Guerra comercial: Os investidores devem preocupar-se com os seus investimentos?

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O medo de uma guerra comercial aumentou por causa dos planos anunciados pela administração Trump de aplicar tarifas punitivas num montante até aos 60.000 milhões de dólares em importações da China. Os Estados Unidos têm agora 15 dias para anunciar a que produtos se aplicarão as medidas. Como resposta, o Ministério do Comércio da China anunciou os seus próprios planos tarifários de 3.000 milhões de dólares para as importações de carne de porco, aço, alumínio reciclado, ginseng e vinho dos EUA. Portanto, pode-se dizer que, até ao momento, os valores-alvo são relativamente modestos em comparação com o comércio bilateral de bens entre os dois países, de mais de 600.000 milhões de dólares.

Por exemplo, as tarifas previamente anunciadas por Donald Trump sobre as importações de aço e alumínio na realidade teriam um impacto mínimo na China. As exportações de aço da China para os EUA representam cerca de 0,1% da produção total e as exportações de alumínio representam cerca de 2% da produção total. No entanto, existe o risco de que estas notícias marquem o início de negociações comerciais difíceis para vários setores entre as duas maiores economias do mundo. Como é que isso pode afetar os mercados emergentes? Na M&G Investments e na Legg Mason procuraram responder a estas perguntas.

Segundo Ana Cuddeford, Diretora de Investimentos da equipa de multiativos da M&G Investments, por si só, as medidas anunciadas até agora teriam, se implementadas, um efeito limitado sobre a economia do EUA. No entanto, a especialista considera que devemos ter em conta a possibilidade de que o seu impacto cresça com o tempo, por exemplo, nos empregos dos setores em questão, como o automóvel, se estas medidas se traduzirem num aumento dos preços dos automóveis e, portanto, menor procura. “O que preocupa muitos investidores é a possibilidade de que estas medidas sejam apenas o primeiro passo, tanto em termos de até onde chegarão os Estados Unidos, como nas possíveis represálias dos outros países”, afirma.

A hipótese central da equipa é que não haverá uma guerra comercial sem piedade, mas, como a situação muda diariamente, permanecerão vigilantes. “A globalização tem desempenhado um papel importante no retorno de todos os ativos das obrigações nas últimas décadas, quer seja pelo incentivo aos dados de inflação e menores yields das obrigações, ou graças à capacidade das multinacionais de produzirem lucros mais sólidos do que os do passado. O protecionismo pode ajudar a reverter estas tendências, embora ainda não se saiba se é possível desmantelar a globalização num mundo cada vez mais interligado, ou se os políticos estão, de facto, dispostos a fechar as suas economias. No entanto, neste momento, não acreditamos que chagámos a essa situação”, acrecenta.

Na RARE, uma subsidiária da Legg Mason, entendem que as medidas tomadas pela Administração Trump desde que este assumiu o cargo aumentaram o risco político nos Estados Unidos. “Alguns membros do mercado consideram que as recentes flutuações nos preços das ações indicam que os mercados acionistas estão a descontar esse aumento de risco, ou seja, o problema não está tanto no comércio, mas na incerteza sobre a situação política geral. Uma vez que as tarifas afetam os fluxos comerciais, os operadores de infraestruturas de pagamento, como portos, rodoviárias e a rede ferroviária, serão os mais expostos à tarifa imposta pelos Estados Unidos às importações chinesas”.

Como indicado pela entidade, se a tarifa proposta sobre as importações chinesas for finalmente implementada, isso provavelmente vai mudar a direção do fluxo comercial que sai da China, e não o volume. Por outras palavras, é provável que as mercadorias sejam exportadas para outros países, em vez dos EUA. Para os operadores portuários, isso pode significar que o volume de transporte é mantido ou até aumentado, o que teria um efeito positivo na infraestrutura necessária para sustentar a mudança de direção do comércio. Por exemplo, a alteração na frequência na rota da China para os EUA “pode ser preenchida por um aumento nos embarques da China para a Europa”, preveem.