Ideias de investimento no campo das obrigações para preparar a carteira para um cenário de subida das taxas

lampada
marco marescotti, Flickr, Creative Commons

Mais cedo ou mais tarde existirão subidas de taxas nos EUA. Será a primeira em dez anos e acontecerá mais cedo do que tarde. Embora se preveja que o movimento da Fed seja pequeno, muitos investidores estão a preparar as suas carteiras para enfrentar este tipo de cenário perante o que se suponha que seja o início do processo de normalização da política monetária da maior economia do mundo. Mas... que estratégias no campo das obrigações convém manter em carteira perante um cenário deste género? A Funds People realizou um inquérito aos responsáveis pelos escritórios de algumas gestoras internacionais com o objetivo de conhecer que tipo de fundos de obrigações consideram ter mais sentido incluir nas carteiras num contexto de subida das taxas. Neste sentido, ideias de investimento não faltam. A maioria aposta em produtos globais flexíveis, estratégias que podem fornecer valor dentro de uma carteira. Seguindo uma ordem alfabética, os máximos responsáveis das entidades consultadas especificam o seu fundo de obrigações estrela para enfrentar um cenário de subida de taxas de juro nos EUA, e os motivos da eleição de cada produto 

Num contexto onde estamos dependentes do momento e do tamanho da primeira subida de taxas nos EUA, Nuria Trio, considera que ser um investidor em obrigações globais e flexíveis permite adaptar-se à natureza dinâmica do mercado global de obrigações, aproveitando oportunidades que surgem em diferentes momentos, lugares e ativos de todo o mundo. O fundo de obrigações que a diretora geral adjunta da Amundi para Ibéria recomenda ter em carteira é o Amundi Funds Bond Global Aggregate, um produto que – segundo explica –procura as melhores oportunidades nos mercados de dívida global, crédito corporativo e divisas. Gerido por Laurent Crosnier, o fundo realiza uma gestão ativa da duração modificada, num intervalo de 0 a 8. “Graças à nossa experiência, capacidade de análise, e controlo dos riscos, podem ser aproveitadas oportunidades de valor relativo criadas pelas políticas monetárias divergentes entre diferentes regiões, nas curvas das yields, diversificando ao nível do crédito, dívida emergente e divisas, cuja gestão pode contribuir, de forma significativa, para a rentabilidade, sempre que a liquidez da carteira não seja comprometida. Concluindo, uma combinação das visões macro a longo prazo com a gestão tática a curto prazo para um produto de ciclo completo”, indica Trio.

Segundo Aitor Jauregui, recentemente nomeado responsável de desenvolvimento de negócio da BlackRock para Portugal, Espanha e Andorra, no contexto atual dos mercados, os investidores procuram apoios nas estratégias tradicionais de rendimentos com o objetivo de gerar rendimentos periódicos ou rendimentos estáveis. De toda a gama de produto da qual dispõe na gestora para satisfazer estas necessidades, Jauregui escolhe o BSF Fixed Income Strategies. Trata-se de um fundo de obrigações flexíveis com um bias para a Europa, gerido por Michael Krautzberger, que se adapta facilmente às possíveis mudanças perante movimentos de taxas de juro como as que possam suceder nos próximos meses. A carteira do fundo é constituída por cerca de 30% de obrigações governamentais e pode investir até 70% em obrigações corporativas. Pode investir, no máximo, cerca de 25% em obrigações sem grau de investimento. Centra-se principalmente em estratégias de valor relativo, o que permite aos investidores beneficiar do crédito  e das oportunidades macroeconómicas. Tem um ponto de partida de duração zero, e tem flexibilidade para se colocar curto em duração, e assim oferecer aos investidores proteção face à subida das taxas de juro. O seu retorno anualizado a 31 de agosto foi de 2,07%.

Do Deutsche Asset & Wealth Management acreditam que, apesar da Reserva Federal ter adiado a subida das taxas de juro nos Estados Unidos e, muito embora na Zona Euro o BCE não fale, por esta altura, do endurecimento das condições monetárias, o que se torna claro é que não há mais margem para quedas na taxa de referência (já próxima de 0), pelo que se os investidores querem proteção perante as subidas de taxas ou perante um aumento da volatilidade nas obrigações, devem pensar em fundos não direcionais, com políticas de investimento mais flexíveis, que podem pôr em prática apostas relativas que os protejam parcialmente de possíveis subidas das taxas ou das correções no preço das obrigações; ou então devem optar por produtos que investem em obrigações com taxas de juro flutuantes, como é o caso do Deutsche Floating Rate Notes, uma das grandes apostas da gestora que Luis Ojeda dirige no mercado português e espanhol. Trata-se de um fundo de obrigações corporativas globais que investe em títulos com pagamento de cupões ligados às taxas de juro. O fundo investe em dívida de elevada qualidade creditícia (pelo menos 95% da carteira deve contar com rating de grau de investimento) e duração inferior a 12 meses. Desta forma, o investidor pode optar por uma alternativa de investimento conservadora em obrigações que ao mesmo tempo não seria afetada negativamente no caso de uma subida das taxas de juro.

