O QE chega ao fim na Europa: as primeiras reações das gestoras

parlamento europeu; mario draghi
European Parliament; flickr

Tal é o grau de preparação com que os bancos centrais preparam os mercados que uma reunião tão importante como a de hoje na Europa aconteceu sem o mínimo sobressalto na bolsa, nos obrigações ou no euro. Como o consenso já esperava, o Banco Central Europeu pôs fim ao seu programa de compra de ativos na última reunião de 2018. Quase quatro anos e 2,6 mil milhões de euros em obrigações depois, o QE chega ao fim.    

 

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Este é apenas o primeiro passo na rampa de lançamento dos estímulos monetários na Europa: as taxas têm-se mantido nos 0% e a taxa de depósito nos -0,4%. Também não significa que vão desaparecer do mercado. Tal como a Reserva Federal, continuará a reinvestir o capital que receber com o vencimento da dívida comprada através do programa.

“A decisão de parar a flexibilização quantitativa é claramente um marco chave no longo caminho do BCE para a normalização da sua política”, resume Anna Stupnyska, economista global da Fidelity Internacional. “Mais do que isso: no processo seguido até este ponto, o BCE conseguiu evitar as birras e outras interrupções do mercado graças a uma hábil navegação por um difícil contexto económico”.

Paul Diggle, economista sénior da Aberdeen Standard Investments mostra-se mais crítico: “A decisão de pôr fim ao QE tem agora mais a ver com política do que com economia”. Na sua opinião, a liquidação das compras de ativos agradam aos hawkish do Conselho de Governação, particularmente aos alemães. “Se fecharem os olhos com muita força, os dados económicos podem justificar a decisão”, ironiza. “Apesar de ser muito provável que as novas previsões económicas impliquem revisões em baixa, o banco central ainda tem grande esperança de que apareçam pontos de crescimento e a inflação subjacente aumente à medida que aumentem os salários”. Mas, para o economista, ambas as expectativas são demasiado otimistas quando se considera aquilo que se está a passar no mundo e especialmente na Europa. “Suspeito que agora Draghi nunca poderá aumentar as taxas”, assegura.

E agora?

“Descobrimos uma nova espécie no Conselho: a "pomba" otimista”, declara Bart Hordijk, analista da MONEX EUROPE. Draghi demonstrou uma vez mais a variedade de tons das suas plumas ao transmitir uma mensagem dovish, mas continuamente a guiar a atenção para o lado bom das coisas. O especialista é bastante crítico com o desfecho do programa de compras. “Apesar da sua tentativa de otimismo, Draghi não pôde evitar a realidade de que o QE do BCE termina com um tom triste, não com o bang glorioso que se esperava”.

O debate centra-se, então, sobre a primeira subida de taxas na Europa, algo que Valentin Bissat, economista sénior e estratega de investimento na Mirabaud Asset Management, espera que aconteça, pela primeira vez em oito anos, durante o último trimestre de 2019. Agora fica por perceber que efeito terá (se é que terá) esta subida nas compras de ativos, e que outras ferramentas poderá o BCE ter que empregar se a debilidade económica continuar em 2019. “Mas, por enquanto, Mario Draghi pode respirar com algum alívio: a flexibilização quantitativa terminou e os mercados não entraram em pânico”, conclui Stupnytska. São perguntas que Diggle gostaria de ver respondidas. “Tudo o que vimos é que a reação vai ser lenta. O BCE sempre foi lento a flexibilizar e rápido a endurecer a sua política monetária”, afirma. “Sabe que apenas pode ganhar o apoio do Conselho de Governação para atuar caso a situação económica se agrave bastante. Por agora, estamos um pouco longe desssa situação e, para além disso, a influência de Draghi reduzir-se-á gradualmente à medida que a sua saída do BCE se aproxime, em outubro do próximo ano. A única opção real que lhe resta, no caso da economia se agravar, é modificar a linguagem do banco sobre a política futura”, acrescenta.

Mesmo com a primeira porta fechada há quem já procure novas janelas. Na opinião de Patrice Gautry, economista chefe da Union Bancaire Privée (UBP), o BCE está a preparar-se indiretamente para gerir um maior risco no ano que vem, no caso do abrandamento em 2018 não ser apenas temporal, mas sim permanente. “Qualquer subida nas taxas seria atrasada e outras medidas de liquidez (TLTRO) poderiam voltar ao de cima”, assegura o especialista.