Obrigações europeias: estarão os investidores a ser cautelosos?

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crossa, Flickr, Creative Commons

Até que ponto se está a desenvolver uma bolha nas obrigações europeias? A Franklin Templeton Investments decidiu realizar um inquérito com mais de 300 investidores profissionais de Espanha, França, Itália e Alemanha para perceber as suas atitudes em relação às obrigações europeias, incluindo o seu grau de preocupação em torno da possibilidade de uma bolha. Surpreendentemente, a conclusão que mais se destacou no estudo foi que, apesar do seu perfil tradicionalmente conservador, foram os investidores espanhóis aqueles que mostraram uma preocupação proporcionalmente menor, uma vez que cerca de 59% declara-se inquieto face à possibilidade do estouro da bolha, face à média de 69% do estudo; a preocupação também é menor em relação a outras questões, como a volatilidade (51% face a uma média de 61%) ou as quedas (51% face a cerca de 63%).

Não é a única conclusão do estudo que acaba com um paradoxo. Pode consultar um resumo das mais importantes abaixo.

1. Posicionamento defensivo. A gestora conclui que os investidores da amostra “têm uma baixa tolerância ao risco entre preocupações tais como o aumento da volatilidade, que por sua vez reflete-se num posicionamento em risco maioritariamente baixo ou moderado. Os investidores franceses são os mais preocupados com a possibilidade de obter uma baixa rentabilidade (93% de respostas), seguidos dos alemães (89%). Em contrapartida, a principal preocupação para os investidores italianos e espanhóis (85% e 73%, respetivamente) gira em torno do risco de aumento das taxas de juro.

"Os investidores espanhóis parecem menos preocupados quando se trata de riscos de mercado como a volatilidade e as bolhas e, em vez disso, focam-se na geração de rentabilidade. Isto vai mais em linha com a nossa própria opinião, de que o aumento da volatilidade pode dar lugar a oportunidades no mercado de obrigações europeu, sempre e quando se se saiba onde procurar”, comenta David Zahn, diretor de Obrigações Europeias na gestora americana. Este afirma que “os investidores estão a ser demasiado precavidos e até podem estar a sacrificar o retorno”.

2. Reação excessiva. Seguindo a linha de raciocínio da primeira conclusão, a Franklin Templeton detetou que, apesar da crença geral de que as taxas de juro continuarão baixas na Europa, os investidores estão a reduzir desnecessariamente a duração. Assim, 81% da amostra descarta a ideia de que as taxas subam mais de 1% nos próximos três anos, mas 70% dos investidores mostraram a sua preocupação pelo risco de duração, e cerca de 54% optou por reduzir ativamente este risco nos últimos três anos. Assim, o estudo reflete que a carteira dos investidores espanhóis entrevistados apresenta uma duração média de 3,6 anos, face a 4,1 anos de média.

Zahn recorda que o consenso do mercado é de que será improvável que as taxas subam na Europa mais de 0,5%-1%, previsão que partilham na Franklin Templeton, pelo que insiste: “Muitos investidores estão a reduzir desnecessariamente a duração. Ao fazê-lo, estão a sacrificar um retorno valioso, especialmente se tiverem posições nos mercados da Europa central, em que o extremo curto da curva de yields encontra-se em território baixo a negativo”.

3. Forte interesse pelo high yield. Apesar da tolerância ao risco baixa, o segmento de high yield é, paradoxalmente, a parte de obrigações onde os investidores estão a assumir mais riscos, num contexto de procura contínua de rentabilidade. Isto explica o facto de que cerca de 76% de entrevistados pense que o high yield esteja sobrevalorizado e que, ao mesmo tempo, 75% provavelmente invista mais neste setor nos próximos doze meses. 69% dos entrevistados espanhóis afirmou que os preços da high yield são demasiado elevados, enquanto que 53% tem a opinião de que os preços não têm de ser motivos de preocupação se os fundamentais continuarem a ser sólidos; outros 45% afirmaram que a high yield oferece uma compensação adequada pelo risco assumido. Os espanhóis são os que mostraram mais apetite por este segmento de dívida da amostra, com uma expectativa de retorno também mais elevada do que a média: um retorno de 6,3% quase mais 2% que a média do estudo.

Zahn alerta que “poderá acontecer uma correção do mercado”, pelo que aconselha os investidores a dedicar muito tempo e análise a efetuar uma seleção sólida de obrigações para as suas carteiras. Na Franklin Templeton optaram por se focar nas obrigações da high yield europeia de qualidade superior, implementando posições que estejam totalmente diversificadas por setores e áreas geográficas, “pois um contexto de aumento da inflação provavelmente afetará estes valores de várias formas”.

4. Apetite Core. A terceira grande conclusão do estudo é que, apesar dos baixos retornos e valorizações limitadas, os investidores continuam a tender em investir nos mercados do centro da Europa, em detrimento dos mercados periféricos e da Europa de Leste. “Os investidores estão a deixar escapar boas oportunidades geradoras de alfa noutros lugares da Europa. Acreditamos que há um potencial específico nos mercados da Europa central e oriental e, em particular, acreditamos que países como a Polónia e Roménia oferecem um retorno apelativo”, comenta Zahn sobre este assunto. O especialista admite que são mercados menos seguidos pelas casas de análises, mas, na sua opinião, trata-se de “um problema de perceção”, no sentido em que “os investidores costumam considerar estes países como zonas de menor qualidade e de risco mais elevado do mercado, mas muitos são, de facto, de grau de investimento”.

5. Tendências futuras. A última grande conclusão do inquérito tem a ver com o maior interesse por parte dos investidores em estratégias que são socialmente responsáveis e que causam algum tipo de impacto positivo. Da gestora clarificam que, embora esta procura se tenha centrado, inicialmente, em estratégias de obrigações, está a haver cada vez mais interesse pela sua implementação através de obrigações verdes, fundos de obrigações ISR e dos fundos de investimento de impacto. Isto reflete-se no facto de que 46% da amostra afirma propôr-se a investir em fundos de obrigações ISR, enquanto 40% considera o investimento em obrigações verdes e cerca de 14%, em fundos de investimento de impacto.

“Consideramos que a perspetiva ISG no investimento em obrigações é um gigante adormecido, uma vez que esta é a maior classe de ativos do mundo (…). Estamos só a ver uma pequena parte da inovação nesta classe de ativos e acreditamos que irá continuar a haver oportunidades de crescimento cujos resultados do inquérito parecem apoiar”, comenta, Julie Moret, Diretora de ESG da gestora.