Gero Jung (Mirabaud AM): “Estamos convictos de que a Fed fará três subidas no próximo ano”

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Cedida

Quais são os principais eventos que podem constituir fontes de risco nos próximos seis meses e porquê?

Vislumbramos três principais fontes de risco. Em primeiro lugar, a contínua subida da dívida chinesa – especialmente no sector privado, e em concreto nas empresas detidas pelo Estado – é uma fonte de preocupação. No global, a dívida chinesa privada cresceu mais de 100% do PIB nos últimos 10 anos. A rápida expansão do crédito – vista também noutras economias – pode levar a bolhas especulativas. O segundo risco que vemos tem que ver com o sector bancário, especialmente o italiano. Apesar de algum refinanciamento já ter tido lugar, os bancos italianos continuam a precisar de mais injeções de capital. É provável que este problema continue por resolver no curto prazo, também devido às eleições que irão decorrer na primeira metade de 2018. Um terceiro risco tem a ver com o potencial de que as taxas de juro nos EUA cresçam mais rápido do que é antecipado pelo mercado atualmente. No nosso entender, a previsões de apenas uma subida de taxas no próximo ano configura-se como algo muito baixo; estamos mais convictos em três subidas no próximo ano. Na verdade, se o mercado de trabalho ficar ainda mais comprimido e a pressão salarial começar a ter mais substância, as taxas poderão subir de forma muito mais acentuada, com repercussões negativas, por exemplo, para o vulnerável défice da conta corrente do país e para os mercados emergentes.

Como é que evoluirá a política monetária no próximo ano nas principais economias desenvolvidas? Haverá um cenário positivo para o mercado de obrigações? Existe valor em algum mercado de obrigações de mercados desenvolvidos?

O principal risco é o potencial de mais e menos graduais subidas de taxas nos EUA. Acreditamos que o benchmark das yields das treasuries norte-americanas a 10 anos cresça ainda mais, e os níveis se aproximem dos 3% no final do próximo ano.

Ações vs obrigações: o que pode ser lido nas valorizações?

Claramente, ambos os ativos estão caros. De uma perspetiva de valorizações pura, notamos que as ações norte-americanas estão caras, com rácios de PE de 18 e acima (para o S&P 500). O nível de valorizações das ações europeias também é elevado, mas mais baixo, e essa é uma das razões pelas quais preferimos ações europeias em vez de norte-americanas; recomendamos, por isso, uma sobreponderação de ações europeias e uma postura neutral em ações de EUA. No que toca às obrigações, apesar de continuarmos investidos em obrigações corporativas (na Europa e nos Estados Unidos), nós recomendamos a subponderação aos EUA e em obrigações soberanas europeias, pois acreditamos que as taxas de juro continuam demasiado baixas.

No segmento de mercados emergentes, onde é que veem mais valor e simultaneamente risco?

Em termos genéricos recomendamos uma perspetiva neutral nas ações de mercados emergentes. Continuamos a gostar de ações chinesas (on e off-shore), mas também ações indianas. Os riscos estão claramente focados naqueles mercados emergentes com um défice por conta corrente elevado. Esses países dependem financeiramente dos mercados estrangeiros. Os países onde é provável que os défices por conta corrente sofram um agravamento durante os próximos anos são a Turquia e a África do Sul.

Qual a sua opinião sobre a situação de Portugal e a significativa redução do prémio de risco do país?

Como acreditamos que o BCE deverá continuar com a sua política monetária acomodatícia e, por isso, deverá manter o seu programa de compras para lá de setembro de 2018, é provável que os países periféricos lucrem com estas ações. Em Portugal, acreditamos que o sector bancário ainda representa uma chave de vulnerabilidade, com rácios de rentabilidade (ROA, ROE) claramente atrasados face a outros pares europeus. Mas, em termos globais, os dados macro têm sido positivos, com o crescimento a superar o da zona euro como um todo, e o desemprego a seguir numa rota descendente.