O que podem esperar os investidores da China no seu Ano do Rato

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Steve Webel, Flickr, Creative Commons

Desde 25 de janeiro até 11 de fevereiro, a China celebra o seu Ano Novo, o Ano do Rato, que dá lugar ao começo de um ciclo do horóscopo chinês já que esse ciclo dura 12 anos e começa precisamente com a figura do rato.

Esta mudança de ciclo chega num momento de grande protagonismo para o dragão asiático que alterna as notícias positivas com as negativas. Dentro das primeiras, encontram-se a fase inicial do acordo comercial que alcançou com os EUA através do qual suavizam as taxas e se fixam objetivos relativamente à quantia de exportações, entre outras variáveis. O princípio de acordo de trouxe consigo uma boa aceitação por parte dos investidores, ainda que cada vez sejam mais os especialistas que avisam que por estar preso por alfinetes pode provocar uma distinção mais a curto prazo do que a longo.

A lado B do protagonismo chinês veio, além do aparecimento em cena do coronavírus, com a publicação do seu dado de crescimento. O facto de se esperar uma desaceleração não evitou que se produzisse uma reação negativa por parte dos investidores quando se soube que a China cresceu 6,1% em 2019, o número mais baixo dos últimos 29 anos.

Ambos os acontecimentos, a guerra comercial e a desaceleração do gigante asiático, foram tidos em conta pelas gestoras no momento de estabelecer as perspetivas que têm para o mercado chinês e a julgar pelos seus comentários, a grande maioria coincide em que nenhum deles elimina o potencial que a China continua a oferecer ao investidor. “Como dissemos várias vezes, não é uma questão de perguntar se o investidor deve comparar a China, mas na nossa opinião trata-se mais de uma questão de saber quanto é preciso investir na China”, afirma Neil Dwne, estratega global da Allianz Global Investors. De facto, incide na ideia de que apesar de se confirmarem taxas de crescimento abaixo do 6% para este ano, como revela o Banco Mundial, o número continuará a ser superior aos registados na Europa, EUA e Japão.

Sophie Altermatt, economista da Julius Baer, também tira importância aos dados de crescimento que se acabam de conhecer ao mesmo tempo que recorda que os números económicos que se conheceram no mês de dezembro mostram “uma produção industrial, um dado de investimento e uma atividade industrial em expansão, o que implica um último trimestre muito melhor do que o de inícios de 2019”.

O ponto-chave agora está em ver se essa confiança que parece que existe em torno da economia chinesa salpicará também positivamente um mercado de ações que já em 2019 foi um dos mais hawkish. E, por isso, a opinião maioritária parecer ser também positiva já que, caso contrário, não se entenderia que, segundo o último inquérito a gestores publicado pela BofA Securities, os mercados emergentes são a região favorita, tanto que não estavam tão sobreponderados nela desde há oito anos.

A oportunidade dos estímulos

Ao fim e ao cabo, num contexto de clara correlação entre a política monetária flexível e os mercados, ninguém nega que a China continua a ser das poucas regiões que ainda dispõe de estímulos para revitalizar a sua economia, e não só monetários, mas fiscais. “2020 representa o último ano do 13.º plano quinquenal da China que, entre outros objetivos, pretende construir uma sociedade moderadamente próspera. Um dos objetivos chave do plano é duplicar o PIB do país entre 2010 e 2020. Para o alcançar, a China terá de conseguir um aumento do PIB na ordem dos 6% no ano que vem”, explica Lousa Lo, responsável de ações chinesas da Schroders. Esses estímulos vão desde cortes no coeficiente de reservas obrigatórias e o corte de taxas na segunda fase, até políticas fiscais para aumentar o gasto em infraestruturas e reformas no mercado de capitais.

Não obstante, o grande desafio da China é acometer essas políticas sem elevar demasiado a dívida já que como recorda Didier Saint Georges, membro do comité de investimentos da Carmignac, “conter o crescimento desenfreado do endividamento privado e garantir a estabilidade dos fluxos de capitais constitui desafios estratégicos que Xi Jinping decidiu priorizar em detrimento da reativação do crescimento”. Ainda que segundo este especialista, essa reativação, ou pelo menos a estabilização do crescimento, possa chegar graças aos EUA ou, mais precisamente, à falha da guerra comercial. “O acordo comercial com os EUA contribuirá de forma positiva para esta estabilização e deverá sustentar a divisa do gigante asiático. De facto, a China alberga atualmente uma parte cada vez maior das nossas oportunidades de investimento em ações”, afirma Saint Georges.

Na mesma linha pronuncia-se Aneeka Gupta, diretora associada de Research da WisdomTree. “Esperamos que o atual aumento do mercado de valores chinês se estenda até ao ano 2020 no meio de uma contínua volatilidade”. Por isso, tal como acontece com o restos das praças, cabe ser seletivo no momento de incluir as ações chineses em carteira. “Tendo em conta os contínuos riscos globais, é pouco provável que o Ano do Rato seja um verdadeiro sucesso. Portanto, os investidores deverão analisar os fundamentais e os níveis de valorização atentamente para adotar uma abordagem seletiva e estratégia”, aponta Sean Taylor, CIO da APAC na DWS.

A este respeito, Álvaro Antón, Responsável da Aberdeen Standard Investments para a Península Ibérica, defende que “as empresas chinesas centradas no âmbito doméstico estão melhor isoladas de uma possível deterioração das relações comerciais ou do crescimento global. A nossa estratégia consiste em ser seletivo e em manter empresas de qualidade que tenham balanços sólidos, governance e que beneficiem de tendências estruturais como a ampliação do consumo interno. Acreditamos que serão as vencedoras a longo prazo”.