OCDE: “A utilização de private equity como fonte de financiamento das empresas em Portugal ainda se encontra subdesenvolvida”

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Saad Chaudhry, Unsplash

No seu relatório “Avaliação da OCDE sobre o Mercado de Capitais de Portugal 2020: Mobilizar o mercado de capitais português para o investimento e o crescimento", publicado recentemente, a organização debruça-se sobre o mercado de private equity e venture capital em Portugal, comparando-o como resto da Europa. Através da análise do documento podemos tirar conclusões interessantes. A primeira é que a utilização de private equity como fonte de financiamento das empresas em Portugal ainda se encontra relativamente subdesenvolvida e que em comparação com os níveis europeus continua fraca.

No gráfico abaixo, que nos mostra uma fotografia das tendências de fundraising, investimento e desinvestimento em Portugal desde 2007 e uma comparação com números agregados da UE, podemos perceber que o montante de capitais privados investidos em Portugal é superior ao montante angariado no país. “Nos últimos cinco anos, o capital angariado em Portugal foi em média 64 milhões de euros, enquanto o investimento total recebido pelas empresas portuguesas foi superior a seis vezes em 392 milhões de euros. O desinvestimento tem sido baixo nos anos anteriores, mas aumentou recentemente com uma média de 281 milhões de euros nos últimos cinco anos”, explicam no relatório. Contudo, uma vez que se trata de uma indústria em crescimento em Portugal, a atividade de desinvestimento é geralmente inferior à atividade de investimento.

No relatório pode ler-se que apesar de Portugal representar aproximadamente 1,2% do PIB total da UE, nos últimos cinco anos os investimentos e desinvestimentos em private equity apenas corresponderam a 0,6% e 0,7% dos valores europeus, respetivamente. “A atividade de fundraising também permaneceu lenta. Depois de atingir quase 3% em 2012, tem estado baixa nos últimos cinco anos, contabilizando apenas 0,09% dos recursos captados na Europa”, referem.

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Tendências

A atividade de fundraising de private equity na Europa tem vindo a recuperar desde a Grande Crise Financeira, tendo atingido um pico de 97,3 biliões de euros em 2018 graças ao impulso oferecido pelos investidores não europeus, em particular da Ásia e da América do Norte.

Contudo, segundo a OCDE, em Portugal, o panorama tem sido diferente. A atividade de fundraising têm-se mantido em níveis baixos nos últimos anos.  Após ter atingido um máximo de 1.000 milhões de euros em 2009 foi percorrendo um caminho descendente e apenas conseguiu uma média de 60 milhões de euros nos últimos cinco anos. A OCDE destaca, porém, que o montante angariado aumentou ligeiramente em 2018, atingindo mais de 100 milhões de euros.

No gráfico seguinte, podemos ver que a fonte mais importante de captação de recursos de private equity é o mercado doméstico, que representa quase 70% do total de recursos captados entre 2007 e 2018. Tal como é referido no relatório da OCDE, “as empresas de private equity em Portugal atraíram apenas uma pequena quantidade de fundos de outros países europeus e quase nada de fora da Europa. Desde 2015, os fundos angariados no mercado interno esgotaram-se e atingiram apenas 5 milhões de euros em 2018”.

Vale também referir que se compararmos Portugal com outros países europeus é percetível o excesso de dependência do private equity em fontes de financiamento domésticas, já que quase toda a captação de recursos provém do mercado nacional. Por exemplo, em Espanha e França, cerca de 20% dos recursos captados provêm de outros países europeus.

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