João Pisco, CFA (Bankinter Research): “Na Europa, a desaceleração económica bateu no fundo e irá recuperar”

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A economia americana mantém-se sólida e o ritmo de crescimento desacelerou menos que o previsto no 3T’19. Mantemos as estimativas de crescimento do PIB: +2,2% em 2019 e +1,8% em 2020. Em 2021 prevemos um crescimento de 1,9%, o que representa uma modesta revisão em alta dos +1,8% anteriores. A inflação continua abaixo do objetivo da Fed. O PCE subjacente, medida preferida da inflação da Fed, encontra-se nos +1,6%, longe do objetivo do banco central de +2,0%. Neste contexto, a Fed mantém a sua visão positiva sobre a economia e não antecipa qualquer corte adicional das taxas para 2020. Não obstante, o nosso cenário base contempla um corte de 25pb, provavelmente no 4T´20 e caso o contexto de deteriore um pouco antes das eleições de 3 de novembro.

Na Europa, a desaceleração económica bateu no fundo e irá recuperar. Os indicadores avançados antecipam uma estabilização no ritmo de desaceleração. Os riscos macroeconómicos vão-se dissipando. A probabilidade de um Brexit ordenado aumenta e os EUA não aplicaram novos impostos sobre o setor auto.  A alteração de presidente no BCE (Lagarde por Draghi) não gera uma alteração substancial em termos de política monetária. O BCE continuará a aplicar uma política muito acomodatícia, com taxas de juro baixas, compra de obrigações e programas de liquidez destinados ao setor bancário. 

As economias emergentes mostram sinais de fadiga. O crescimento dos BRIC afasta-se do seu potencial perante a fragilidade do comércio e a apreciação do dólar. O lado positivo é que a Inflação continua em níveis historicamente baixos (exceto na China) e as políticas monetárias são acomodatícias. As nossas previsões refletem uma perda de tração na China e uma aceleração cíclica na Índia, no Brasil e na Rússia, após sucessivas descidas das taxas de juro em 2019 (5 na Índia, 4 no Brasil e 5 na Rússia).

Na China, o PIB cresce ao ritmo mais lento desde 1992, num contexto marcado pela guerra comercial com os EUA. As nossas previsões para 2020/2021 são construtivas, mas reflete, um ritmo de crescimento baixo em termos históricos. A política de estímulos fiscais e monetários é um balão de oxigénio, mas ainda há muito a fazer na frente comercial.

A economia japonesa irá crescer perto do seu potencial de longo prazo nos próximos anos. O motor do crescimento será a Despesa Pública. A subida do IVA terá um impacto menor do que em 2014, mas não será neutro. A inflação continuará longe do objetivo de +2% num país com tendência para poupar e sem crescimentos salariais relevantes, apesar dos níveis baixos de desemprego. Assim, a política monetária continuará a ser acomodatícia. No entanto, os riscos são relevantes: demografia, endividamento, défice primário, protecionismo, etc.

As Ações continuam a ser a nossa classe de ativo favorita. Representam o ativo para o qual continuará a fluir a elevada liquidez existente no mercado. Embora isto possa dever-se, mais do que nunca, a uma decisão por “exclusão de partes” e não propriamente por “convicção”. Estimamos potenciais de aproximadamente +15% tanto para o S&P 500 (apesar de estar em máximos) como para o EuroStoxx-50. Aumentamos inclusive os nossos níveis de exposição recomendada a ações para os perfis de risco Defensivo (para 15%) e Conservador (para 25%).

No que diz respeito às Obrigações, na Europa preferimos soberanas dos periféricos e Investment Grade e nos Estados Unidos apenas soberanas. Contudo, continuamos a alertar sobre a dificuldade de obter rentabilidades positivas com as obrigações.

Quanto ao Imobiliário, acreditamos que a política monetária ultra expansionista do BCE fará com que o bom momento vivido no setor se estenda no tempo, suportado por uma compressão das yields, rendas elevadas e condições de financiamento imbatíveis. Recomendamos exposição a França e Portugal, e evitaríamos: 1) Reino Unido, devido aos riscos derivados do Brexit; 2) Alemanha devido à possibilidade de congelação dos alugueres em Berlim; e 3) retalho, devido ao efeito negativo causado pelas tendências de aumento do comércio eletrónico neste segmento. Em Portugal pensamos que o mercado ainda se encontra longe de um equilíbrio entre procura e oferta, pelo que os preços continuarão a ser pressionados em alta pela escassez de oferta de imóveis para venda.

Pensamos que os principais riscos sobre o mercado estão em queda, e essa é uma das razões que justifica a nossa preferência pelo mercado acionista. Contudo, para nos apercebermos disto, é necessário elevar a perspetiva além do curto prazo. Além dos tweets de Trump ou das ameaças de Boris Johnson acerca de um Hard Brexit. Na verdade, o único fator que efetivamente nos preocupa é a demografia adversa, contudo trata-se de um risco estrutural e não propriamente imediato que vá ter repercussões já em 2020.

Dado o atual contexto de mercado, valorizamos fundos multi-ativos com uma elevada exposição ao mercado de ações. O Fidelity Global Multi Asset Income é um dos fundos que temos recomendado, pela sua elevada diversificação por classes de ativo e geografias e foco em ativos geradores de income, num contexto de taxas de juro muito baixas. 

Quanto ao investimento direto em ações, recomendamos por exemplo o Allianz Europe Equity Growth, dada a nossa aposta por ações europeias, sobretudo de estilo growth, ou o Franklin US Opportunities, que continua a entregar rentabilidades acima do mercado.