“O potencial para se conseguir retornos elevados através dos mercados emergentes em moeda local ainda existe”

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Cedida

Os mercados emergentes parecem ter entrado, mais uma vez, em estado de graça. Angus Bell, portfolio manager de emerging market debt strategies da Goldman Sachs AM, e responsável pela estratégia Blockbuster e Consistente Funds People GS Emerging Market Debt, falou à Funds People Portugal precisamente sobre essa boa forma dos países emergentes, e sobre a especial atratividade no campo obrigacionista. “Foi um ano incrível para os ativos dos mercados emergentes em geral, mas em particular no que toca ao espaço da dívida emergente. O índice de hard currency cresceu em torno dos 9% no ano, enquanto que o índice em moeda local cresce atualmente acima dos 14%”, introduz de forma positiva.  

Tal desempenho, para o profissional, está suportado por vários factores, mas em particular por medos que se mostraram infundados. “A performance dos mercados emergentes, desde início de 2017, viu-se afectada por alguns medos que se tornaram riscos. A forma como Trump iria levar a cabo as suas propostas, e os impactos que estas teriam nos mercados emergentes - particularmente no que toca a algumas políticas protecionistas, e ao impacto que teriam na negociação global – foram determinantes”, indica. Acrescenta que a falta de sucesso da administração norte-americana na implementação destas medidas acabou por “aliviar de certa forma os medos dos mercados no que toca ao impacto na negociação global”.

Aliados a estes medos infundados, factores estruturais, como os dados recentes referentes às exportações dos mercados emergentes, “provam precisamente um crescimento”, que é também suportado pelos níveis positivos do índice PMI de produção industrial.

Emergentes na mira dos europeus

O rally dos mercados emergentes foi claramente um dos grandes ‘hits’ do verão. Essa boa performance, na perspetiva de Angus Bell, levou a um alargamento da procura por ativos emergentes, “que tem sido claramente conduzida por investidores europeus”, que têm vindo a sofrer “com yields baixas durante um longo período de tempo”.

Este regresso dos investidores ao espectro dos emergentes, para o especialista, prende-se apenas com uma razão: as valuations. Embora as perspetivas de retorno para o médio prazo sejam atualmente “simpáticas” para a dívida de mercados emergentes, o portfolio manager deixa um aviso: “É importante dizer que os investidores têm de se  habituar a refrear as suas expectativas de que determinadas classes de ativos conseguirão retornos de dois dígitos como há algum tempo atrás”.  

Hard currency vs local currency

No curto prazo, Angus Bell acredita que o “potencial de se conseguir retornos elevados através dos mercados em moeda local ainda existe”, pois “a moeda dos mercados emergentes locais continua a ter uma performance interessante relativamente ao dólar, em 2017”. No entanto, a moeda local continua a requerer atenção redobrada, por vários motivos.  “O espaço para os ativos em moeda local é mais concentrado, pois existem menos de 10 países no índice em moeda local comparativamente com o índice em moeda forte, que apresenta mais de 60. Isto faz com que os eventos idiossincráticos tenham um impacto mais material no que toca à moeda local”, avisa o especialista.

No segmento de hard currency, por seu turno, há vários países que despertam o interesse do especialista, dos quais são exemplos a Indonésia, a Turquia ou a África do Sul. Especificamente sobre a Indonésia, destaca os seus “níveis de dívida governamental pouco elevados”, “um orçamento de risco bastante balanceado”, “o crescimento a rondar níveis de 5%”, e também o facto do governo estar a “implementar um leque de medidas reformativas muito importantes, que no médio/longo prazo serão significativas no impacto para a economia do país”.  

O fundo com Selo Funds People

Relativamente ao fundo Blockbuster e Consistente Funds People GS Emerging Market Debt (estratégia em moeda forte), o especialista começou por referir que são essencialmente gestores fundamentais, o que significa que dão bastante importância “a uma determinação apropriada do risco que devem tomar, de forma a serem compensados por investir em cada um dos países”. Explica que na Goldman Sachs AM dispõem de “um grupo de economistas totalmente dedicado a obrigações soberanas, atentos a cada um dos países de forma individual e encarregues de determinar a que nível de spread sairão compensados”.

Resume a filosofia de investimento de forma peremptória: “Não nos limitamos a perceber se gostamos ou não de um país. Queremos sim perceber como é que seremos pagos por fazer um determinado investimento, tendo em conta os riscos subjacentes”.

Sobre o atual posicionamento do portefólio mostra-se cauteloso, e admite que “não querem tomar nenhuma posição agressiva no que toca aos spreads”. Explica que “tendo em conta uma subida moderada das atuais taxas de juro nos EUA”, têm cortado ligeiramente a duração do portefólio, pois “os ativos emergentes têm uma reação mecânica às mudanças na curva das treasuries”. Embora denominado em hard currency, este BC Funds People apresenta a particularidade de poder investir em moeda local. “Essa flexibilidade é importante. O fundo é uma estratégia guiada por um benchmark global diversificado, mas temos também uma modesta percentagem de dívida local e de empresas, o que expressa a nossa visão ativa relativamente às moedas”, remata.