Motivos para não participar no rally do ouro

Ouro
Stock Picks Expert, Flickr, Creative Commons

Provavelmente o ouro mais comentado este verão tem sido o das medalhas olímpicas. Entretanto, a cotação da onça, que em 1 de junho estava em 1214,7 dólares, subiu para 1234 dólares a 24 de agosto, uma subida de mais de 9%.

“O apetite pelo ouro subiu entre os investidores, que realocaram as suas carteiras perante um crescimento global incerto, risco geopolítico continuado e um contexto de taxas de juro baixas”, explicam os especialistas da J.P.Morgan AM numa das últimas publicações do programa Market Insights. A isto acrescentam o facto de “as taxas reais da dívida do Tesouro dos EUA estarem em terreno negativo, o que significa que ter uma ativo isento de rentabilidade, como o ouro, parece relativamente mais atrativo”.

A grande novidade na escalada do ativo refúgio por excelência tem sido o formato eleito pelos investidores para obter exposição: “Ainda que a procura por ouro físico tenha caído, o incremento da procura por ETFs que replicam o comportamento do ouro resultou num incremento do preço do ouro em 30% em 2016”, indicam da entidade.

O prognóstico dos especialistas para os próximos meses é que “na ausência de um rápido reajuste em alta das expectativas do mercado sobre as taxas de juro, o contexto para o ouro deverá continuar positivo”. A recomendação da J.P.Morgan AM é que “dentro de uma carteira diversificada de matérias primas, o ouro pode ser um investimento apropriado para os investidores que esperam que a inflação suba e que a Fed seja lenta na sua tomada de decisões”.

Da ETF Securities, chamam a atenção para os fluxos para Exchange Traded Products (ETP) de ouro, que verificaram cinco semanas consecutivas de subscrições, para os 644 milhões de dólares. “Os investidores acharam a última publicação das atas da Fed como relativamente dovish, o que é positivo para o preço do ouro. No entanto, Fisher, vice presidente da Fed, atenuou um pouco o sentimento, depois de indicar que a Fed está perto de cumprir os objetivos do seu mandato”, explica Martin Arnold, diretor de macro e estratégias de divisas da entidade.

O seu ponto de vista é que “enquanto se mantiver a incerteza em relação ao rumo da política monetária dos EUA, o ouro continuará, provavelmente, a ser um favorito dos investidores”.

Mais potencial Bear que Bull

Também é relevante a questão da recente debilidade do dólar (tradicionalmente, o ouro e o dólar têm uma correlação negativa): “O dólar tem apresentado uma tendência negativa desde finais de julho, caindo mais de 3% em relação a um cabaz das principais divisas. É surpreendente ver que os preços do ouro e da prata somente subiram 2% e 0,3% neste período. Usualmente, uma queda do dólar desta dimensão deveria ter resultado numa variação muito mais forte”, comenta Carsten Menke, analista de matérias primas da Julius Baer (GAM).

“A julgar pelo comportamento e tendo em consideração a prevalência do sentimento excessivamente optimista, assim como demonstrações que apontam para riscos relativamente ao crescimento e para uma possibilidade do dólar voltar a valorizar, vemos mais potencial de queda do que subida do ouro daqui em diante”, explica Menke.

É uma opinião partilhada pelo grupo de estratégia de investimento da Lombard Odier: Apesar do atual interesse dos investidores por esta matéria prima, não recomendaríamos mais exposição, já que os riscos de queda parecem superar o potencial de subida. Identificamos mais potencial de cobertura nas obrigações norte-americanas, especialmente na parte longa da curva”, afirmam.

A entidade aponta várias razões para justificar este ponto de vista. Em primeiro lugar, apelando aos fundamentais, assinala que “a procura física deverá continuar baixa, já que os preços do ouro denominados em divisas de mercados emergentes, sobretudo em rupias índias, ainda estão perto de máximos históricos”. A isto se acrescenta que “os custos marginais do sector mineiro (em torno dos 900 dólares a onça) apontam para uma provável aceleração da oferta aos atuais preços de mercado”.

Em segundo lugar, da Lombard Odier declaram que “atualmente, os movimentos do ouro não têm nada a ver com os fundamentais, mas dependem, isso sim, totalmente da procura financeira”. Na verdade prosseguem referindo que “num momento em que vários grandes bancos centrais adotaram políticas de taxas de juro negativas que reduzem a capacidade de cobertura dos ativos refúgio tradicionais, como a dívida pública, o atrativo do ouro cresce em períodos de turbulência de mercado”, o que explica que os ETFs do ouro tenham recebido, durante o primeiro semestre de 2016, os seus fluxos de entrada mais fortes desde 2013. Finalmente, na entidade opinam que “abrir uma posição em ouro neste momento representa expressar uma opinião muito bearish sobre a Fed”, dado que o dólar e as taxas de juro reais são os determinantes mais estáveis do ouro a longo prazo.