A recomendação de Sebastián Velasco, diretor geral da Fidelity Worldwide Investment para Ibéria, na hora de encarar um cenário de subida de taxas de juro é incluir na carteira um produto de obrigações de curta duração, neste caso o Fidelity Funds Euro Short Term Bond Fund. Trata-se de um produto que investe em obrigações com uma duração média não superior a três anos. “Na entidade acreditamos que é um fundo ideal para uma subida de taxas devido às suas caraterísticas principais: uma duração curta, a sua divisa é o euro, e a sua capacidade de investir tanto em dívida pública como corporativa, mas sempre de alta qualidade creditícia, o que assegura uma diversidade e uma flexibilidade adequadas”, afirma.

No ambiente atual de taxas de juro Ramón Pereira considera que o maior risco que existe nas obrigações a médio/longo prazo é ter exposição a taxas de juro. O fundo que elege o responsável de Ibéria da Franklin Templeton Investements é o Templeton Global Bond, fundo de obrigações flexíveis que investe em obrigações de governos com um horizonte temporal de longo prazo. Atualmente o seu gestor, Michael Hasenstab, mantém uma duração média  de -0,03 anos. Geograficamente o fundo está fora dos Estados Unidos e da Zona Euro, onde não encontram valor. Sobreponderam por isso países como o México ou a Coreia, sítios onde para além de existirem maiores rentabilidades, o gestor acredita que pelos seus bons fundamentais económicos no longo prazo terão maiores retornos investindo em moeda local. No que toca às moedas têm duas posições muito importantes: curtos em euros e em yenes face ao dólar. “Resumindo, trata-se de um fundo sem exposição a taxas de juro, com uma qualidade creditícia média BBB+, e com uma rentabilidade média de vencimento de 4,55%. Consideramos que para um investidor com um horizonte temporal de 18 meses/2 anos é a melhor opção que dispomos no campo das obrigações dado o contexto atual de taxas”, afirma Pereira.

A grande aposta de Javier Dorado, diretor geral da J.P. Morgan AM para Portugal e Espanha é o JPM Income Opportunity Fund. O objetivo principal do fundo é conservar o capital, aproveitando as oportunidades de investimento que oferecem os mercados mundiais de obrigações e de divisas. A estratégia orienta-se para rentabilidade absoluta e não está limitada por nenhum índice de referência nem por ponderações sectoriais pré-determinadas. Na hora de gerir, Bill Eigen, máximo responsável pela estratégia, assegura não perder de vista nunca dois factores: por um lado, a importância de preservar capital; por outro, a sua filosofia de querer gerar rentabilidades positivas independentemente do contexto de mercado. Dão como exemplo os resultados positivos conseguidos pelo fundo depois do anúncio do ‘taper tantrum’ em 2013. Tal como refere Eigen, esta estratégia, “não é um fundo de obrigações tradicionais. O meu trabalho é não perder dinheiro, preservar o capital em períodos de correção e captar as oportunidades quando aparecem”, afirma.

A eleição de Laura Donzella, diretora da Nordea para Iberia e América Latina, para encarar uma possível subida das taxas de juro nos EUA é o Nordea 1 – Flexible Fixed Income Fund. O objetivo do fundo consiste em proporcionar aos investidores exposição diversificada aos mercados de obrigações de todo o mundo, oferecendo por sua vez uma rentabilidade maior comparativamente com quando se tem de manter posições em liquidez. Pretende aplicar uma estratégia neutral em relação ao mercado ao longo de um ciclo de investimento. O processo de investimento baseia-se na alocação ativa, tanto em termos táticos como estratégicos, numa sólida diversificação no conjunto de classes de ativos de obrigações e numa gestão de divisas ativa.

