Momentum para as obrigações no curto prazo

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Tim Haywood, diretor de investimentos e responsável pela unidade de obrigações da GAM é bastante claro. A sua visão do universo de obrigações é de que este está caro, quer a níveis absolutos, quer a níveis reais, com rentabilidades negativas. “Isto é particularmente certo, sobretudo, na Alemanha e Reino Unido. A isto acrescenta-se que as perspetivas apontam para um subida de taxas, primeiro nos Estados-Unidos, depois no Reino Unido e, eventualmente, na Zona Euro e Japão. Para terminar, os bancos centrais vão deixar de aumentar os seus balanços” destaca Haywood. Não obstante, acredita que a curto prazo o mercado está atrativo, porque “existe um certo momentum devido ao facto de muitos especuladores que estavam curtos precisam de fechar as suas posições. Além disso, os preços de algumas matérias-primas e alguns indicadores da economia norte-americana apontam para uma desaceleração momentânea. Isto pode dar um certo suporte aos títulos  de dívida americanos no curto prazo”. A história a longo prazo é completamente diferente, “existe muito emprego nos Estados Unidos e Reino Unido, na China existe crescimento, se bem que bastante endividado, e na Europa as coisas estão melhor que o esperado. Por isso, agrada-me o mercado norte-americano mas do ponto de vista temporal, não me agrada o mercado europeu. Existirá um certo momento em que terão que convergir e esta disparidade é uma oportunidade”, aponta o gestor.

Relativamente aos mercados emergentes, acredita que existe esperança. As rentabilidades são mais altas, as taxas de inflação estão abaixo das suas médias históricas e as divisas, que têm sofrido bastante, estão a estabilizar. Só a China é que é um foco de maior preocupação. “Agradam-nos as economias nas quais vão existir reduções de taxas, porque surgirão oportunidades. Essa convergência entre o mundo emergente e o desenvolvido levará o seu tempo, mas está a chegar. Temos aumentado de certa forma a nossa posição no México e temos estado bastante ativos na África do Sul, onde existem muito boas oportunidades para trading. No Brasil reduzimos um pouco a exposição”, revela Haywood.

No que diz respeito ao possível impacto de uma eventual crise da China noutros mercados emergentes, na sua opinião é fulcral que reduzam o endividamento. Quanto à estrutura da carteira e a sua distribuição entre posições estratégias e táticas, Haywood destaca que “os temas a longo prazo têm que ver mais com as curvas e as expectativas sobre os movimentos das curvas. As que estão demasiado planas recuperarão a inclinação e vice-versa. Algumas destas apostas podem levar uns três anos. Entretanto, fazemos apostas mais táticas. Isto é, temporariamente podem estar longos em duration”. “Os títulos de dívida ‘podem ser um hit deste verão’”, isto é, uma espécie de interpretação continuada do famoso “sell in May and go away” em que apenas se aplicaria a venda à parte das ações em carteira. Relativamente às eleições no Reino Unido, Haywood esperava que May convocasse eleições mais cedo. Para o gestor, o resultado pode ser um cenário mais estável com uma maioria mais significativa, porque a oposição está bastante debilitada. Para a libra e para as obrigações britânicas poderá ser algo temporariamente positivo.

Cerca de 50% da carteira do fundo GAM Absolute Return está alocada a crédito, ainda que, na sua opinião, os spreads estejam bastante ajustados. Isto faz com que esteja curto em títulos high-yield e à procura de novas ideias. “Interessam-nos os títulos de trade finance com equiparável a rating AA e emissões a 60 dias, ou os títulos governamentais com garantias. O lado positivo é o seu curto prazo, mas também poder aumentar os retornos, gerar receitas e não estar tão expostos à duration”. Além disso, para o gestor e para a sua equipa agrada-lhes os títulos convertíveis, que podem beneficiar tanto dos episódios de crescimento da volatilidade, como de um melhor momento das ações. E apesar desta classe de ativos poder estar cara, para Haywood o importante é poderem continuar a gerar lucros porque “podemos investir em diversas estratégias, divisas, secções de curvas e instrumentos”.