Juros e expectativa de vida alongam horizontes da indústria de investimentos

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O aumento da expectativa de vida do brasileiro e a queda dos juros ampliaram os horizontes de planeamento de todos os agentes da economia brasileira, em particular dos agentes de investimentos, avalia Júlio Cesar Maciel Ramundo, director do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Em alguns casos, os horizontes superam o prazo de uma década, como é o caso dos projectos de infra-estrutura, que requererão milhões de reais em investimentos durante muitos anos.

Segundo ele, todos os agentes empresariais e do mercado financeiro e de capitais têm incorporado questões de longo prazo nos seus debates. “Para nós do BNDES, que temos o longo prazo como dever de ofício, a situação é de deleite, e temos muita satisfação em operar nesta nova condição”, afirmou. Além do cenário macroeconómico marcado por juros mais baixos, Ramundo destacou que a expectativa de vida crescente do brasileiro e o consequente aumento dos gastos com saúde devem modificar a cultura de poupança no país.

Estes factores “conspiram a favor” da indústria de fundos, que tem um horizonte claro de crescimento nos próximos anos. Na visão do director, existem três tendências claras neste mercado: crescimento dos títulos corporativos de dívida; aumento da importância relativa das alocações em renda variável e a incorporação de activos primários e projectos mais sofisticados nos portfólios. “Não faltarão oportunidades, mas os gestores terão que ser mais sofisticados e atentos às exigências de investidores, tanto institucionais quanto do varejo”, diz Ramundo.

O director afirmou que tanto o banco quanto o governo federal têm feito esforços para transformar o mercado de capitais em um elemento central da estratégia de desenvolvimento do país. “Entendemos que um país desenvolvido precisa de um mercado de capitais forte que compartilhe o financiamento de longo prazo”, afirmou. Ramundo destacou que o banco teve um papel relevante no desenvolvimento da indústria de fundos de ‘venture’ capital e ‘private equity’, além de ter trabalhado na difusão de boas práticas do Novo Mercado. A instituição também apoia o desenvolvimento do mercado de acesso da BM&FBovespa, o Bovespa Mais.

No mercado de obrigações, a actuação do banco dá-se como emissor, investidor e fomentador da indústria, de acordo com o executivo. Além de ser frequente emissor de debêntures em ofertas públicas, o BNDES faz exigências quando está no papel de investidor, como a indução da participação de formadores de mercado, transparência, desincentivo ao DI e preferência por emissões de longo prazo, de cinco a seis anos.

Segundo o director, os projectos de infra-estrutura do banco procuram a colocação no mercado de debêntures ou “títulos securitizáveis”. “Temos também ampliado a actuação no mercado secundário de debêntures para induzir a liquidez”, afirma, destacando que operações de venda na carteira do banco têm sido feitas desde 2010. No ano passado, o BNDES passou a actuar na compra de papéis no mercado secundário, inclusive em operações onde não teve participação da emissão primária.