Metade da duration para a mesma rentabilidade

Tutankamon, Egipto
-Merce-, Flickr, Creative Commons

O panorama económico nos países emergentes melhorou muito desde 2013. É a opinião que Henry Stipp deixa bem clara numa conversa com a Funds People sobre o investimento em obrigações destas economias em desenvolvimento. Mas mais do que a classe de ativos em geral, falou-se de uma estratégia em particular da qual Henry Stipp, Ph.D, é um dos gestores, o Threadneedle (Lux) Global Emerging Market Short-Term Bonds, da Columbia Threadneedle. “Vemos hoje que a economia dos emergentes está muito melhor do que estava. Na parte externa das economias, onde se via um grande défice por transações correntes, agora vemos o inverso ou défices muito menores. As reservas de moeda subiram em muitas economias emergentes. A fiscalidade melhorou. As taxas de juro reais subiram. E quando vemos as economias desenvolvidas a crescer robustamente e os Estados Unidos a subir taxas, sabemos que é positivo para os mercados emergentes”, argumenta o profissional.

Longe de estar preocupado com o ciclo económico das economias desenvolvidas, Henry Stipp considera que temos muitos anos pela frente antes de chegarmos a um final. Mais além, o especialista considera que “estamos agora a sair de um período que se caracterizou pela ausência de ciclo, e vemos finalmente uma normalização e, num contexto de normalização, os fundos de obrigações de curto prazo fazem especial sentido”. O especialista refere-se no essencial à questão da duration, mas volta a destacar que no caso das obrigações de mercados emergentes não é só o atrativo da yield superior que atrai os inflows, mas também a estabilidade e a melhoria das economias.

Resultado de um processo que apelida de transparente, Henry Stipp realça os resultados que o fundo de obrigações de curto prazo de emergentes tem apresentado e a capacidade deste apresentar um retorno semelhante ao indice EMBIG com quase metade da duration. “Não mexo muito na duration, pelo que a forma de obter alpha neste fundo é através de trades de valor relativo. Explorar o potencial de países cuja economia está a melhorar e ignorar aqueles em que isso não acontece. Focamos muito mais na parte económica do que no trading de duration, especialmente porque investimos numa parte da curva que tem pouca volatilidade”, explica.

Países como o Peru, Brasil, Rússia, República Dominicana e Egipto são histórias que Henry Stipp gosta de contar e estão no topo das preferências e sobreponderações do fundo. O Egipto, por exemplo, é uma história que o profissional e a sua equipa seguem há mais de 20 anos. “A história do país tem estado marcada ao longo do tempo por instabilidade política e ausência de reformas. Até que chegou o dia que há muito esperávamos e em que se deu uma desvalorização significativa da moeda. O FMI entrou no país e, inevitavelmente,  começaram a ser feitas reformas. Cortaram-se subsídios que existiam há muito e que nenhum governo se atreveu a cortar. No petróleo, na gasolina, no gás, na comida... Fez-se o ajustamento e foi então que decidimos entrar. Não acreditamos que se dê outra desvalorização num futuro próximo”, expõe.

Por outro lado, a República Dominicana é um país em que o fundo investe em moeda forte e local. “O mercado continua atrativo ao fim de muito tempo. A moeda desvaloriza uns 2 ou 3% ao ano enquanto que obtemos uns 9% de juros. Para além disso não há grande relação do ciclo económico do país com os restantes. É um país muito sólido”, comenta. A preferência da equipa de gestão do fundo vai para as emissões soberanas, mas recorrem às emissões corporativas taticamente quando a yield o justifica. “São apostas muito táticas”, comenta.

Regressando ao processo, Henry Stipp comenta que este resulta da combinação de uma abordagem top-down, com uma abordagem bottom-up. “Primeiro de tudo olhamos para a macroeconomia do agregado global no sentido de identificar quais vão ser os grandes temas. Sejam movimentos nos preços do petróleo ou juros nos EUA, importa perceber que dinâmicas deverão dirigir os mercados no futuro. Depois, vemos economia a economia onde é que essas dinâmicas se fazem sentir positivamente e onde queremos investir ou desinvestir. É aí que nos preocupamos com o portefólio como um todo e limitamos as exposições a determinados sectores ou economias”, descreve o especialista da Columbia Threadneedle.

Resultado deste processo tem sido um historial isento de defaults,  muito embora um caso específico possa parecer uma exceção: a Venezuela. Mais do que um default em carteira, as posições na Venezuela foram mantidas de forma totalmente transparente e estratégica, e resultaram numa outperformance do fundo aquando do default. Por fim, quanto às decisões de exposição cambial, mais uma vez, dependem da sensibilidade e experiência da equipa e cada caso é um caso. “Muitas vezes fazemos a cobertura da moeda. Quando não temos a convicção para manter a exposição efetuamos o hedge”.

São portanto vários os factores que fazem do investimento nesta classe de ativos uma oportunidade interessante num contexto de mercado difícil. Re-emergência do crescimento, estabilidade de spreads e das moedas e da liquidez, são alguns dos argumentos a favor do investment case em alguns destes países, mas uma combinação que proporciona uma yield semelhante ao índice EMBIG com metade da exposição ao risco de taxa de juro é a definição de alpha, e isso vê-se no fundo gerido por Henry Stipp e a sua equipa.