O que deve ter uma gestora atualmente para alcançar o êxito?

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patentboy, Flickr, Creative Commons

A concentração no sector acelera-se. 2015 foi um ano em que a famosa "frase the winner takes it all" se viveu de uma forma mais acentuada na indústria. É uma tendência que se produz em ambos lados do Atlântico, mas é nos Estados Unidos que se chegou a um ponto mais tépido. Na região, 75% dos fluxos líquidos positivos recebidos pelo total das entidades que no ano passado registaram entradas de dinheiro, concentraram-se em dez entidades, segundo dados do relatório anual publicado pelo The Boston Consulting Group. Um ano antes essa percentagem era de 68%. Na Europa a tendência é menos pronunciada, embora também evidencie uma clara inclinação para a concentração. As dez entidades que mais fluxos líquidos positivos absorveram 35% do total, quatro pontos mais do que um ano antes. Os fluxos líquidos na Europa estão menos concentrados devido ao facto de se tratar de um mercado mais fragmentado no qual, para além disso, existem diferenças regionais ao nível da distribuição.

Do estudo realizado pela consultora americana podem extrair-se várias conclusões. A primeira é que, neste contexto, a BlackRock, Vanguard e Deutsche Asset Management são as entidades que mais êxito estão a ter na hora de atrair fluxos líquidos de dinheiro. São as únicas entidades que aparecem no top 10 de entradas líquidas em 2015, tanto no ranking dos Estados Unidos como no da Europa. As três têm em comum o facto de terem conseguido posicionar-se como entidades de referência na comercialização de produtos de gestão passiva. As gestoras que fabricam produtos beta estão a captar uma parte cada vez mais importante dos fluxos totais do mercado, o que acelera a tendência para a concentração. Nos Estados Unidos, cinco das 10 entidades que mais entradas líquidas receberam em 2015 são entidades com uma importante oferta de produtos passivos. Tratam-se concretamente da Vanguard, BlackRock, Charles Schwab, WisdomTree e Deutsche AM. Na Europa ocorre o mesmo e metade das gestoras do top 10 comercializam produtos passivos (ver tabelas).

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As casas de beta estão bem estabelecidas e têm mais êxito em termos de fluxos líquidos dada a cada vez maior sensibilidade dos investidores ao custo do produto. No entanto, os fluxos históricos confirmam que a indústria está a migrar para modelos de negócio distintos e que, para se ter êxito, não é imprescindível dispor de produtos de gestão passiva. “As vantagens competitivas para que uma gestora tenha êxito estão na comercialização de fundos de gestão passiva, mas também em dispor de uma rede de distribuição muito potente, fornecer uma oferta diferenciada de produtos de geração de alfa, ou uma combinação de todos estes factores. Estas são as dinâmicas que explicam a concentração dos fluxos a que estamos a assistir”, assinala a consultora no seu relatório.

A questão é que não se deve confundir a concentração com a exclusividade da concentração. Ou seja: as gestoras do top 10 por captações nem todos os anos estão no top 10. “É muito destacável o número de entidades novas que entraram nos dez primeiros postos do ranking dos EUA (cinco em 2015 e quatro em 2014). Isto demonstra que o êxito não é uma questão hereditária de escala”, apontam. De acordo com a consultora americana, existem oportunidades para que as gestoras de ativos tenham êxito, independentemente de qual seja o seu tamanho ou dos rankings históricos. “Em alguns mercados, algumas entidades estão a conseguir tirar vantagem dos seus concorrentes mediante a construção de mecanismos de distribuição, como aconteceu recentemente na China”, dizem.

Os pontos chave para ser um vencedor

Do The Boston Consulting Group revelam que a sofisticação na análise e as capacidades no big data fornecerão vantagens competitivas adicionais na distribuição. “As casas mais poderosas a nível de distribuição vão necessitar de dispor de ferramentas de análise que estejam na vanguarda para redefinir as suas estratégias de vendas e de marketing. A sofisticação nas análises de marketing, um maior conhecimento dos seus atuais e futuros clientes, assim como dos consultores, permitirá às entidades expandir as suas oportunidades de vender ao mesmo tempo, em vez de concentrarem tempo e recursos nas áreas mais promissoras de negócio, o que aumentará as probabilidades de acertar e ter êxito”, explicam.

As gestoras que o consigam poderão beneficiar de um modelo que tem por base dispor de mais de uma vantagem competitiva (ser uma boutique geradora de alfa, uma fábrica de produtos beta ou  terem poder de distribuição), embora em última análise o seu êxito vá estar mais estreitamente vinculado a uma vantagem em concreto. “Não esperamos que as entidades que têm por base a combinação de mais do que um factor alcancem o êxito, a menos que sejam grandes entidades independentes. As gestoras devem avaliar qual é o seu lugar neste terreno de jogo, e determinar que modelo lhes encaixa melhor para alcançar o êxito. Os seus investimentos e esforços na hora de reforçar determinadas áreas deveriam vir alinhados com este objetivo.

Para algumas entidades, isto poderá requerer uma mudança muito importante na sua mentalidade, cultura e enfoque. “Por exemplo: dada a importância de contar com uma determinada escala, e uma boa equipa para gerar alfa, as boutiques deverão centrar a sua atenção e esforços na gestão do dinheiro, nos riscos e nos clientes. Deveriam evitar distrações de outro tipo de operações ou atividades que se centrem no que é estritamente o núcleo do seu negócio, como é o caso do departamento financeiro, dos recursos humanos ou da infraestrutura tecnológica”, indicam no relatório.