Implicações para as ações chinesas de uma nova rejeição do MSCI

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epSos .de, Flickr, Creative Commons

À terceira é de vez. No entanto, no caso da China não é bem assim: pelo terceiro ano consecutivo, o MSCI não incluiu nos seus índices as ações chinesas classe A. O fornecedor reconheceu que as autoridades chinesas realizaram esforços para melhorar as condições de mercado, e insinuou, mesmo assim, que poderá mudar de opinião em 2017, em função do que a revisão anual revele.

A interpretação das gestoras de fundos é mais prosaica. “Os chineses estavam confiantes de que tinham feito o suficiente para solucionar as deficiências que tinham identificado há um ano, principalmente no que diz respeito ao acesso ao mercado e aos problemas sobre a propriedade de empresas, que não cumpriam as normas internacionais. A impaciência de Pequim tem sido palpável”, explicam os especialistas da Aberdeen. Estes observam que “depois de recompilar comentários dos participantes do mercado, o MSCI disse que os investidores institucionais internacionais queriam ver mais melhorias na acessibilidade às ações de classe A antes de as incluir no índice regional”.

Da entidade escocesa enfatizam que o país tem de facto feito progressos, como a introdução de um sistema de registos para que os investidores estrangeiros que cumpram os requisitos possam receber até 5.000 milhões de dólares ou a flexibilização das normas, para que os investidores estrangeiros possam repatriar capital para fora do país, diariamente em vez de semanalmente.

Para o provedor, pesaram negativamente as intervenções para controlar a volatilidade desde a desvalorização do yuan no verão do ano passado, especialmente no que diz respeito à suspensão voluntária da cotação: 1.400 empresas solicitaram-na em 2015, o equivalente a metade da liquidez do mercado de classe A. Também não gostaram da introdução de limitações para evitar episódios de vendas indiscriminadas (suspensão da cotação a partir de uma queda de 7%), um sistema que tem sido tão criticado que exigiu modificações posteriores. “Pode parecer ilógico que nem um único valor da segunda economia do mundo apareça nos índices regionais”, asseguram os especialistas. No entanto, indicam que, de facto, existe representação através das ações classe H, registadas em Hong Kong.

Da New Capital, o gestor Mansfield Mok acredita que “mais do que uma recusa total, a medida parece mais uma aceitação com condições”. “Os dois elementos que ainda contrariam o fornecedor de índices são, por um lado, o limite de retorno de 20% para os investidores que utilizem QFII e, por outro, as restrições das bolsas de Xangai e Shenzhen para o lançamento de produtos ligados a índices que incluam ações do tipo A. Tendo em conta a vontade por parte da China de abrir o seu mercado de capitais, nenhum do aspectos parece uma barreira intransponível”, diz Mok.

Se for dado o sim definitivo à introdução de ações classe A, o gestor calcula que a ponderação da China no índice MSCI Global EM passaria de cerca de 24% para 27,3% num primeiro momento (incorporação de 5% das ações A) e posteriormente para os 39,9% (quando todas as ações A sejam consideradas). A inclusão no MSCI ACWI iria representar um salto de 2,4% para os 2,9%, na primeira fase, e cerca de 5% na conclusão do processo. “Seria sem dúvida um aumento significativo que traria consigo um aumento nos fluxos ligados à gestão indexada”, conclui Mok. Posto isto, chama a atenção para outros processos significativos no curto prazo, como a entrada em vigor do programa Shenzhen-HK Connect, “que permitirá um fluxo mais fluído de capitais e possibilitará a diminuição do prémio entre ações A e H”.

Victoria Mio, gestora da Robeco, vê a recusa da MSCI como uma oportunidade “para dar alento aos reguladores a melhorar os mecanismos”. “O facto de muitos grandes fundos internacionais já terem encontrado maneiras de investir em ações de classe A significaria que o impacto deste atraso é relativamente pequeno”, acrescentam. Tendo em conta que o MSCI aproveitou a sua revisão anual para incluir o Paquistão nos seus índices, a especialista da entidade considera que a “inclusão não depende do tamanho do mercado, mas sim das condições do mercado e quão aberto ele é”. Para além disso, Mio recorda que três rejeições consecutivas não são grande coisa. Taiwán necessitou de nove anos para ser incluída nos índices, e a Coreia do Sul, seis anos. “Para sermos justos, o mercado chinês de 2016 é, na realidade, mais aberto do que o mercado coreano perante a sua primeira inclusão em 1992. O aumento das propriedades estrangeiras levarão o comportamento do mercado a convergir com o dos mercados globais no longo prazo”, comenta a especialista.

O último prognóstico de Mio é que, dado o seu grande tamanho, a sua inclusão nos índices MSCI representa, potencialmente, um aumento dos fluxos de entrada futuros: “Se se incluísse 5% das ações A no índice, significaria a entrada de 21.000 milhões de dólares da noite para o dia. Se acontecer uma inclusão de 100%, os fluxos potenciais estão estimados em 364.000 milhões de dólares, ou 18% do free float do índice global”.

Christopher Chen, gestor de carteiras de clientes da Mirae Asset (leia aqui as palavras do gestor na última visita a Lisboa) também acredita que inclusão chegará com o tempo. “Se se analisar a ponderação chinesa atual no índice MSCI Emerging Markets é certo que é baixa em relação a métricas como a capitalização de mercado da China, o seu PIB ou o seu volume de mercado”. Chen prevê portanto que a ponderação “vai subindo gradualmente, considerando a importância de economia chinesa na região”.