“Não tentamos replicar um índice, nem temos qualquer tipo de restrição”

Aymeric_Forest
Cedida

No passado mês de julho o conselho de Aymeric Forest, gestor da Schroders e responsável pelo fundo Schroder ISF Global Multi-Asset Income, era simples. Avisava que era necessário prestar mais atenção aos ativos de maior qualidade, não esquecendo os fundamentais. Passados oito meses o gestor da Schroders afirma que as recomendações mantêm-se. “Nós preferimos obter uma yield que é ligeiramente mais baixa do que potencialmente poderia ser, e optar pela segurança da mesma. Por isso optamos por ter uma yield diversificada, sustentável e de melhor qualidade.  Desta forma, se existir um problema de liquidez, será sempre mais fácil vender um determinado título”. Esta é a percepção do especialista ao nível das obrigações, mas no que concerne ao mercado de ações as mudanças são poucas. “Não queremos comprar uma ação apenas por causa do rendimento do dividendo. Queremos ter alguma segurança acerca do seu valor, e também assegurar-nos que o PER é aceitável, tendo a certeza que existe crescimento associado a essa empresa”, explica. Para o gestor, o importante é “construir algo que seja forte ao nível fundamental”, em vez de se andarem a fazer “apostas tácticas”.

Perfil de risco certo

Com 4 mil milhões de euros sob gestão alcançados no final de janeiro, o Schroder ISF Global Multi-Asset Income, é descrito como um fundo que foi criado para responder a um problema: “encontrar uma fonte regular de rendimento”. Aymeric Forest recorda que há 5 anos atrás era possível obter-se 5% de retorno comprando uma obrigação. Por isso, “muitos investidores moveram-se de obrigações domésticas para soluções mais arriscadas como o high yield, a dívida de emergentes, ou até mesmo ações. Fazendo isso, eles movimentaram o seu perfil de risco”, recorda o  especialista, que acredita que este produto aparece “com a função de devolver aos investidores esses 5% de yield, dando-lhes de volta o seu perfil de risco, já que o target de risco está entre os 5 e os 7%”.

No ano passado, o maior contributo para o rendimento distribuído pelo fundo foi dado pelas ações, pelo high yield, e também pelas “contribuições positivas de ativos alternativos, como por exemplo infraestruturas ou real estate", sendo que “se verificou, por outro lado, uma pequena contribuição negativa dos mercados emergentes”. Atualmente, 1,6% do rendimento do fundo vem das ações, 1,44% do high yield (norte-americano na maioria), 0,8% de títulos com grau de investimento, maioritariamente europeu, 0,58% dos mercados emergentes em dólar, 0,36% em mercados emergentes locais e 0,29% de alternativos.

Ser seletivo nos emergentes

Ao ser um fundo com exposição global, com uma cobertura de 40 países, os mercados emergentes não ficam de fora. Aymeric Forest explica que ao nível das ações, o produto tem uma exposição de 15% a estes mercados, o que no fundo em geral corresponde uma proporção de 5 a 6%. “Estes 15% são justificados porque até há 5 ou 6 meses existia uma proposta de valor interessante”, diz o gestor que, no entanto, acredita que agora não é altura de se adicionar mais risco à carteira a este nível. “Uma das razões é porque houve depreciação das moedas e os preços de importação cresceram muito nestas empresas. É preciso ser-se muito seletivo e, por isso, preferimos focar-nos nas empresas exportadoras, que vão ser aquelas que vão beneficiar da situação”, indica. Naquela que considera ser uma mudança do sector do consumo, para o sector das exportações, o especialista destaca o papel da China e o abrandamento da economia. “Há muita coisa a ser resolvida no país”, indica.

Desta feita, nos emergentes a preferência do especialista vai para o sector das matérias-primas, das telecomunicações por causa da yield e das valorizações , e também para o consumo discricionário. A ser subponderado no fundo está o sector financeiro, “por causa do apertar das condições monetárias”, existindo também uma maior prudência no sector energético. Do lado da dívida, escolhem como favorita a soberana em dólares. “Claro que existe um risco de default, mas há que ter em conta que os spreads estão a começar a ficar interessantes em algumas destas regiões, sendo que nos últimos meses tem havido uma melhoria das suas balanças comerciais e das contas correntes”. No atual contexto, Aymeric Forest sublinha que o Brasil, a África do Sul, a Turquia e a tão falada Ucrânia, “são alguns dos países mais perigosos”, que apresentam “fatores estruturais fracos e que não estão a fazer reformas”.

Ações e high yield preferidos

Mas qual a alocação atual do fundo a nível geral? Com uma exposição de 35% a ações e 57% a obrigações, o gestor destaca que as classes “estrela” neste momento são as ações e o high yield. Referindo que não quer transformar este portfólio numa carteira de ações, o especialista salienta a importância dos títulos com grau de investimento no portfólio, especialmente da Europa. “Vendemos a exposição que tínhamos a investment grade norte-americano, no final de janeiro, porque acreditamos que as yields recebidas não compensavam o risco”.

Ainda que o Schroder ISF Global Multi-Asset Income, seja uma fundo que prima pela diversidade global, a dinâmica do produto aposta também nas vantagens da aproximação local. “Eu sou o responsável pela equipa do fundo, mas comigo trabalham mais 6 pessoas, em que duas delas são especialistas no mercado de obrigações, duas em ações, e duas em multi-asset. Temos por exemplo pessoas envolvidas em obrigações governamentais que estão nos EUA, nos mercados emergentes ou na Ásia”, diz o gestor, que acrescenta que o importante é que “cada componente da carteira é único. Não tentamos replicar um índice de referência, nem temos qualquer tipo de restrição de investimento (somos unconstrained)”.