fragilizem ainda mais o sector bancário?”. Por isso, da entidade, veem com expectativa o que pode acontecer já esta quinta-feira.

Atenção ao impacto na Banca

Precisamente nesta lógica de não pôr em causa a sustentabilidade da banca, João Lampreia acredita que um novo corte na taxa de depósito “não parece acertado, na medida em que o impacto para as instituições financeiras afigura-se assimetricamente negativo comparado com o impacto positivo que tal medida poderá vir a ter na economia real”. Explica que “as taxas de juro muito negativas distorcem demasiado a lógica e sentido racional da relação entre poupança e investimento”, sendo “um caminho demasiado nublado”, que na opinião do BiG, “o BCE não deverá querer acentuar”.

Alargar o espectro de ativos elegíveis é para muitos uma solução a considerar. “Comprar dívida dos próprios bancos”, diz Rui Bárbara, tem sido uma das especulações dos últimos dias. Contudo, para o gestor de ativos esta solução tem poucas garantias de eficácia. João Lampreia, por seu lado, coloca a tónica na necessidade do Banco Central “direcionar melhor o programa de compra de ativos para a raiz do problema”, ou seja, “para a banca periférica”. Mas os “senãos” também ganham forma com esta hipótese: “o problema é que essa seria uma estratégia demasiado agressiva em termos políticos, algo que continua a restringir a direção da política monetária na Europa”, analisa.

Entre outras, Inês Risques aponta ainda a possibilidade de existir o anúncio "da remoção do limite relativamente à proporcionalidade nos montantes de compras relativamente ao capital que cada país emitente detém no banco central". No entanto alerta que esta sendo implementada "poderia eventualmente beneficiar as obrigações emitidas por governos de países periféricos, os quais têm uma proporção menor do capital do BCE". Mas tendo sido "os atuais limites existentes nas definições do programa de compra de ativos originalmente introduzidos de forma a salvaguardar o funcionamento dos mercados financeiros e a minimizar o risco do banco central tornar-se o principal credor dos governos da Zona Euro", da Caixagest consideram que "a possibilidade do BCE relaxar estas definições, de forma a aumentar a ponderação de países periféricos no programa seja reduzida no curto prazo"

Mais compras: que impacto?

Partindo do princípio que Mario Draghi avança já esta quinta-feira com o anúncio de um aumento das compras de ativos, João Lampreia considera que o resultado inicial será o já esperado, “com as ações e as obrigações europeias a reagirem favoravelmente”. Estas últimas, indica, “sobretudo nos prazos curtos e intermédios com a eventual compressão de spreads adicionais da dívida entre periferia-core, bem como uma expectável depreciação da divisa europeia”. Na perspectiva de Rui Bárbara, a solução da compra de ativos “pode estar um pouco esgotada”.  “O BCE já comprou muita dívida, o que já reduziu bastante a liquidez ao próprio mercado de dívida, para além de que os chamados países “core” já têm taxas (yields) negativas”, reitera. Também Inês Risques entende que o "impacto deverá ser positivo, em especial para os ativos de maior risco denominados em euros, tais como os mercados acionistas da Zona Euro e as obrigações corporativas". Contudo, no que toca ao mercado de obrigações do tesouro, acredita que o impacto é "mais  incerto, uma vez que o nível das yields é já bastante diminuto e incorporando grande parte das expectativas do anúncio de mais estímulos por parte do BCE".

Resultado ideal... existe?

A ausência de decisões é para os profissionais o principal receio sobre esta próxima reunião. Rui Bárbara diz à Funds People Portugal que existe uma certa dualidade no que se pode esperar. “Para além de acharmos que o caminho da compra de dívida pode estar esgotado, o da descida de taxas do BCE também não parece a melhor alternativa”. Já João Lampreia acredita que “no curto prazo, o ideal seria o aumento dos montantes do Programa de Compra e a extensão do atual programa, com um discurso feroz em relação à disciplina orçamental dos periféricos”

A comunicação do BCE continua a ser outro ponto de grande importância. Da Caixagest indicam que "nesta reunião, um resultado potencialmente ideal será uma comunicação credível e eficaz, através da combinação de um pacote de medidas e uma mensagem forte de que o banco central tem à sua disposição instrumentos eficazes de política monetária".