Millennium BCP: “Espera-se um ligeiro abrandamento do crescimento económico global”

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(Perspetivas para 2019, traçadas por Inês Correia Oliveira do Millennium BCP - Wealth Management Unit)

O ano de 2019 afigura-se como um ano complexo na gestão de investimentos. A volatilidade dos mercados tem vindo a aumentar e espera-se a continuação desta tendência. A fase mais avançada do ciclo económico, a redução dos estímulos dos principais bancos centrais e o aumento da incerteza no ambiente geopolítico global deverá condicionar o comportamento dos ativos financeiros. No entanto, os indicadores fundamentais mantêm-se robustos, o que deverá favorecer os ativos de risco em geral.

Espera-se um ligeiro abrandamento do crescimento económico global. Até ao momento, não se identificam desequilíbrios significativos que, por norma, originam uma reversão do ciclo, embora persistam problemas estruturais, como elevados níveis de dívida. O aumento do protecionismo, os riscos geopolíticos e o menor suporte dos bancos centrais, em conjunto com a maior volatilidade dos mercados que se tem vindo a observar, poderão afetar negativamente a confiança dos agentes económicos e poderão ter consequências com maior impacto do que o inicialmente esperado, pelo que o posicionamento se poderá alterar ao longo de 2019. Justifica-se uma maior monitorização de sinais e indicadores que possam indiciar uma possível reversão do ciclo económico, embora se continue a esperar, em termos globais, a persistência do crescimento económico em 2019.

 O crescimento económico na Europa abrandou em 2018, afetado por eventos temporários que limitaram o crescimento. Estes fatores deverão dissipar-se e a economia europeia deverá recuperar, crescendo ainda acima do potencial, com o crescimento do emprego e a subida dos salários a suportarem o consumo privado.

Nos EUA, o momento muito robusto do emprego e dos salários continuará a suportar o aumento do consumo. O menor estímulo fiscal em 2019 deverá induzir um abrandamento do crescimento.

Os mercados emergentes continuam a ser afetados por eventos idiossincráticos, que influenciam o desempenho da classe, mas o contágio tem sido limitado e esta tendência deverá manter-se. A evolução económica da China será fundamental, e embora se espere um ligeiro abrandamento, não se antecipa um hard landing. O governo chinês deverá continuar a gerir o trade-off entre estimular a economia para sustentar o crescimento e limitar os estímulos por forma a conter o crescimento excessivo da dívida e os desequilíbrios na economia chinesa.

O ligeiro abrandamento económico a par do menor crescimento dos lucros, poderia refletir-se nos preços dos ativos, mas estes impactos estarão já incorporados na correção que se verificou em 2018. A correção parece excessiva face ao desempenho económico e aos lucros realizados em 2018 e aos previstos para 2019, uma vez que não existem evidências de recessão próxima. As valorizações dos ativos de risco, em particular das ações, tornaram-se mais atrativas. Deste modo, favorece-se o investimento em ações em 2019, em detrimento da classe de dívida, em que a expectativa de retornos muito baixos ou até negativos justifica o underweight. Num contexto mais volátil, mantemos a carteiras diversificadas e a exposição a obrigações para estabilizar os retornos. Nos EUA, estima-se uma subida das yields, refletindo o contexto macroeconómico, mas não se anteveem pressões inflacionistas significativas, o que dará flexibilidade à FED. Adicionalmente, complementaremos a diversificação das carteiras com a sobre-exposição a fundos na classe de alternativos.

Quanto aos principais riscos para 2019, identifica-se, em primeiro lugar, o risco de um abrandamento económico ou dos lucros superior ao esperado, relacionado por exemplo, com um maior impacto da guerra comercial e da deterioração do sentimento das empresas e dos consumidores. Em simultâneo, o contexto político na Europa é também difícil, dado o risco para a economia de governos populistas, como foi possível observar em Itália. O desfecho do Brexit é também ainda incerto, com o conjunto de soluções possíveis ainda muito aberto. A evolução em França, que após a vitória de Macron nas eleições presidenciais tinha saído dos radares, também deverá ser monitorizada.

O aumento do risco geopolítico global tem tido um maior impacto nos mercados, devido ao impacto potencial negativo na economia, do que é exemplo a guerra comercial entre os Estados e a China, com a imprevisibilidade da administração americana a dificultar a aferição dos riscos potenciais. Por outro lado, a China também não parece disposta a abdicar de ambições geoestratégicas e económicas que tem vindo a conquistar. Uma possível surpresa positiva seria uma trégua duradoura, com progressos nas negociações comerciais e uma redução efetiva das tarifas, que potenciaria uma recuperação dos mercados.

Em resumo, espera-se um ano volátil, devido ao nível de incerteza elevado, mas com os fundamentais económicos e o crescimento dos lucros das empresas a suportarem a recuperação dos mercados e retornos positivos em 2019.

Como forma de exposição ao mercado acionista americano, no âmbito de uma carteira diversificada, achamos que o fundo JP Morgan US Value é uma boa opção. Sendo um fundo com um enviesamento para o estilo “value”, mais benigno numa conjuntura de subida de taxas de juro e que poderá aproveitar a recente correção de mercado, o facto de se focar na seleção de empresas que demonstrem “qualidade” em termos de balanço e negócio e não apenas nas valorizações, deverá evitar possíveis “value traps”.