O que é necessário para garantir a sobrevivência do euro?

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Cedida

As perspectivas de curto prazo para a Zona Euro continuam fracas, com um melhor crescimento a ser urgente, mas Keith Wade, economista-chefe da Schroders, encontra motivos para acreditar que na viabilidade do projecto europeu, olhando para lá dos desafios cíclicos mais próximos.

"O 'outlook' de curto prazo para a Zona Euro continua fraco, com as mais recentes previsões do Fundo Monetário Internacional a mostrarem 2013 como mais um ano de produção em quebra na região. Um melhor crescimento é desesperadamente necessário e justifica-se um maior apoio cíclico, através de um aliviar da política monetária, embora existam obstáculos estruturais a um crescimento mais sólido", refere Keith Wade, no Talking Point, divulgado esta segunda-feira.
 
O economista considera que existem duas áreas que a Zona Euro precisa de tratar, podendo ambas "ser vistas como falhas no desenho da moeda única, embora não sejam exclusivas" da região. Uma dessas áreas "era previsível antes ainda da moeda única ter existido e é a divergência na actividade económica, que resulta de uma política monetária de 'uma medida serve a todos'".
 
Tendo abolido as suas taxas de câmbio, as nações periféricas têm lutado para reconquistar competitividade, sublinha, e os desequilibros persistiram. "Apesar de recentemente ter havido uma redução nos desequilíbrios comerciais, isso tem sido resultado da recesão e cortes selvagens nas importações na periferia, uma situação que não é sustentável". Uma convergência duradoura entre as economias da Zona Euro "provou ser ilusória", diz.
 
Enquanto podemos eventualmente chegar a ter "uma união política e um Tesouro comum para a Zona Euro, não há mandato para tal no presente", pelo que "temos de encontrar outras formas de redistribuir os ganhos e as perdas". Uma das formas de ficar mais próximo de uma união fiscal, refere, " seria emitir 'Eurobonds', mutualisando efectivamente a  garantia sobre a dívida pública de países da zona euro".
 
A segunda falha, que não foi antecipada antes da criação do euro, refere o economista, é  "o facto que os bancos e das suas soberanias estão intrinsecamente ligadas, de tal forma que as suas dívidas precisam ser consideradas em conjunto e não em separado". E, tanto bancos como países "têm potencial para provocar a queda um do outro e a Zona Euro já teve ambos os casos.  Para Keith Wade tem sido provado que é muito difícil quebrar esta ligação e uma das formas de parar com os 'loops' de 'feedback' negativo "seria construir uma união bancária, o que poderia criar um nível equitativo em toda a Zona Euro e ajudar a quebrar o ciclo vicioso".
 
Parece ser o sentido em que estamos a caminhar, refere, e já foram feitos progressos, mas  "as questões mais importantes envolvem a organização de um mecanismo de resolução quando os bancos falham e a natureza da garantia de depósitos. Nenhuma foi definida".
 
E questiona: "Devemos estar optimistas acerca da capacidade do euro para responder a estas duas falhas? [...] Provavelmente não. Ambas as soluções propostas envolvem alguma forma de união fiscal e a Alemanha já excluiu qualquer subsidiação cruzada. Poderá haver progressos na união bancária, apesar de a Alemanha ter deixado claro que deverá lidar apenas com problemas de legado novos".  Mas, sublinha, tal não significa o fim do assunto. "À medida que a crise do euro foi evoluindo tornou-se cada vez mais evidente que a Europa faz progressos através de uma série de crises. Apenas quando confrontados com a perspectiva de o sistema colapsar descobrimos o que é uma linha inegociável na areia de uma posição negocial ["what is a non-negotiable line in the sand of a bargaining position"], diz. E, acrescenta, "como os mercados financeiros descobriram, a diplomacia arriscada é parte integrante da política e, como tal, do processo de resolução".
 
Contudo, um dos efeitos paralelos da política do BCE de inundar os mercados com liquidez e reduzir a volatilidade do mercado, tem sido, refere, "a redução do risco de uma crise. Os 'spreads' das obrigações dos periféricos continuaram a apertar com os investidores à procura de 'yield', acreditando que o BCE está por trás deles. Sem dúvida que tal acção criou um espaço para respirar, para o euro, que era muito necessário, mas removendo o perigo de uma crise retirou a pressão sobre os governos para actuarem".
 
Keith Wade diz ainda que tanto a Alemanha como Benelux, Finlândia e França beneficiaram dos ganhos comerciais criados pela moeda única e "estão agora a beneficiar indirectamente da cise através de níveis de taxa de juro extraordinariamente baixos". E salienta que, o caminho para o euro sustentável irá requerer persuadir estes países 'core' a "abdicar de alguns destes ganhos em taxas para um maior crescimento e um euro estável no médio prazo".