Mudanças irreversíveis que sofreu a indústria da gestão de ativos devido ao COVID-19

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Digitalnative, Flickr, Creative Commons

Em 2019 começaram a surgir sinais de um movimento sísmico no sector da distribuição europeia de fundos. Os grandes distribuidores, como a banca, estão a avaliar o número de gestoras e fundos com os quais trabalham e, o mais importante, como trabalham com elas.

Mas o que não sabíamos então era que estávamos apenas no início daquilo que seria uma profunda transformação da indústria da gestão de ativos. “É uma mudança completa das regras do jogo”, conta Philip Kalus, CEO da Accelerando Associates.

Kalus comenta que essa mudança nas relações se está já a notar nos fluxos de ativos. Tanto os números de 2019 como os primeiros meses de 2020 revelam uma curiosa dicotomia. Há muitas gestoras com uma importante rede de distribuição cross-border na Europa que estão a sofrer nas captações, enquanto outras (poucas) estão a ter resultados muito bons. O que é mais importante na sua opinião é que:  há muitas boutiques pequenas, mas as melhores da sua classe têm fluxos líquidos incríveis.

A situação de confinamento global que causou a expansão do COVID-19 só acelerou a mudança. “As gestoras e as suas equipas de vendas há muito tempo que lutam por um contacto cara a cara com o selecionador e a presença dos seus produtos nas listas de recomendados não para de diminuir”, conta Kalus. E agora que esse cara a cara está reduzido a zero? Num contexto de trabalho a partir de casa, os selecionadores recorrem ainda menos ao telefone”, afirma. Todos na indústria notaram esta mudança numa questão de semanas; a forma como as reuniões virtuais se impuseram como a nova norma.

De facto, a velocidade de adaptação da indústria é notória. “Até os defensores acérrimos das reuniões presenciais se estão a habituar às videoconferências de uma forma impensável há uns meses”, assegura. Kalus conta como um dos seus clientes conseguiu transformar um roadshow de vários dias com selecionadores de fundos de primeiro nível em reuniões individuais por vídeo sem perder um único encontro. Outros viram, um número record de marcações de entrevistas e atualizações com gestores. “Obviamente todas via video”. De facto, segundo as conversas com membros do sector (tanto do buy side como do sell side), as reuniões por vídeo costumam estar mais concentradas e são mais disciplinadas em termos de duração. É uma experiência que, na opinião de Kalus terá um efeito duradouro.

Estas mudanças nos vencedores e vencidos na distribuição de fundos que se notou em 2019 está a acelerar. Como recorda o especialista, o novo contexto de trabalho remoto e por vídeo está a democratizar o tempo com o selecionador. Especialmente para as gestoras com uma capacidade limitada de fazer roadshows ou com um número limitado de representantes locais. Por isso Kalus insiste: os efeitos desta situação vão fazer-se notar além da crise do coronavírus. “Agora é o momento de repensar nos focos de distribuição e redesenhar os modelos de serviço ao cliente. Nas palavras de Wiston Churchill, nunca desperdice uma boa crise”.