Miguel Luzárraga (J.P. Morgan AM): “Podemos estar neutrais ou menos positivos nos Estados Unidos, mas não vemos sinais de recessão”

jordan-sanchez-127895
Photo by Jordan Sanchez on Unsplash

A J.P. Morgan AM aproveitou a apresentação do mais recente Guide to the Markets para reafirmar o compromisso que tem para com o mercado português, no qual a entidade já soma, segundo os seus números, cerca de mil milhões em ativos sob gestão. Miguel Luzárraga, executive director e sales executive da J.P. Morgan AM, revela que a presença em Portugal “é suficientemente grande para considerar este mercado um mercado relevante para a Europa”, acrescentando que, na entidade, verificam uma “grande vontade por parte dos clientes em investir nos fundos da casa”.

Quanto às perspectivas da entidade para o próximo trimestre, o especialista acredita que existe um crescimento sustentável e sincronizado da economia global, com um crescimento esperado de 3,8% para este ano: “estamos numa altura muito favorável e no terreno mais positivo desde 2011”, destaca. Apesar do bom momento global da economia, Miguel Luzárraga acredita que uma das principais preocupações do mercado é a inflação.

Miguel LuzárragaDe facto, se na Europa a inflação parece estar a aumentar (1,5% no final de agosto, segundo a entidade), nos Estados Unidos os últimos dados parecem ter gerado uma série de dúvidas. No entanto, para o especialista é algo que não deve preocupar os mercados, uma vez que esses dados resultam do “surgimento de maior concorrência no sector das telecomunicações, com o preço das tarifas a baixar, e da melhoria dos serviços de saúde, resultado das reformas implementadas, que levaram à estabilização dos preços”, explica.

Europa e Japão foram “surpresas fantásticas”

Na J.P. Morgan olham para os últimos dados de crescimento na Europa com satisfação: “Para nós a Europa foi uma surpresa positiva pelo crescimento de 2,3% previsto para este ano”, adianta o especialista. Este é o ritmo de crescimento mais forte desde 2011, que na opinião de Miguel Luzárraga está assente numa série de dados macroeconómicos positivos – “existe uma maior confiança, mais acesso ao crédito, o consumo está a recuperar e o desemprego a baixar”. De facto, o especialista revela que “o indicador de confiança empresarial e do consumidor estão em máximos desde os últimos 10 anos”, sendo que a “reativação do acesso ao crédito é o resultado das políticas monetárias implementadas na Europa, que estão a ajudar o crédito a fluir”. Por último, mas não menos importante, Miguel Luzárraga destaca que “estamos a passar, em pouco tempo, para uma taxa de desemprego mais baixa – estamos nos 9,1% na Europa, e nos 8,9% em Portugal”.

Quanto ao Japão, o crescimento de 4% previsto para este ano é surpreendente. No entanto, Miguel Luzárraga acredita que são vários os factores que explicam esta surpresa, sendo que o Tankan Business Conditions é um deles: “este é um inquérito (semelhante ao PMI, mas mais amplo) e os dados mais recentes mostram que as condições para negócios no Japão estão mais favoráveis, tanto para as empresas industriais, como também para as não-industriais”, destaca. Por outro lado, a tão conhecida questão do corporate governance parece estar a sofrer alterações, uma vez que “os administradores das empresas estão a ocidentalizar-se – estão a pagar mais dividendos e a investir nas empresase existe um maior número de gestores independentes, não só japoneses, mas estrangeiros”, ressalva o especialista. A reeleição de Shinzō Abe é outro dos factores que, para Miguel Luzárraga, impulsionam as expectativas de crescimento. “Esta reeleição traz estabilidade ao mercado japonês, podendo este implementar o seu plano de Abenomics e levar a cabo a reforma constitucional pretendida”, destaca.

Estados Unidos sem sinais de recessão ou de contração económica

Apesar de considerarem que os Estados se encontram numa fase de final de ciclo e perto de atingir uma certa maturidade económica, na entidade acreditam que os dados macroeconómicos ainda são fortes. “Tínhamos uma estimativa de crescimento de 2,5% para este ano e alterámos para 3%. Falamos, portanto, de uma expansão económica ainda forte com um crescimento de 3%, e como tal  acreditamos que não existe recessão económica”, adianta Miguel Luzárraga. A estabilização do sector imobiliário, o investimento das empresas a estabilizar e a situação do mercado de emprego são factores que contribuem para, na entidade, considerarem que a economia norte-americana se encontra em final de ciclo, mas pujante.

Em terreno positivo está a taxa de desemprego, que em setembro atingiu os 4,2%. “Estamos, assim, numa situação de pleno emprego”, afirma o especialista, acrescentando que “nos períodos anteriores em que a taxa de desemprego estava neste nível, a expansão económica ainda durou entre dois a quatro anos”. Quanto ao crescimento dos salários no país do Tio Sam, a recente recuperação parece ser vista com bons olhos, “mas a expectativa é ver de que forma vão subir”, diz Miguel Luzárraga.

De facto, na entidade acreditam que é possível que se observe um movimento ascendente na curva do crescimento dos salários para o próximo trimestre, sendo que “a subida dos salários afeta sobretudo a inflação, o que pode afetar o ritmo de subida das taxas de juro”, explica o especialista.

Captura_de_ecra__2017-11-3__a_s_11