O que direciona os lucros na Ásia?

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Cedida

Falar do tempo é sempre uma boa maneira de iniciar uma conversa e de “quebrar o gelo”. Ora a Europa teve um verão quente sem precedentes e a Ásia também. Só nos EUA é que se pode dizer que o tempo continuou o mesmo... à semelhança de outro ponto em específico, começou por “ironizar” Medha Samant, investment director de ações asiáticas na Fidelity International, numa recente exposição sobre a situação macro na Ásia perante uma plateia repleta de investidores na Fundação Calouste Gulbenkian.

Mas o que é que se manteve inalterado, também, nos EUA, para além do tempo? O mercado de ações. “O que vimos, em termos genéricos, é que há algum tipo de irregularidade que chegou ao mercado, levando a algum descontentamento naquele que foi um verão bastante barulhento. Apesar de todos os riscos existentes e dos novos riscos a emergirem em cena, os mercados aguentaram-se, especialmente na Ásia”, introduziu a especialista. O que na opinião de Medha Samant está verdadeiramente a emergir na Ásia são três diferentes conjuntos de drivers. “O primeiro é o renovado ênfase nas empresas asiáticas mais inovadoras que usam tecnologia, algo que tem sido conduzido pela região da Grande China; o segundo driver prende-se com o cenário ao nível do capital humano e das fábricas que tem sido dinamizado pela Índia e pela região Asean; por último, com os riscos ligados às eleições fora do caminho, e com a liderança política na Ásia a manter-se, existem novos países a beneficiar dos tailwinds globais, como é o caso do Vietname”, atestou.

Valuations: mudança?

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O gráfico acima, tal qual apresentado, tem sido um habituée nas apresentações da especialista. Tal não é de estranhar, pois como enfatiza Mheda, “nada mudou”. “A Ásia continua a ser bastante atrativa em relação aos mercados desenvolvidos. O que as valuations nos dizem é que a maioria dos riscos já estão considerados nos preços. Quando se desconstrói as valuations e se olha para as partes individuais da Ásia conseguimos ver uma tendência muito interessante: as valuations movem-se em linha com os fundamentais das economias. Quando se olha para os mercados asiáticos mais caros, como são a Asean, a Índia, as Filipinas e a Indonésia, esses preços são justificados pelo crescimento que foi criado internamente”, pontualiza.

Na região da Grande China, por sua vez, os impactos da guerra comercial entre EUA e China poderá ser uma faca de dois gumes. “Tratam-se de países muito exportadores e, por isso, serão potenciais impactados pela trade war. Também significa que qualquer sentimento positivo que se registe a esse nível poderá fazer com que as valuations subam tremendamente. Os países que serão impactados pelos estímulos da China serão mercados como Taiwan ou a Indonésia; mercados onde uma grande parte do benchmark são empresas de materiais que exportam para a China”.

Mas o que direciona os earnings na Ásia?

Numa espécie de resumo, Medha Samant sistematizou aquilo que verdadeiramente está a conduzir os lucros das empresas na Ásia. Em primeiro lugar, e como já referido, algum relaxamento no confronto entre os dois gigantes económicos, mas, por outro lado, “ventos” provenientes da cadeia de fornecimento tecnológico. “Os nossos portfolio managers estão a subponderar em termos genéricos a tecnologia nos portefólios de Ásia, mas, ainda assim, continuam a ter exposição a algumas empresas em termos individuais. Quando olhamos por exemplo para as empresas de fornecimento DRAM e para os seus preços, vemos que há algum espaço para uma re-classificação em alta. Pela primeira vez vemos empresas como a SK Hynix and Samsungs electronics (empresas de DRAM) nos nossos portefólios, muito embora em termos genéricos o sector da tecnologia esteja a ser subponderado”, concluiu.