O que é o mais importante que devo saber para “espremer” ao máximo um fundo de investimento

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litratcher, Flickr, Creative Commons

É um facto conhecido na indústria: as rentabilidades que os investidores finais obtêm com os seus fundos são inferiores às que, na realidade, estão a gerar os gestores. A Morningstar demonstrou em vários estudos que, maior volatilidade, maior costuma ser a gap entre um e outro. A razão fundamental que o explica é muito simples. Os períodos de grande tensão nos mercados financeiros costumam ser acompanhados de avultadas quedas, que fazem com que o investidor final se assuste e venda, ficando em muitas ocasiões fora do mercado quando acontece uma recuperação. Isto acontece mesmo apesar do facto de que nessas fases de correção os gestores tendem a ter bons resultados.

Fazendo o balanço do período de 20 anos compreendido entre 2000 e 2019, os gestores ativos registaram no geral um melhor comportamento em contextos de mercado difíceis. Michael W. Roberge, CEO da MFS IM, expressa-o de outro modo: “os gestores ativos demonstraram o seu talento quando as coisas ficaram difíceis. Dado o contexto atual e a probabilidade de novas más notícias, a capacidade de conservar o capital durante fases bearish será fundamental para gerar excedentes de rentabilidade durante um ciclo completo de mercado”, afirma. A destreza ativa e na gestão do risco importa, ainda que seja certo que nem todos os gestores são iguais.

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Entre 1990 e 2019, os gestores ativos do primeiro quartil acrescentaram valor acima do S&P 500 em todo o tipo de contextos de mercado. Nos mercados bullish, o gestor médio atravessou normalmente dificuldades para não ficar atrás dos gestores qualificados, enquanto os gestores ativos do primeiro quartil não só acrescentaram valor em mercados bullish, mas também (e isto é o que parece mais relevante para Roberge) ganharam fôlego nos mercados bearish. “Em mercados débeis, a gestão ativa do risco viu-se recompensada, algo que é menos visível em carteiras passivas. O que se evita é tão importante como o que se compra”, ressalta.

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Isto conduz-nos à pergunta do início: porque é que o investidor médio obteve rentabilidades inferiores? É um facto que até os gestores ativos do primeiro quartil mostram um comportamento inferior periodicamente. Segundo o CEO da MFS IM, isto pode apresentar desafios para os investidores. “Os fluxos em fundos de investimento mostraram que muito investidores se movem ao ritmo dos preços: entram quando o mercado se aproxima do máximo e saem pouco tempo antes de atingir mínimos. O resultado é que o investidor médio obteve uma rentabilidade inferior”, lamenta.

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Roberge acredita que uma das razões subjacentes é a inconsistência de horizontes temporais. “Os gestores de carteiras mais competentes procuram gerar alfa de forma constante ao longo de um ciclo completo de mercado, cuja duração habitual oscila entre sete e 10 anos. Agora, para avaliar o desempenho, o setor tomou horizontes a três e cinco anos como âncoras temporais de rentabilidade. Na realidade, um período de três anos é inferior à metade de um ciclo completo de mercado em termos históricos. Ainda que a maioria dos investidores esteja consciente disso, poucos parecem dispostos a tolerar um alfa a três anos negativo”.

Além disso, no momento de fixar objetivos, não muitos (profissionais financeiros ou gestores de ativos) debater os parâmetros de medição do desempenho e o horizonte temporal de um ciclo completo de mercado. “Esta inconsistência tem ainda menos sentido quando reparamos no horizonte temporal associado à motivação da maioria dos investidores: normalmente, aforrar para a reforma. O período de investimento médio (ponderado pelos ativos geridos) de um gestor de ações americanas é de apenas 2,8 anos. Ainda que isto se enquadre bem com um período de rentabilidade de entre um e três anos, não é coerente com os objetivos a longo prazo dos investidores”, conclui.

A conclusão a que isto nos é leva é que, para que o investidor final seja capaz de “espremer” o fundo, o mais importante é que o seu horizonte de investimento esteja alinhado com o do gestor e que se torna vital ser capaz de suportar os períodos de volatilidade que, quase com toda a segurança, irão surgir no caminho. E, para conseguir isto, é fundamental contar com uma boa assessoria, algo que, segundo Aitor Jauregui, responsável da BlackRock para Portugal, Espanha e Andorra, ficou demonstrado nesta crise. “Os clientes assessorados superaram melhor este contexto do que aqueles que, de maneira discricional atuaram com comportamentos impulsivos. Choques de mercados vão continuar a haver. O importante é entender quais são os objetivos de investimentos”.