O que ‘correu mal’ nos fundos de ações nacionais e ibéricos? A resposta é na primeira pessoa

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Rafa Puerta Photo, Flickr, Creative Commons

2014 terminou a ser apelidado de um ano “desfavorável” para os fundos de ações nacionais e ibéricas. No entanto, como recorda Catarina Quaresma Ferreira, gestora dos fundos BPI Portugal e BPI Ibéria, da BPI Gestão de Activos, “o primeiro semestre de 2014 foi marcado por uma recuperação da economia portuguesa e pela saída do programa de ajustamento, os quais reforçaram a confiança no mercado de acções e dívida português”. A “história” que se segue nos restantes meses do ano é mais do que conhecida e quase que se resume a dois nomes: BES e Portugal Telecom.

Dados da APFIPP de 31 de dezembro mostram que a rentabilidade média dos fundos de ações nacionais no ano passado ficou-se pelos -12,11%, um número que contrasta fortemente com os resultados dos primeiros seis meses do ano, em que os fundos de ações “se consagravam líderes” em rendibilidades. No entanto, muitos são os gestores que fazem questão de afirmar que “a rendibilidade de todos os fundos de ações nacionais, apesar de negativa, ficou bem acima do PSI 20”, aponta Pedro Pintassilgo, gestor do Millennium Acções Portugal da Millennium Gestão de Activos.

Problemas: BES/GES, Portugal Telecom e Mudanças de gestores

Nuno Marques, gestor do Banif Acções Portugal e do Banif Ibéria, da Banif Gestão de Activos, lembra e resume que o “ano de 2014 ficou marcado por eventos muito importantes para a bolsa de Lisboa, como a falência do GES, que justificaram a disparidade de rentabilidades entre o PSI-20, que desvalorizou 26,8%, e o IBEX, que subiu 3,66%”. Já Paulo Monteiro, da Invest Gestão de Activos, refere também que uma das condicionantes para o fundo da casa, Invest AR Medias Empresas Portugal, foi “a queda violenta das acções da Portugal Telecom e dos restantes bancos”.

Pedro Pintassilgo vai mais longe e acrescenta que os eventos no BES/GES e na Portugal Telecom tiveram também um “efeito corrosivo na confiança dos agentes económicos na bolsa nacional penalizando genericamente a praça portuguesa”. Para além disso, menciona a importância “da mudança dos gestores em dois dos mais importantes fundos que investem na Ibéria (Bestinver e Fidelity), que provocaram resgates significativos penalizando as cotações de várias ações nacionais”.

As estratégias dos gestores

Perante as condicionantes referidas, a generalidade das entidades fala de uma inevitável redução de exposição a determinados títulos. No caso do Santander Acções Portugal, Diogo Pimentel gestor do produto da Santander Asset Management, indica que o “modelo de gestão manteve-se inalterado e em linha com a política de investimento seguida nos últimos anos”, refere.

Realçando que perante o contexto acima enunciado, muito dificilmente “as ações portuguesas poderiam ficar imunes aos desenvolvimentos que tiveram lugar em 2014”, Catarina Quaresma Ferreira salienta que a estratégia passou precisamente por diminuir “o peso de algumas posições e reduzir o risco geral da carteira como um todo”. Jorge Guimarães, por seu lado, salienta que no caso do fundo ibérico da Banif Gestão de Activos, “reduziram a exposição ao mercado acionista nacional”, sendo “a componente de banca do fundo gerida de forma táctica, em função da evolução dos acontecimentos”. Explica que “ao longo do ano o posicionamento foi alterado, de um enviesamento para empresas cíclicas e com maior exposição doméstica (em Portugal e Espanha) para um posicionamento em empresas que beneficiam da queda das yields, como por exemplo as concessões”.

No caso do Banco Invest, a exposição às ações da PT também foi reduzida, e, segundo Paulo Monteiro procurou-se posicionar o fundo em torno de três temas. Em primeiro lugar a “depreciação do Euro e empresas potencialmente beneficiadas por via das exportações; o segundo tema tem a ver com “a recuperação da procura interna nacional”. Seguindo-se por fim, a “redução do prémio de risco da República”. No caso do Millennium Acções Portugal, Pedro Pintassilgo indica que “se procurou manter uma diversificação sectorial e específica adequada, altos níveis de liquidez, bem como uma exposição a ativos com elevado valor fundamental”.

Leia amanhã na Funds People o artigo referente às estratégias de investimento dos gestores de ações nacionais e ibéricas para 2015.