O que é o Dornbusch Effect?

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Antes de tomar qualquer decisão de investimento é importante ter em conta diversas variáveis. Algumas delas não são fáceis de prever. É o caso da evolução do preço do petróleo. Existem entidades que, publicamente, não chegam a fazer qualquer projeção relativamente à evolução do preço do crude, apesar das importantes implicações que o custo do ouro negro pode ter para os investimentos. Um preço mais alto ou mais baixo condiciona significativamente o crescimento económico de um país ou região, afetando os fundamentais das empresas e condicionando o preço de todas as classes de ativos. A questão é que existem formas de construir modelos que ofereçam aos investidores níveis de referência que permitam inclui-lo nos seus cálculos. Foi o que fizeram Vincent Reinhart, economista-chefe da Standish, filial da BNY Mellon IM, e Carmen Reinhart, economista e professora em Harvard, num estudo académico que foi recentemente publicado no Project Syndicate.

Project Syndicate é uma publicação bastante reputada na indústria. Nela escrevem prémios Nobel e profissionais prestigiados sobre diferentes temas. Vincent Reinhart e Carmen Reinhart publicaram um estudo académico, de apenas duas páginas, que aborda a relação entre o dólar e o preço do petróleo. A ideia de analisar este tema partiu de um debate na Standish entre a equipa de divisas e a equipa encarregada de analisar as matérias-primas. Esta última pensava que o preço do petróleo subiria até aos 60 dólares, mas que o seu valor não ultrapassaria esse patamar. No departamento de análise de divisas, por outro lado, consideravam que o seu valor superaria essa cota por causa do Dornbusch Effect e o impacto que a depreciação do dólar teria sobre o preço do barril. No final, quem acabou por ter razão foi a equipa de análise de divisas.

No seu paper académico, Vincent Reinhart e Carmen Reinhart explicaram a estreita relação existente entre a evolução do dólar e do crude, a qual acabou por se denominar de Dornbusch Effect. Este efeito diz que, assumindo sempre que nada mais se altera, quando o dólar baixa o preço do petróleo sobe. Historicamente, isto tem sido sempre assim. Mas, porque razão um dólar mais barato pode resultar num crude mais caro? Qual é a relação? Segundo explicam, quando o dólar cai, o resto do mundo tem maior poder de compra em dólares. E, uma vez que tem maior poder de compra, consome mais, isto é, procura mais bens e serviços. Para produzir esses bens e serviços, é necessário energia, o que significa que a procura por petróleo sobe. Mas, ao mesmo tempo, a oferta de petróleo reduz, porque 90% da produção de crude é feita fora dos Estados Unidos.

Para produzir um barril de petróleo, os produtores fora dos Estados Unidos têm que assumir os custos em dólares, mas também em moeda local. Aos empregados que extraem o petróleo o salário é pago em divisas dos seus países – na Noruega, por exemplo, são pagos em coroas norueguesas. Continuando com este exemplo, no caso da coroa norueguesa subir face ao dólar, o custo de produzir um barril de petróleo em dólares aumenta. E, se o preço do petróleo não variar, a margem de rentabilidade para o produtor baixa. Quando isto sucede, os produtores investem menos nesse negócio. E, se se investe menos, a produção de petróleo no futuro será inferior. Consequentemente, isto faz com que a oferta esperada do petróleo no futuro seja mais baixa. Portanto: se a procura aumenta e a oferta desce, o preço do barril sobe.

A história demonstra que isto tem sido sempre assim: sempre que o dólar deprecia, o preço do barril de crude sobe. Vincent Reinhart e Carmen Reinhart o que fazem no seu estudo é revelar o porquê. “É certo que existem factores que, estruturalmente, pesam a longo-prazo sobre o preço do petróleo, como o gás de xisto ou a aposta de muitas economias desenvolvidas em energias limpas. No entanto, hoje é difícil fazer prognósticos de quando teremos um mundo com meios de transporte e maquinaria totalmente impulsionados por energias alternativas, pelo que a curto prazo o Dornbusch Effect e o facto dos países produtores de petróleo, à exceção dos Estados Unidos (OPEP e Rússia), quererem que o preço suba poderá ter um efeito mais claro sobre a evolução do preço, o qual acreditamos que vai continuar a subir”, afirma Federico García Zamora, membro da equipa de divisas da Standish. Este estava na equipa que acertou no seu prognóstico.