Mercado espera que Mario Draghi anuncie detalhes do programa de compra de dívida pública

"Neste momento, é claro que existe um amplo consenso a nível europeu relativamente ao projecto de compra de dívida pública até maturidades de três anos, emitida por países que estejam ao abrigo de um programa de estabilização - como é neste momento o caso de Portugal, Grécia e Irlanda", afirma Paulo Guerreiro,  director executivo de Europen Equities, do BESI, à Funds People Portugal.

Na reunião desta quinta-feira, o presidente do BCE, que falou recentemente sobre esta forma de intervenção, "poderá apresentar os moldes efectivos" em que a mesma se fará, "se há um limite para a compra de obrigações ou se existirá uma 'yield' ou um 'spread' alvo em relação às 'yields' alemãs", refere Marisa Cabrita, da Orey Financial.

A dimensão do programa de compra de dívida pública é, para Paulo Guerreiro , um dos três principais campos a serem esclarecidos pelo banco central, contudo acredita que "esse tema ficará em aberto". Quanto aos restantes dois dizem respeito à "senioridade que o BCE virá a ter em relação aos restantes credores dos estados soberanos (espera-se que se coloque no mesmo patamar)", esclarecimento que também é referido como necessário por Marisa Cabrita; e, por último, a qual o mecanismo que o BCE utilizará para penalizar os países que deixem de cumprir as condições acordadas, refere Paulo Guerreiro, acrescentando que "parará obviamente a compra de títulos, mas [que] não é uma solução óptima".

Marisa Cabrita sublinha, contudo, que a decisão do tribunal alemão sobre a constitucionalidade do Mecanismo Europeu de Estabilidade "poderá constituir uma limitação e, assim, refrear o BCE de avançar maiores detalhes". Mas destaca que o banco central deverá, "o quanto antes, definir os moldes em que pode actuar para mitigar a incerteza e , assim, o risco que penaliza os países periféricos", e que "é fundamental" a redução dos custos de financiamento de países como Espanha e Itália.

Privilegiar crescimento e manter custo da dívida baixo

Os mercados europeus, destaca Paulo Guerreiro, já valorizaram cerca de 20% desde os mínimos do anos atingidos em Junho, a antecipar uma intervenção nos mercados de dívida pública, "que agora se irá concretizar"; no entanto não considera provável que tenham nova subida idêntica "sem que a política de privilegiar a consolidação fiscal seja abandonada".

A Europa, sublinha, está em recessão, enfrenta um problema de fraco crescimento e de excesso de endividamento - público e não só, e "não existe verdadeiramente uma razão para esperarmos um regresso ao crescimento". Mas é aqui que deve estar a prioridade; "o mais importante é estimular o crescimento e manter o custo da dívida o mais baixo possível", salienta. Uma receita que tem sido "adoptada pelos Estados Unidos com algum sucesso", acrescenta.