O que se entende por ‘subidas graduais’ das taxas de juro?

1252615983_a1a9901b02_b
ManoharD, Flickr, Creative Commons

Até agora, a incerteza nos Estados Unidos girava em torno de perceber quando se iria iniciar o ciclo de subidas das taxas. Contudo, essa dúvida já ficou resolvida há duas semanas depois de, como esperado, a Reserva Federal ter decidido atuar e subir as taxas de juro num quarto de ponto (0,25%) pela primeira vez desde 2006, situando o preço oficial do dinheiro em 0,5%. Na sua conferência de imprensa, Janet Yellen fez especial fincapé no facto de, a partir desse momento, a autoridade monetária se propor a subir as taxas de juro de maneira gradual. A pergunta que se coloca agora é... o que é que Janet Yellen entende por uma subida gradual das taxas de juro e o que entendem os mercados? Estarão a falar o mesmo idioma? A julgar pelo que a Reserva Federal prevê e pelo que atualmente os mercados descontam, a resposta a essa pergunta é não.

“O mercado e a autoridade monetária têm diferentes opiniões sobre como será esta subida de taxas gradual”, explicam os especialistas da J.P. Morgan AM. Para justificar a sua afirmação, a gestora americana apoia-se num gráfico (em baixo) que mostra que, segundo as previsões da Reserva Federal, em 2016 o banco central poderá aplicar quatro subidas de taxas de juro.  No entanto, o mercado apenas espera duas. Neste sentido, não restam dúvidas de que, por esta altura, os mercados financeiros se estão a mostrar complacentes ao contemplar que este ciclo de subidas de taxas será lento e pouco pronunciado. “Esta divergência entre a previsão da autoridade monetária e a do mercado deverá fechar-se em algum momento, o que poderá provocar volatilidade para os ativos de risco em 2016”, afirmam os especialistas da entidade.

Analisando o ritmo de subidas que a Fed imprimiu em ciclos anteriores e o que nessa altura os mercados descontavam, o risco de que o mercado não esteja a calibrar bem a velocidade de subida é real. Atualmente o mercado espera subidas muito graduais das taxas, que situam a taxa em 2% no início de 2019. Ou seja, dentro de três anos o preço do dinheiro estará nesse nível. No entanto, em ciclos anteriores o ritmo de aumento das taxas foi muito mais rápido. O ajuste mais rápido começou em 2004, quando as taxas estavam nos 0,25%. Apenas dois anos depois roçavam os 5%. O endurecimento da política monetária que teve lugar entre 1994 e 1995 também foi bastante severo. Naquela altura a velocidade também foi muito alta. Em apenas dois anos, o preço oficial do dinheiro alcançou os 3,5% depois de partir de níveis mínimos. No ciclo compreendido entre 1999 e 2000 as taxas subiram até aos 2%.