O decálogo definitivo de riscos a ter em conta em 2018

11257309675_7f8f6f8ba1_z
www.twin-loc.fr, Flickr, Creative Commons

Ainda que os primeiros comentários sobre a forma como os investimentos devem ocorrer em 2018 sejam construtivos, também é certo que parte da mensagem das gestoras se concentrou à volta da presença de vários riscos herdados de 2017, como por exemplo a reversão da política monetária europeia ou as tensões geopolíticas em mercados emergentes. Esty Dwek Roditi, especialista de investimento da Natixis IM, elaborou um conciso decálogo com os riscos que julga mais importantes para o investimento neste ano que agora começou.

O primeiro risco é o de pensamento único, gerado pelo consenso. “Poucos pontos de vista (incluindo o nosso) divergem do consenso. Durante quanto tempo mais podemos estar todos no consenso? Se o mercado for complacente, o que irá acontecer quando acordar?”, questiona-se a especialista.

O segundo risco é que o crescimento pare. Roditi explica que “o principal fator que está a apoiar o rally (especialmente nas ações) é a convicção da continuação de um crescimento global robusto”. Portanto, questiona o que acontecerá se o crescimento previsto começar a cair ou se acontecer apenas numa das grandes regiões económicas.

É curioso que a especialistas não fale da normalização bancária até ao número três. Isto acontece devido ao facto de o mercado ter recebido avisos por parte dos grandes bancos centrais sobre os seus planos para eliminar estímulos. O que preocupa a especialista é que “se os bancos centrais se tornarem mais hawkish mais rápido do que o esperado, os mercados vão assustar-se”. No mesmo sentido, acredita que “se o BCE ficar sem obrigações e o QE acabar antes de setembro, isso também poderá assustar o mercado de obrigações, incluindo a high yield europeia”. A especialista também chama a atenção sobre o facto de que, à medida que os bancos centrais retiram as suas injeções de liquidez, incrementam os riscos sobre as empresas mais alavancadas.

A volatilidade é o risco número quatro. Roditi esclarece que na Natixis IM preveem que esta se incremente gradualmente; o que os preocupa é que “os mercados se tenham tornado de certo modo complacentes e, se experienciarem de repente muitas voltas violentas, o rally poderá estar em perigo”. A isto junta-se o facto de os riscos geopolíticos não terem desaparecido… ocupando os lugares oito e nove deste decálogo.

O quinto risco a ter em conta é que nenhuma classe de ativos – nem ações, nem obrigações – está barata atualmente. “As valorizações ajustadas podem começar a pesar sobre o sentimento de mercado, especialmente se o crescimento mostrar sinais de desaceleração”, explica a especialista. Insiste que é o crescimento que está a sustentar as bolsas, com a tese de investimento de que os lucros empresariais continuam em alta. “Ou seja, os mercados estão a ignorar as valorizações porque os lucros são fortes; mas se o apoio do crescimento diminui, os mercados podem voltar a ficar menos otimistas”, sentencia.

Os seguintes riscos desta lista são a combinação inflação + divisa dos Estados Unidos. O consenso de mercado é que a inflação se irá dirigir gradualmente até ao objetivo de 2% imposto pela Fed. “Mas se acontecer mais rápido ou chegar mais alto do que o esperado, o dólar poderá valoriza-se e, portanto, produzir-se um endurecimento das condições monetárias no resto do mundo”, explica a representante da Natixis IM, com enfoque especial nos emergentes.

Há também a questão de como se comportam as obrigações com maior maturidade. A especialista diz que não se moveram demasiado – acabaram em 2017 muito próximas de onde começaram – e que não devem subir muito mais se a previsão de inflação contida se materializar. “Mas se retrocederem repentinamente, os mercados podem assustar-se rapidamente”, adverte. 

Como referido, a especialista coloca em oitavo e nono lugar o retorno do populismo e a geopolítica, respetivamente. No primeiro caso, ainda que contate que a maior parte das eleições europeias tenham terminado com resultados favoráveis ao mercado, também recorda que os movimentos populistas não se dissolveram: “A Alemanha ainda não tem uma coligação, Itália tem eleições a caminho e o mesmo se passa com o México e mais países. O populismo ainda pode ter impacto sobre os mercados, mesmo que Le Pen se tenha mantido de fora”, adverte a especialista. No que respeita à geopolítica, limita-se a pronunciar uma lista de riscos latentes e imprevisíveis: Coreia do Norte, Rússia, uma guerra comercial, a renovação do limite da dívida dos Estados Unidos, as negociações do Brexit ou possíveis movimentos de Trump podem levar a que “algo mau suceda”.

A especialista em investimento situa em último lugar aquilo que denomina de “desilusão na revolução tecnológica”. Refere-se a que “as grandes empresas tecnológicas possam vir a deixar de ser vistas como criadoras de valor ou disruptoras positivas, o que leva a uma reversão do sentimento”. Tendo em conta que a FAANG concentra uma parte importante da capitalização do mercado, a especialista adverte que uma alteração de perceção negativa “também pode impactar todo o mundo”.