Guia básico sobre como selecionar um ETF temático

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As estratégias temáticas estão a atrair a atenção dos investidores. Ainda que inicialmente o interesse pelos temáticos tenha sido canalizado através dos fundos de gestão ativa, pouco a pouco os fluxos também estão a chegar aos produtos de gestão passiva, onde nos últimos anos os provedores de ETF puseram a funcionar a sua máquina de lançamento de novos produtos. Os quase trezentos fundos cotados temáticos registados na Europa acumulam um património que – segundo dados da Morningstar – vão a caminho dos 10.000 milhões de euros. Mas… que fatores há que ter em conta no momento de selecionar um ETF temático?

A proposta de investimento temática baseia-se na ideia de selecionar tendências futuras antes de serem reconhecidas por outros participantes do mercado e de lhes ser atribuído um preço. Para apostar nestes produtos, o investidor não só deve ter convicção sobre o potencial disruptivo da tendência, mas também que esse potencial ainda não esteja refletido nas cotações. “Na prática, representa investir em empresas que, de um modo geral, são menos cíclicas, mais conectadas ao crescimento e focadas na inovação e a tecnologia através de produtos mais fáceis e simples de explicar ao cliente”, sublinha André Themudo, responsável de negócio de distribuição da BlackRock para Portugal, Espanha e Andorra.

No processo de seleção de um ETF temático, o investidor deve ter em conta vários fatores-chave. Em primeiro lugar, a procedência dos lucros das empresas que fazem parte da carteira.

“A maioria dos ETF temáticos selecionam ações em função dos lucros que as empresas obtêm de um conjunto de atividades. Por exemplo, um fundo de energia alternativa pode fazer uma filtragem segundo a percentagem dos lucros provenientes da energia solar, a eólica ou a ondomotriz. A desvantagem de uma abordagem baseada exclusivamente neste aspeto é que os temas evoluem e uma abordagem quantitativa pode não ser sólida ao longo do tempo”, explica Hortense Bioy, diretora de Análise de Fundos Passivos para a Europa da Morningstar.

Para resolver este problema, alguns provedores de ETF temáticos dispõem de comités de especialistas que se reúnem regularmente para decidir que ações cobrem melhor o tema desejado, complementando assim a análise quantitativa com uma avaliação qualitativa. Segundo Bioy, “isto permite que a estratégia se adapte facilmente às mudanças no panorama do investimento, ainda que também seja opaca e não esteja isenta de um certo nível de subjetividade”.

Por outro lado, além de saber como se realiza a seleção de ações, o investidor deve conhecer como o ETF as pondera. Uma abordagem padrão, baseada na capitalização de mercado, derivará numa forte concentração num conjunto de valores. Para corrigir isto, a maioria dos ETF limitam-se à exposição por empresa, setor e país. Outra solução que aplicam os provedores é construir uma carteira equiponderada, o que reduz a influência das empresas maiores e dá como resultado um maior viés em direção às de pequena capitalização.

“Alguns fundos implementam um sistema mais complexo, que prioriza as empresas que oferecem uma maior exposição ao tema subjacente. Por exemplo, a uma empresa de robótica especializada como iRobot seria dada uma maior ponderação do que a um conglomerado como a Siemens, para quem a robótica constitui uma parte mais pequena do seu negócio”, indica Bioy.

O último aspeto a ter em conta no processo de seleção de um ETF temática é o seu preço. Apesar destes produtos cobrarem comissões mais baixas do que os seus homólogos ativos, dentro do universo dos fundos cotados estão entre os mais caros do mercado. O TER médio situa-se em 0,59%, face aos 0,38% dos ETF de ações, aos 0,37% dos smart beta e aos 0,35% dos setoriais. Fazendo a mesma análise, mas ponderando por ativos, o resultado é muito semelhante.

“Tratam-se de produtos que para um provedor requerem um maior custo por análise e gestão de dados, o seu baixo volume de ativos e a escassa competência faz com que as tarifas continuem a ser elevadas”, aponta a especialista.

Além disso, o investidor que compra um ETF temático deve compreender os vieses a que o produto está exposto para estar consciente dos riscos. Em primeiro lugar, dado que são estratégias que tendem a dar uma maior ponderação às empresas de pequena capitalização, historicamente mostraram uma maior volatilidade que o mercado.

Em segundo lugar, está o facto de que estes produtos mostram certos vieses por estilo. A temática da tecnologia, por exemplo, favorece empresas growth e de momentum. “Se o factor perder o favor dos investidores durante um tempo prolongado pode derivar num pior comportamento do produto face ao mercado nesse período”, sublinha a especialista.

Isto leva a uma terceira questão, também complexa: como medir os resultados. “A natureza idiossincrática dos fundos temáticos faz com que avaliar a sua evolução possa tornar-se difícil. Ainda que os ETF temáticos possam comparar-se aos índices genéricos ou setoriais, o recomendável é criar grupos de pares mais específicos, quando isso for possível”, aconselha Bioy. São aspetos, todos eles, a ponderar no momento de investir em produtos que cada vez mais estão na moda.