Gestores na primeira pessoa: o que está a ser posto à prova na gestão dos fundos monetários?

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ludwg, Flickr, Creative Commons

Gerir fundos de mercado monetário talvez se tenha tornado uma das tarefas mais “duras” no mundo da gestão de ativos, nos últimos tempos. Taxas extremamente baixas têm impossibilitado a obtenção dos resultados de outrora nestes produtos mas, ainda assim, no mercado português estas continuam a ser estratégias dominantes que ainda captam investimento. Mas quais os desafios que os gestores destes fundos mais ‘sentem na pele’?

Embora acreditem que serão sempre necessários ajustes à categoria num futuro, da GNB Gestão de Ativos, Grupo NOVO BANCO,  entendem que “esta categoria irá prevalecer”. Amit Maugi, da equipa de obrigações da entidade, destaca que perante o contexto de taxas de juro atual é importante que os fundos “apresentem uma estrutura de custos e de comissionamento atrativa/competitiva para o cliente de forma a perspectivar uma rendibilidade interessante para o cliente em termos do binómio risco/retorno”. Preservar capital, diz, deve manter-se como um dos “vetores estratégicos que deve ter maior importância na gestão de fundos desta categoria”, pelo que o risco “deve ser muito bem avaliado nas suas diferentes métricas”.

Igualmente, Paulo Duarte, da BPI Gestão de Activos, é outro dos profissionais que acredita que o desafio principal na gestão dos fundos é “manter os perfis de elevada liquidez”, resistindo a algumas “tentações”. Evitar situações como “um eventual aumento ligeiro de yield à custa da queda abrupta de liquidez” ou “não cair na tentação de correr risco excessivo como forma de melhorar ligeiramente a rentabilidade do produto”, são alguns dos pontos a monitorizar... e a resistir.

Outro dos desafios que o profissional sente no dia-a-dia prende-se com o diálogo. Sendo “o rendimento gerado pela carteira de investimento muitas vezes insuficiente para absorver variações momentâneas de preço”, acredita que é essencial  “promover uma boa comunicação de forma a manter a confiança dos clientes”. Sublinha por isso a necessidade de  “uma comunicação ativa e atempada com a estrutura comercial para lhes dar conta de eventuais oscilações extraordinárias no valor da unidade de participação”.

O que passa ou não no crivo da carteira

Obviamente que é na constituição das carteiras dos fundos monetários que residem os grandes dilemas de quem para elas “olha” diariamente. Fernando Nascimento, gestor da CA Gest, lembra que os fundos do mercado monetário “enfrentam desafios imensos para devolver aos participantes uma rendibilidade competitiva face à tradicional aplicação alternativa, que são os depósitos a prazo”. Precisamente as taxas de remuneração dos depósitos a prazo, “que constitui o grosso das aplicações nestes fundos, sofreu uma redução dramática e penalizou severamente a rendibilidade da classe”, como recorda o profissional.

Outras aplicações, como as obrigações de curto prazo, “deixaram igualmente de proporcionar yield que justifique a adição de risco de preço e liquidez aos portefólios e o mercado de papel comercial, com taxas de juro mais atrativas, encontra-se ainda bastante estreito não permitindo uma verdadeira e efetiva diversificação”, diz.

Joel Carvalheira, responsável da área de rendimento fixo da Caixagest, tira conclusões semelhantes e dá o testemunho do que se tem passado com os portfólios na entidade. Representando os depósitos a prazo “a grande fatia da carteira de investimentos”, elegeram a “preferência por depósitos mais longos”, que “tem gerado valor, devido à trajetória descendente das taxas de remuneração dos depósitos em todos os prazos”. No que toca ao papel comercial de curto prazo, olham para empresas que “apresentam métricas de crédito robustas e rácios de liquidez adequados”, selecionando as empresas de forma conservadora. Pontualmente, diz, têm investido em “obrigações de taxa variável de prazo inferior a 2 anos, em emitentes com boa qualidade creditícia”.

Ainda sobre a constituição dos portfólios, Rui Alpalhão, da Fundbox, lembra que em Portugal o maior desafio “é o virtual desaparecimento de colocações de papel comercial, que foram num passado recente importantes para a rendibilidade dos fundos de mercado monetário”. Aviso semelhante chega de Fernando Nascimento, que lembra o “processo de restruturação” da banca nacional, que tem “reduzido o número de contrapartes elegíveis para aplicações em depósitos a prazo, o que dificulta a diversificação do risco e coloca aos gestores o desafio extra de cumprir limites de exposição de 20% a cada entidade”.