O poder das megatendências

Toby Gibb
Vítor Duarte

É inegável que as megatendências são poderosas e capazes de transformar a economia global, os negócios e a sociedade. É precisamente este o ponto que Toby Gibb, Head of Investment Directing, Equities na Fidelity International, em entrevista à Funds People, começa por referir. “As megatendências também influenciam as nossas decisões de investimento – desde os negócios, as indústrias e os países onde investimos, até à forma como procuramos as oportunidades.”

Entre as principais megatendências atuais estão o envelhecimento da população, o crescimento dos mercados emergentes e as mudanças climáticas e, de acordo com o profissional, por serem temas estruturais de longo prazo, oferecem oportunidades de crescimento previsíveis. “Sabemos que estes desenvolvimentos vão mudar o mundo, mas nem sempre sabemos como é que o ambiente competitivo se vai desenvolver e quais as empresas que vai beneficiar”, refere Toby Gibb. Para o profissional, no que diz respeito ao investimento em tendências temáticas, paciência e a tomada de decisões informadas são a chave.

Demografia em destaque

Quando questionado sobre o motivo para a demografia ser uma das principais megatendências que irá impactar os nossos investimentos, Toby Gibb referiu que no momento de incerteza macroeconómica e política, a demografia saltou à vista em termos de previsibilidade. “Ao contrário dos ciclos macroeconómicos e do sentimento do investidor, as mudanças a longo prazo na demografia podem ser previstas com um grau maior de confiança. A demografia tende a ter um impacto profundo nas oportunidades de investimento”, menciona o especialista.

Como exemplo, Toby Gibb utilizou a população mundial, que atualmente conta com 7.7 mil milhões de habitantes, e que em 2050 contará com mais dois mil milhões, principalmente em África e na Ásia, e refere que, no fim do século, 89% da população mundial irá morar naqueles que, hoje em dia, consideramos ser os mercados emergentes.

O profissional indica também que, entre 2015 e 2030, prevê-se que o número de pessoas com mais de 60 anos Toby Gibbcresça 56%, com o número de idosos a crescer mais rápido do que qualquer outra faixa etária. “As pessoas vão viver mais tempo em idade de reforma, o que vai resultar numa necessidade de mudanças em larga escala nas políticas governamentais. Isto também irá criar tensão nos serviços de saúde e fornecedores, com vários países a aplicar leis para assegurar que os idosos são devidamente apoiados. Temos uma visibilidade muito clara sobre os diferentes coortes de geração, o que tem implicações para os padrões de consumo nos próximos anos”, refere o profissional da Fidelity International.

Para Toby Gibb, esta megatendência divide-se em três subtendências: o envelhecimento da população, o crescimento da classe média e o crescimento da população. “Dentro destes três estão subtemas como a automação, o aumento do consumo de viagens e os desafios agrícolas. As três subtendências principais são constantes, mas os subtemas mudam com o passar do tempo”.

Investir numa megatendência

Segundo o profissional, os gestores do FF Global Demographics Fund, da Fidelity International, acreditam que vai mudar drasticamente a forma como vemos mundo. “Ao contrário dos ciclos macroeconómicos e do sentimento do investidor, a evolução das distribuições da população move-se lentamente, é longa em duração, altamente previsível e terá um impacto duradouro nas economias e negócios individuais”, conta Toby Gibb. Além disso, o especialista considera que as tendências demográficas e as mudanças nessas tendências moldam o consumo e os padrões de procura, o que terá um impacto significativo nos lucros das empresas. “Quando consideram potenciais oportunidades de investimento, os gestores de portefólio procuram títulos de empresas onde as tendências demográficas são o fator mais importante na criação de valor”, diz.

À medida que os investidores procuram investir numa tendência estrutural de longo prazo, o profissional revela que na Fidelity International acreditam que há sempre valor para quem está disposto a ser paciente e disposto a escrutinar mercado. “O processo de investimento é bem-estruturado, rigoroso e procura identificar e investir em empresas com potencial para gerar fortes retornos a longo prazo, nas várias geografias e sectores do mercado”, assegura.

Segundo conta o especialista, o FF Global Demographics Fund segue principalmente uma abordagem bottom-up, título a título, impulsionado pela convicção na empresa, e procura alavancar nas ideias de investimento mais promissoras geradas pela equipa de research global da Fidelity. “Os gestores do portefólio procuram empresas de qualidade que são definidas por fatores como as taxas de crescimento superiores em termos amplos e  as métricas de retorno mais elevadas, e mantêm-nas no longo prazo, explorando assim um certo curto prazismo do mercado”. Toby Gibb, refere também que o fundo tem uma elevada active share e baixa rotatividade e que ao longo do tempo mantém este ênfase em nomes de qualidade com perspetivas de crescimento sólidas.

Quanto ao posicionamento atual do fundo e às convicções dos gestores, Toby Gibb afirma que há algum tempo que atravessamos um ambiente de crescimento benigno, com taxas de juro a não subirem acima de determinados níveis, globalmente. O profissional refere que o consenso entre a maior parte dos investidores parece ressoar em torno do ambiente de ciclo tardio, enquanto algumas frações do mercado também acreditam que atravessamos um período de crescimento baixo e sustentável. “Escolhemos não ser regidos pelos ciclos económicos ou pelo sentimento do investidor - que normalmente são de curta duração -, mas preferimos focar-nos nos fundamentais subjacentes dos negócios. Períodos de elevada volatilidade suportam a importância de ter um processo de investimento focado na qualidade”, conclui.

Atualmente o fundo investe nos seguintes sub-temas: crescimento da população (7%); crescimento da classe média (57%); envelhecimento da população (30%); crescimento da classe média/envelhecimento da população (7%).