O que aprendemos com a liquidez nesta queda dos mercados

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Beverly & Pack, Flickr, Creative Commons

A magia da liquidez é a que só existe quando menos se necessita. Os investidores em obrigações conheceram numa questão de semanas o quão verdadeiramente bruta pode chegar a ser a realidade de uma seca do mercado; de querer vender e simplesmente não poder. “Até nas obrigações com investment grade quando queríamos vender, mesmo com um desconto razoável, na prática havia uma grande diferença entre o preço que marcava o ecrã da Bloomberg e o que era oferecido”, recorda Frank Dixmier, diretor global de obrigações da Allianz Global Investors. Não só foi devido ao salto na volatilidade dos mercados, mas também à rapidez com que secou, curiosamente, mais no segmento das obrigações com investment grade do que em high yield.

Falou-se muito sobre o que acabamos de viver - a queda mais rápida da história nas ações-, mas a correção não ignorou as obrigações. A violência do alargamento dos spreads, tanto em investment grade como em high yield, reflete-se muito bem nos gráficos seguintes.

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Segundo o especialista, esta crise de liquidez explica-se por dois fatores. Primeiro, pelos números recorde de saídas de capital do crédito, em níveis históricos. Segundo, porque a banca tem menos capacidade para assumir o seu papel como agente no mercado.

E daí a importância do papel dos bancos centrais. Nestas semanas, vimos entidades monetárias desafiarem aqueles que alegaram ter ficado sem balas. Por exemplo, pela primeira vez na sua história, a Reserva Federal facilitará o financiamento de emissões corporativas.

Na opinião do especialista, os bancos centrais focam-se em dois objetivos:

1. Garantir a transmissão fluída da sua política monetária mediante o funcionamento correto dos mercados;

2. Tornar-se uma espécie de comprador final da grande quantidade de dívida que os governos vão emitir.

“Estamos no mundo do “Whatever it takes” quanto à política monetária, mas, mais relevante ainda, também num mundo do “Whatever it costs”, afirma Dixmier. Isto é, os governos a nível global preparam-se para lançar as suas próprias bazucas de estímulos. No seu caso, fiscais, o que fará explorar o gasto público. E por isso é que é tão importante o papel dos bancos centrais como o do comprador final.