Gestão ativa da exposição a fatores de risco

Nicolas de la Rosa
Vítor Duarte

Nicolas da Rosa é o responsável de vendas institucionais da Degroof Petercam Asset Management (DPAM) para Portugal e Espanha e em entrevista à Funds People descreveu a entidade gestora belga, com origens no século XIX e que gere atualmente mais de 35 mil milhões de euros em ativos, como uma gestora diligente, sustentável e com um processo de investimento robusto. “A DPAM é um investidor sustentável, pioneiro e inovador no tema do investimento responsável e sustentável. A empresa integra critérios ESG em todas as classes de ativos e temas ao mesmo tempo que assume um caráter de acionista ativo”, introduz. A entidade gestora tem também, segundo Nicolas da Rosa, um forte enfoque em research, que se suporta nas equipas de análise quantitativa e fundamental da casa, bem como um grande foco na gestão do risco.

Outro dos campos de especialidade da entidade gestora é o investimento em imobiliário europeu cotado. Investem em REITs europeus numa diversidade de segmentos, sejam eles residencial, comercial ou logística, mas cuja qualidade da gestão e ativos, bem como a geração de cash-flow, se destaquem.

Mas em Portugal para participar na 3ª edição da Funds Talks, o profissional trouxe consigo uma das estratégias Global Uncontrained da casa de investimentos belga para apresentar a  uma plateia de mais de 90 investidores e profissionais de investimento. Falamos do DPAM L Bonds Universalis Unconstrained Fund, um fundo que se propõe a criar uma “outperformance consistente e disciplinada, num enquadramento bem definido de controlo do risco”, descreve Nicolas da Rosa. “A estratégia procura investir em emissões com o perfil de risco-retorno favorável em qualquer região do globo. O valor acrescentado é gerado pelo investimento nos segmentos mais atrativos do universo de fixed income, mas também por via da diversificação em termos de ratings, moedas e perfis de crédito”, introduz o profissional da entidade gestora belga.

Gestão do risco

Com uma abordagem de retorno total, o fundo tem o seu suporte numa gestão ativa da exposição a cada fator de risco, em termos de moedas, taxas e spreads de crédito. “O caráter unconstrained é definido pela flexibilidade para investir em qualquer segmento líquido do mercado de obrigações a uma escala global. Respeitando um orçamento de value-at-risk (VaR) máximo de 3%, temos sido capazes de preservar e crescer o capital ao longo do nosso horizonte de investimento, de cinco anos, pelo menos, e que tem resultado num track-record sólido e acima da média”, comenta.

“Exploramos as emissões disponíveis em termos de valuation relativa por unidade de volatilidade, em Nicolas de la Rosatodos os segmentos de mercado. Isto permite-nos definir pontos de inflexão que alteram o equilíbrio da alocação entre dívida governamental e crédito. A consequente exposição a moedas, taxas ou fatores de risco de crédito são balanceados então com base na nossa convicção”, explica Nicolas da Rosa. “As condições de investimento mais incertas são refletidas no posicionamento em termos de risco do portfólio, medido pelo consumo do orçamento de VaR. No momento em que o outlook para uma determinada emissão melhora, e o valor de longo-prazo ressurge, a carteira passa a refletir um aumento da convicção nesse consumo do orçamento de risco, sempre respeitando o limite de 3% ex-ante mensal. O fundo torna-se mais robusto através deste processo minucioso de procura do ponto ótimo de diversificação e equilíbrio”, expõe o profissional. Ao longo dos últimos 10 nos, o VaR do fundo  flutuou entre 1,5% e perto de 3%, enquanto o perfil de duração modificada flutuou entre os 1,5% e 8,5%.

Convicção

Esta gestão diligente do risco combinada com um processo de construção de carteiras de elevada convicção, que combina abordagens top-down e bottom-up, resulta hoje em dia numa carteira que mostra uma convicção contida no que se refere à exposição a taxas, moedas, spreads e outros fatores de risco. O consumo de VaR assenta nos 2,15%. “A nossa construção de carteiras de longo-prazo é dirigida pela nossa leitura estrutural – ao invés de cíclica – da desglobalização e da tendência que se verifica globalmente de uma política monetária de taxas reais baixas por um longo período”, comenta Nicolas da Rosa. A convicção na casa de investimentos belga é de que, no médio prazo, entrámos num período mais acomodatício da política monetária tanto em mercados desenvolvidos como emergentes, à medida que o crescimento global desacelera. “Os mercados financeiros não temem a desaceleração do crescimento. Podemos inclusive enfrentar uma recessão geopolítica entre 2019 e 2020. Isso explica porque mantemos uma exposição equilibrada em termos de fatores de risco sem recurso a estratégias de cobertura dos riscos extremos. À medida que as taxas de longo-prazo na Zona Euro, Estados Unidos, Reino Unido e Japão se vão ancorando, esperamos que as obrigações corporativas investment grade de qualidade proporcionem um excedente de retorno relativamente às obrigações de dívida pública. Em moeda, alocamos um mínimo de 50% ao euro, a nossa moeda base, e distribuímos o restante em dólares -  cerca de 27% -, moedas emergentes – 8,5%, e outras moedas”, conclui Nicolas da Rosa.