Morningstar responde a Larry Fink: “As gestoras também devem assumir uma responsabilidade social reduzindo os custos cobrados aos detentores de participações”

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Daniel*1977, Flickr, Creative Commons

A última carta de Larry Fink, CEO da BlackRock, teve uma grande cobertura mediática graças às críticas ao incremento da desigualdade e ao seu pedido às empresas para adotarem um papel mais social. Fink tem o hábito de escrever anualmente uma missiva dirigida aos CEOs das empresas nas quais a BlackRock investe em nome dos seus participantes. Fernando Luque, editor financeiro sénior da Morningstar em Espanha, apresenta algumas reflexões sobre a missiva.

A frase mais comentada deste ano é aquela em que Fink afirma que “as empresas devem beneficiar todas as partes interessadas, o que inclui acionistas, empregados, clientes e comunidades nas quais opera”. Luque resume o conteúdo da carta da seguinte forma: “Em suma, o seu discurso diz 'é bom ganhar dinheiro, mas também é importante partilhar, de alguma forma, os lucros com a sociedade'”. Isto é algo com o qual concorda em termos pessoais, mas também na visão da própria Morningstar. 

De facto, na consultora, já há algum tempo que defendem o papel crescente da responsabilidade social, como “um aspeto que terá cada vez mais importância na gestão diária das empresas e, inclusive, na valorização dos seus produtos”. Precisamente por esta razão, a empresa começou em março de 2016 a classificar fundos com um rating de sustentabilidade desenvolvido internamente – com a colaboração da Sustainalytics – para comprovar em que medida as empresas em que investem cumprem não só as questões de responsabilidade social, mas também de corporate governance e do meio ambiente. “Pessoalmente acredito que estes aspetos, em conjunto ou em separado, podem chegar a ser um fator de vantagem competitiva, tal como vantagens de custo de rede, de custos de alteração, os intangíveis ou as economias de escalas (o que chamamos de “economic moat”)", afirma Luque.

No entanto, ainda que a opinião geral sobre os pontos de vista de Fink seja positiva, da Morningstar também fazem críticas construtivas que estão relacionados com o próprio papel das gestoras como agentes dinamizadores de mudança. “As gestoras (e especialmente as maiores) também têm um papel social a cumprir, tal como as restantes empresas”, declara Luque.

Questiona também como podem estas entidades desenvolver parte dos seus objetivos na sociedade, sobretudo considerando o quão bem correu o negócio da gestão de ativos: Luque explica que “uma gestora como a BlackRock gere uns seis biliões de dólares, com uma margem operacional que supera 40%”.

A solução que apontam da Morningstar passa por reduzir os custos suportados pelos detentores de participação. “Há margem. Por exemplo, dos mais de 110 fundos da BlackRock analisados pela nossa equipa de analistas a nível global, mais de metade recebe um rating de custos (Price Pillar) de neutro ou negativo”, explica o editor.

Já há muito tempo que a Morningstar tem vindo a defender a necessidade de que as gestoras ajustem os custos dos seus fundos como forma de fomentar a excelência na gestão, evitando que os participantes paguem um preço alto por uma rentabilidade que poderá ser melhorada. Com a introdução da normativa MiFID II, a polémica sobre os custos passou a um novo nível, dada a exigência de transparência para que os investidores estejam conscientes do que estão realmente a pagar. É por este motivo que algumas gestoras começaram a revolucionar os seus modelos de cobrança de comissões.

Luque esclarece que a BlackRock não é a única empresa onde há margem para uma diminuição dos custos. De facto, afirma que “a situação desta gestora não é muito distinta da do universo de fundos que analisámos até agora e, provavelmente, está em melhor situação do que a maioria das entidades”. O editor da Morningstar insiste que o importante é ter consciência – tal como defendia Fink na sua carta – de que uma empresa pode desenvolver um trabalho que vai além de gerar rentabilidade puramente financeira. Neste sentido, enfatiza que “é necessário recordar que as gestoras de fundos também (como qualquer outra empresa) podem e devem cumprir, à sua maneira, um papel social devolvendo parte dos seus ganhos aos participantes".