Haitong: "A Zona Euro deve crescer em torno de 1.2% em 2019 enquanto os EUA ainda poderão avançar 2.5% este ano"

Mapa mundo
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(Perspetivas para a segunda metade de 2019, traçadas por Marta Carvalheiro e Sandra Utsumi, do Haitong Asset Management e Haitong Bank, respetivamente)

O que esperam de cada uma das principais economias no ano de 2019?

Após o primeiro semestre marcado pela incerteza em torno da guerra comercial entre os EUA e a China, o cenário global deve refletir os efeitos colaterais dessa incerteza com a economia mundial a perder momento ao longo do segundo semestre. A retoma das negociações comerciais entre os EUA e os seus principais parceiros comerciais, em especial a China e a EU, ainda deve ser marcada por incerteza e risco de novas sanções em caso de maior enfraquecimento da economia norte-americana em nossa opinião.

Face ao risco de uma recessão ainda em 2019, o BCE e a FED devem retomar o ciclo de expansão monetária a partir de Julho. Acreditamos que essa abordagem, a princípio, deva reduzir o risco de uma desaceleração mais aguda da economia em 2019. Entretanto, o ciclo recente de quebra nos indicadores de confiança nos negócios refletivo nos PMIs e Índice de Confiança Económica da Comissão Europeia leva-nos a crer que a atividade económica na Zona Euro seja menos favorável que nos EUA. Na nossa visão a Zona Euro deve crescer em torno de 1.2% em 2019 enquanto os EUA ainda poderão avançar 2.5% este ano. Portugal e Espanha devem ter uma performance mais positiva que a média da Zona Euro com crescimento de 1.6% e 2.2% respetivamente em 2019.

O foco no crescimento doméstico e a estratégia de diplomacia face às ameaças comerciais dos EUA evitou que a China observasse um “hard landing” da economia nos últimos 12 meses. Adicionalmente, a abertura gradual do mercado de capitais e maior atuação do People’s Bank of China no sentido de manter os estímulos monetários contribuíram para suportar a continuidade dos grandes projetos (One Belt One Road) e do crescimento do mercado doméstico de consumo. Esperamos um crescimento do PIB em 2019 de no mínimo 6.0% e uma desaceleração gradual em torno de 5.0% a 5.5% nos próximos 5 anos.

Acreditamos que a Ásia continuará como principal fonte de crescimento global em 2019 com expansão média de 4.7% em 2019 (4.9% em 2018). Neste cenário, países como o Japão, Coreia do Sul, Hong Kong e Singapura devem observar um leve abrandamento do crescimento sem riscos visíveis de vulnerabilidade pois deverão beneficiar-se do crescimento gerado pela China e o baixo custo de oportunidade das taxas reduzidas nos EUA e Europa.

Quais as classes de ativos melhor posicionadas para uma boa performance no segundo semestre?

Acreditamos que a nova redução do custo de oportunidade (carry cost) em euros e dólares (EUA) possa beneficiar uma alocação de risco a contemplar prazos mais alargados e spreads relativamente estáveis no caso do crédito e obrigações. Adicionalmente, a redução dos juros deve limitar os receios em torno da desaceleração da atividade económica sobre os ativos de maior risco como ações, crédito corporativo de segunda linha (high yield), moedas emergentes e commodities. Entretanto, estamos atentos à capacidade da economia da zona Euro em incorporar a expansão monetária do BCE na forma de retoma no investimento. Caso o investimento produtivo permaneça estagnado no 3º trimestre, acreditamos que haja um risco acrescentado de desaceleração no 2.º semestre que poderá prejudicar a retoma da economia da zona Euro em 2020.

À medida que os acordos comerciais com os EUA avancem, acreditamos que os setores exportadores poderão apresentar resultados mais positivos que os setores voltados à economia doméstica na zona euro. Mantemos uma posição de cautela quanto à performance dos ativos em Libra Esterlina devido à perspetiva pouco animadora do Brexit ainda em 2019.

Que riscos monitorizam por esta altura com maior preocupação e porquê?

Os maiores riscos estão associados à incerteza das guerras comerciais e a incapacidade dos bancos centrais em avançar com uma normalização de estratégias de política monetária, em nossa opinião. O fortalecimento do setor bancário Europeu e o contínuo “deleverage” do crédito do setor privado dão algum suporte aos ativos de risco na Europa. Entretanto, o avanço das taxas de juros negativos da dívida soberana de grande parte dos países da zona Euro pode levar a maior procura por parte dos participantes do mercado por ativos de menor qualidade. Caso a economia não seja capaz de responder aos estímulos do BCE esses ativos de menor qualidade estarão mais vulneráveis em 2020 na nossa opinião.

Quais as classes de fundos de investimento  que recomendam para o segundo semestre de 2019 e porquê? Quais os temas onde procuram alternativas de investimento?

Conforme referido anteriormente, tendo em conta a incerteza sobre as perspetivas para crescimento económico global, achamos que os investidores devem fazer um asset allocation balanced, de preferência com fundos de investimento de gestão activa, dado que acreditamos que são nos períodos de maior incerteza que a gestão seletiva e oportunística acrescenta mais valor.

A procura por Yield e uma maior estabilização nas expectativas de crescimento nos países de mercados emergentes, grande parte suportado pelo “soft landing” da economia chinesa em virtude dos estímulos introduzidos pelas autoridades locais, favorece uma maior procura por ativos de EM. Mais uma vez, achamos que o “local expertise” é crucial, tanto no mercado de dívida como acionista.

Nos mercados desenvolvidos, devido à enorme dispersão sectorial que assistimos ao nível de performance YTD dos principais índices acionistas (ex: Food&Beverage/Tecnology +25% e Telecoms -3.5%), faz com que os índices como um todo tenham experimentado reduzida volatilidade, escondendo um forte risco quer dos sectores, mas, principalmente, dos títulos individuais. Assim, estamos bastante atentos a oportunidades que possam surgir, principalmente através de uma gestão dinâmica de stock picking. Aplicamos a mesma abordagem seletiva nos ativos de crédito, principalmente em dívida High Yield.

Olhando para os próximos tempos, o nosso foco estará centrado:

1)    nas pistas sobre as políticas monetárias dos principais bancos centrais (no sentido de aferir os próximos movimentos de introdução de estímulos), mas também nas politicas orçamentais, dado que medidas expansionista poderão dar um suporte decisivo para o crescimento económico;

2)  na publicação dos dados macroeconómicos das principais geografias, nomeadamente os referentes ao crescimento e, sobretudo, os relacionados com a inflação;

3)  no “guidance” dado pelas empresas sobre as suas perspetivas para o 2ª semestre (devido à possível necessidade de alguma revisão em baixa das estimativas dos “earnings” devido aos impactos da guerra comercial e riscos de abrandamento económico);

4)  nos desenvolvimentos das negociações comerciais entre EUA e China;

5) nas negociações decorrentes do Brexit, que voltarão a gerar instabilidade nos mercados e oportunidades de investimento.