Não haverá subida de taxas nos EUA até 2024: as reações ao anúncio da Fed

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Eli Christman, Flickr, Creative Commons

De novo uma reunião de um banco central com mais palavras do que ações, mas o mais recente encontro da Reserva Federal trouxe uma mensagem importante para os mercados: taxas mais baixas durante muito mais tempo. Não haverá subida de taxas nos Estados Unidos até 2024.

Segundo o gráfico de pontos atualizado em setembro, a maioria dos membros da Fed não votará no aumento das taxas em todo o ano de 2023. A atual faixa objetivo vai manter-se assim até que se reúnam três condições. A primeira é que a inflação tenha aumentado para 2%. A segunda que a mesma esteja a caminho de superar moderadamente os 2% durante algum tempo o que representa a primeira menção de uma inflação superior a 2% num comunicado oficial posterior à reunião, recorda John Bellows, gestor da Western Asset. E a terceira, é que o mercado laboral deve estar em pleno emprego.

São critérios específicos, mas cuja linguagem se pode analisar para tirar várias conclusões. Como, por exemplo, o conceito de pleno emprego. “Na conferência de impressa, Powell, respondeu à pergunta sobre o que será o pleno emprego, dizendo que vão usar um vasto leque de medidas para o avaliar. Portanto, não surpreende que não se tenha estabelecido nenhuma leitura sobre o desemprego como detonante para uma subida”, refere Patrice Gautry, economista chefe na Union Bancaire Privée (UBP).

De novo, também a Fed reiterou o seu compromisso com as compras de ativos; continuará a injetar 120.000 milhões de dólares por mês na compra de obrigações, ainda que não tenha adiantado a extensão nem a ampliação do pacote atual. Jerome Powell voltou a insistir em que as famílias e os negócios americanos provavelmente vão precisar de um novo pacote fiscal para que a economia recupere da crise. Não obstante, as gestoras continuam convencidas de que vai puxar a alavanca. “Depois de tudo, dependendo das circunstâncias, a Reserva Federal continua a estar disposta a ajustar todas as suas ferramentas conforme necessário. Isto também incluirá as compras ao longo da curva do Tesouro”, afirma Christian Scherrmann, economista da DWS. “Para nós, é um sinal claro de que alguma forma de extensão do vencimento (por exemplo, o controlo da curva de rendimentos) permanece sobre a mesa”.

Assim a reunião de setembro não acabou por encerrar as dúvidas que surgiram em Jackson Hole. “ O que não está claro é quanto tempo continuarão essas compras e se haverá alguma mudança na composição das mesmas”, lamenta Bellows. “A nossa opinião tinha sido que a magnitude dos desafios económicos atuais, juntamente com um viés inequivocamente acomodatício dos responsáveis da formulação das políticas da Fed, significava que as probabilidades favoreciam que o FOMC continuaria as suas compras durante mais algum tempo e eventualmente ajustaria as suas compras para valores de mais longo prazo. A falta de avanços fez com que essa perspetiva seja menos clara, embora seja importante assinalar que não sejam descartadas opções e o debate continua”.

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E a atualização das projeções económicas não tem ajudado. Porque, ao mesmo tempo que Powell se reforçava no seu compromisso acomodatício da Fed, apresentou projeções económicas que muitas gestoras classificaram de otimistas. Sim, o presidente reforçou que o ritmo de crescimento dos Estados Unidos é altamente incerto, mas que por seu lado melhoraram as perspetivas, como se verifica no gráfico. Em junho vaticinavam uma contração do PIB norte-americano de 6,5% e agora apenas preveem que seja de 3,7%. O mesmo para o desemprego, que passa de 9,3% para 7,6%. Também sobem as estimativas para a recuperação: veem um crescimento de 3,5% em 2022 e de 2,5% em 2023. “As previsões demasiado demoradas, juntamente com uma melhoria notável nas perspetivas económicas da Fed, pareciam confundir os investidores. Ainda resta um longo caminho até às eleições presidenciais...”, comenta John Plassard, da Mirabaud.

“A declaração é uma surpresa real, mas pode dececionar quem procurava um guia mais explícito sobre como responderia a política às condições económicas em mudança. No entanto, está em linha com reuniões passadas justamente antes de uma eleição presidencial onde o enfoque tem sido evitar dizer ou fazer algo controverso”, conclui Keith Wade, economista chefe da Schroders.