O fim da má fama das commodities

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Michael Cereghino (Avsfan118), Flickr, Creative Commons

“As commodities têm uma má reputação”, mas Matthew Michael, product manager de dívida de mercados emergentes e commodities, na Schroders, apresentou, no Centro Cultural de Belém e perante uma plateia de investidores, vários argumentos que atestam a atratividade da classe de ativos depois do longo bear market que alienou os investidores deste mercado. 

O especialista vê a maioria dos profissionais a utilizar as commodities como uma fonte de diversificação nas carteiras, mas a classe de ativos é famosa como hedge contra a inflação: “as commodities resultam bem num contexto inflacionário, visto que sendo um componente importante do cabaz de preços, formam a própria inflação”. “Preços mais altos do petróleo representam um maior custo na produção agrícola e de metais, pelo que os índices de preços do consumidor acompanham”, exemplifica. No gráfico abaixo está patente a rentabilidade das diferentes classes de ativos em diferentes cenários de inflação e a conclusão é evidente: “As commodities apenas se comportam negativamente quando a inflação está a em queda”.

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 “Quando olhamos para commodities pensamos também no sistema monetário”, acrescenta, esclarecendo que “quando vemos um aumento na oferta de dinheiro, vemos também, tipicamente, um aumento da liquidez, e se houver demasiado dinheiro em circulação, os investidores perdem a confiança nas obrigações e nas taxas de retorno reais e começam a olhar para os ativos reais, especialmente aqueles que são líquidos e tangíveis, e as commodities preenchem esses critérios”, explica Matthew Michael.

No entanto, a principal razão para investir em commodities é simples: “Estão baratas”. “Achamos que os preços das commodities vão subir em resultado da procura estrutural no longo prazo, mas estamos verdadeiramente preocupados com a oferta”, expõe o profissional.

A classe de ativos apresenta o atrativo adicional de ser negativamente correlacionada com os mercados de ações, como é patente no gráfico abaixo que mostra o comportamento histórico do S&P 500 e do índice de commodities S&P GSCI Total Return. No entanto, o profissional destaca algo ainda mais relevante: “o quão extrema se tornou a divergência das valuations”. 

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A carteira

Os mercados onde ‘temos’ que estar são os de energia, agricultura, metais preciosos e só depois, os metais básicos”, atesta Matthew Michael, acrescentando que o maior ponto de destaque no fundo Schroder AS Commodity é o facto de não ter ‘cash’: “Estamos completamente investidos”. “E quando no nosso portefólio se verifica que estamos investidos não só nas commodities, mas também em equity, isso significa que estamos incrivelmente ‘bullish’, e dá uma ideia do quão forte é a nossa convicção”, atesta o profissional. A 31 de maio, por exemplo, essa convicção era visível nos segmentos de petróleo e gás natural nos EUA, com as posições em equity do sector a representarem 4,2% e 3,2%, respetivamente.

No entanto, os últimos 18 meses não têm sido fáceis, com dois factores a pesarem significativamente no portefólio: a China e o dólar (recorde que já numa entrevista na revista Funds People do primeiro trimestre de 2016 o profissional destacou estas fontes de preocupação). “Em termos de taxa de câmbio efetiva real as duas moedas mais caras no mundo, nos dias de hoje, são o dólar e o renmimbi”, destaca. Porém, perante a incerteza acerca do destino da política monetária nos EUA, o profissional espera que “o dólar se mantenha flat ou perca valor no futuro próximo”, e isso seria positivo para as commodities. Esta ideia é suportada pelo gráfico seguinte que mostra a correlação negativa do dólar (trade weighted) com o ouro e petróleo.

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Já no que concerne à China, o product manager da Schroders vê que “um grande número de commodities que recuaram 50%, 60% ou mesmo 80%, já refletem no preço uma procura mais frágil da parte da China”. Todos os especialistas da Schroders que visitaram o país nos últimos seis meses voltaram com a mesma convicção: “nos próximos 12 meses a China deverá estar estável; não devemos assistir a nenhum evento dramático”. “O país está a imprimir bastante dinheiro, a amortizar dívida e a estender as maturidades, pelo que devemos esperar um crescimento mais lento, mas nenhum grande problema”, justifica.