Investimento, por onde andas?

Carlos Bastardo
-

Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre a evolução da economia portuguesa referentes ao segundo trimestre do ano, não deixam dúvidas sobre o reduzido crescimento do PIB, muito abaixo dos 2,4% do estudo do atual ministro das finanças que suportou a campanha eleitoral, dos 2,1% do programa do governo e dos 1,8% que constam como estimativa no Orçamento de Estado (OE).

Estamos a crescer a um ritmo anual homólogo de 0,9%. As exportações deixaram de crescer ao ritmo dos últimos anos, o investimento está a cair, o consumo privado cresce menos que o esperado. Sendo mais preciso, o consumo privado cresceu em volume 1,7% no segundo trimestre em termos homólogos, 0,9% abaixo da taxa de variação ocorrida no primeiro trimestre. O investimento caiu 3% no segundo trimestre em termos homólogos (queda de 1,2% no primeiro trimestre). As exportações aumentaram em volume, 1,5% no segundo trimestre em termos homólogos, mas abaixo dos 3,1% registados no primeiro trimestre.

O segundo trimestre foi bastante fraco. Apesar da devolução dos cortes salariais dos funcionários da administração pública e das empresas públicas e do discurso mais otimista por parte dos responsáveis governamentais, o consumo privado está em desaceleração, muito baixo da meta que consta no orçamento (2,4%).

Quanto às exportações, a meta do OE 2016 é que estas cresçam 4,3%, mas os condicionalismos em vários mercados destino fora da União Europeia, como Angola e Brasil, ditaram que o crescimento das exportações esteja bastante mais reduzido.

Contudo, a variável que mais me preocupa é a queda do investimento, quando no OE consta uma estimativa de crescimento de 4,9% em 2016.

Para contrariar a queda de 3% no investimento no segundo trimestre em termos homólogos, o que é importante fazer? Acima de tudo, criar condições de confiança.

E como? Essencialmente, o processo terá que se basear em incentivos económicos, maior flexibilidade (mas com rigor) na aprovação de projetos de investimento, cumprimento dos acordos/contratos que se façam, mas também os que foram celebrados no passado (por exemplo, os contratos revogados no setor dos transportes foram um fator muito negativo na imagem do país, para além de eventuais processos jurídicos que venham a acontecer), maior agilidade na concessão dos fundos estruturais e acima de tudo criar condições para que o crédito chegue à economia e às empresas (o financiamento bancário tem aumentado para o Estado e diminuído para as empresas privadas).

Se continuarmos neste “laisser faire laisser passer” e não continuarmos com as reformas, essenciais para atrairmos os investidores, vai ser complicado sairmos da situação de crescimento abaixo da média europeia. E infelizmente contra factos não há argumentos. Devemos atrair investidores e não “convidá-los” a investir noutras paragens!