Mario Draghi: um mestre na gestão de expectativas?

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Flickr/Parlamento Europeo

As medidas anunciadas por Mario Draghi durante a semana passada apanharam os mercados de surpresa, mas não desapontaram as expectativas dos investidores. Os mercados de ações e de obrigações registaram um rally na Europa, enquanto o euro caiu a pique. “Mas o entusiasmo não é apenas proveniente das medidas anunciadas na quinta-feira; é também relativo à expectativa do que está para vir”, diz Stephanie Flanders, no último Markets Insights lançado pela J.P. Morgan Asset Management.

Um “mestre a gerir as expectativas de mercado”: assim é apelidado Mario Draghi pela especialista, que no documento  avisa que, no entanto, a bitola das expectativas está bastante alta, e proporcionalmente os riscos também. “Ainda que as medidas acordadas travem momentaneamente um verdadeiro quantitative easing europeu ao estilo norte-americano, assinala-se a aceleração de esforços para melhorar o ambiente de concessão de crédito na Europa. “Os investidores estão receptivos a acatar a maior clareza sobre o timing da compra de ABS (instrumentos de dívida titularizada). Este sentimento em conjunto com o corte na taxa de juro representam um esforço em duas frentes realizado pelo BCE de forma a melhorar a disponibilidade de crédito na Zona Euro”, indica a J.P. Morgan AM.

“Credit Easing”?

Neste “jogo” de gestão de expectativas, a UBS Global Asset Management no seu Economist Insights indica que “o BCE forneceu mais do que aquilo que o próprio mercado estava a desejar”. “O programa anunciado assemelha-se mais a um credit easing do que a um quantitative easing”, escrevem os economistas Joshua McCllum e Gianluca Moretti. “Os planos para a compra de dívida titularizada já tinham sido discutidos, mas o mercado é relativamente pequeno e fragmentado. No entanto o programa será expandido também para as obrigações cobertas, que são mais seguras do que as corporativas”, indicam, referindo ainda que este programa de compra de obrigações cobertas deverá ter efeitos positivos na economia. “Estas medidas devem fazer com que os devedores mais arriscados tenham acesso mais barato a fundos. Tudo isto são pequenos passos para um QE puro”.

Sustentar a recuperação económica

Também Tanguy Le Saout, head of european fixed income da Pioneer Investments, comenta que o anúncio da compra de dívida titularizada, acompanhada do uso de outras medidas, “causou um rally imediato nas yields das obrigações”. Ainda assim, este rally, na opinião do especialista, não será duradouro, o que significa que “uma estratégia de curta duração a este nível pode até ser de superação e de bom desempenho”.

Em 2015 e 2016, na perspetiva  da Pioneer Investments, as medidas anunciadas poderão mesmo “ajudar a estimular o crescimento e a inflação”. Ao nível do mercado de crédito o anúncio do BCE será “positivo e deverá conduzir a um aperto dos spreads, sendo que os bancos serão incitados a emprestar”, concluem.