Gonzalo Rengifo, diretor geral da Pictet AM para Ibéria e Latam, não tem dúvidas de que a alternativa para o investidor conservador de obrigações são os fundos flexíveis. “Nos últimos anos algumas soluções de investimento em obrigações têm-se baseado em previsões sobre a economia global, com apostas muito concentradas e pouca diversificação. Outras incluíram obrigações high yield ou corporativas, com comportamentos excelentes, onde existe uma preocupação com a sua liquidez e com a correlação com as ações. Este ano esperamos uma subida de taxas de juro da Reserva Federal, cujo impacto pode ser importante, dado o status do dólar como moeda de reserva e de economias ligadas aos EUA. Neste contexto, para aforradores que procuram conservar património, ainda com rentabilidade limitada, a alternativa é o retorno absoluto com obrigações flexíveis e diversificadas. Um exemplo é o Pictet Absolute Return Fixed Income, com objetivo de rentabilidade Euribor  +3%, mediante igual contribuição de taxas de juro, spreads de crédito e divisas”, afirma. O fundo, gerido por Andrés Sánchez Balcázar, investe numa extensa gama de mercados e ativos, sem depender de previsões nem índices – que costumam sobreponderar países e empresas mais endividados. É uma carteira equilibrada, que identifica 3 a 5 temas a longo prazo, que influenciam as valorizações. Submete as suas estratégias a testes de stress em cenário favoráveis e negativos, equilibrando posições agressivas com defensivas.

Para Teresa Molins, diretora de Vendas de Clientes Institucionais da Pioneer Investments, o produto a ter em conta em carteira é o Pioneer Funds – Strategic Income, fundo de obrigações flexíveis com um bias para os EUA e com flexibilidade para poder mover-se pelos distintos segmentos do mercado de obrigações, o que permite posicionar-se da maneira que considerem mais adequada para enfrentar qualquer contexto de mercado. “O seu objetivo é proporcionar rentabilidades superiores aos fundos de obrigações tradicionais mantendo uma volatilidade reduzida, através de um investimento diversificado entre diversas classes de ativos de obrigações com menores correlações. A equipa gestora é liderada por Ken Taubes, que tem experiência nos momentos de subida de taxas”. Atualmente a carteira está posicionada de maneira conservadora esperando uma subida de taxas, com uma duração abaixo do Barclays U.S. Universal Index, o seu índice de referência (4,13 anos do fundo face aos 5,46 anos do índice). A sua exposição a obrigações do Tesouro Americano é muito inferior ao seu índice. Destaca por exemplo, a estratégia ‘barbell’ implementada em carteira, com uma subponderação na parte da curva dos 2 a 5 anos, sobreponderação a obrigações high yield de alta qualidade e exposição a sectores de crédito do sector financeiro, seguros e indústria básica.

Da Schroders acreditam que uma das estratégia que faz sentido num contexto de subida de taxas é a aposta no mercado high yield global e, em particular, na estratégia da casa denominada de Schroders ISF Global High Yield, gerida por Wesley Sparks. “A experiência histórica ensina-nos que as obrigações high yield podem ter um bom comportamento em cenários de subida das taxas nos EUA, já que a sensibilidade a essas subidas é menor nas obrigações com menor rating. Se a isso somarmos o facto de estarmos num contexto de crescimento abaixo dos 2%, no qual poucos ativos oferecem rendimentos interessantes, as obrigações high yield aumentam a sua atratividade”, afirma Carla Bergareche, diretora geral da Schroders para Portugal e Espanha. No caso deste fundo, o retorno efetivo da carteira no final de agosto era de 5,99%. A equipa gestora acredita que a incerteza em torno do crescimento da China ou da política da Reserva Federal já está descontada nos preços e continuam a existir oportunidades interessantes em empresas cuidadosamente selecionadas que apresentam balanços saneados e valorizações atrativas.

Para Juan Infante, responsável de Vendas da UBS Global AM para Ibéria, o aumento das taxas traduzir-se-á numa diminuição de preços, o que, conjuntamente com a incerteza atual, fará com que seja mais difícil a gestão das carteiras. Nesse sentido, Infante acredita que normalmente as carteiras de obrigações estão ligadas a um índice de referência, e isso faz com que disponham de pouca margem de manobra num contexto de mudança. O fundo que da entidade aconselham a ter em carteira é o UBS Global Dynamic, produto que segue uma estratégia flexível que procura maximizar os rendimentos, tomando posições ativas em taxas de juro, crédito e moedas a nível mundial, tanto em investimento direto como através de derivados, mantendo uma duração global positiva e uma exposição longa líquida aos mercados de obrigações.