Geoff Blanning (Schroders): “Ao tentarem criar inflação os Bancos Centrais estão na verdade a criar oferta”

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Há cerca de três meses atrás, Mathew Michael, product manager de dívida de mercados emergentes e commodities da Schroders, mostrou-se perentório: “As commodities apenas se comportam negativamente quando a inflação está em queda”, dizia no âmbito de uma conferência organizada pela gestora britânica no CCB.

Três meses volvidos, Geoff Blanning, head of commodities da Schroders, em conversa com a Funds People, começa por corroborar essa ideia. “Numa carteira, os investidores devem ter sempre alguma proteção relativamente à subida de inflação no futuro. Embora a inflação esteja em níveis muito baixos atualmente, a História tem vindo a provar que esses períodos são habitualmente pouco duradouros, acabando a inflação por subir em algum momento no futuro”, iniciou. É precisamente nesse tipo de contexto futuro, em que “os vários tipos de ativos que os investidores têm em carteira (fixed income com yields muito baixas, e até mesmo ações em máximos históricos) começarão a entrar em dificuldades, que as commodities poderão executar um verdadeiro papel de hedging contra a inflação”. Para os bancos centrais, e segundo o profissional, “é geralmente mais fácil criar inflação, do que, por outro lado, tentar pará-la”.

Efeitos secundários da política monetária?

Nesse caminho que os Bancos Centrais têm percorrido na tentativa de criação de inflação, o profissional fala também de um efeito secundário, pouco intuitivo, das atuais políticas monetárias nos principais países desenvolvidos. Referindo-se ao segmento de matérias-primas agrícolas, para o especialista, “embora o bom tempo seja um factor que tem permitido um aumento das yields nas colheitas, a própria disponibilidade de capital dos produtores tem sido maior”, realça, sublinhando que “os bancos têm dinheiro para emprestar a taxas mais baixas, e assim financiar continuamente os produtores que continuam a produzir cada vez mais”. Deste modo, “ao tentarem criar inflação, os Bancos Centrais estão na verdade a criar oferta”, permitindo que empresas com balanços menos saudáveis continuem a operar graças ao acesso a dinheiro ‘barato’.

Perspetivas nos principais segmentos

Traçando também um outlook para as grandes áreas de commodities, Geoff Blanning começou por enfatizar a especial atenção com que olham para o gás. “Gostamos do sector de energia, e a esse nível preferimos o gás”, indicou, explicando o contexto de produção. “Nos EUA, o gás natural ainda é um mercado bastante fechado, pois não existe possibilidade de exportação para outros países. Para além disso o gás natural liquefeito ainda está numa fase muito prematura”, pontualiza. Suporta esta preferência pela commodity com o facto de esta continuar “extremamente barata” e a sua “oferta ainda ser estável”. A procura por seu turno “continua a incrementar-se principalmente porque o gás está a substituir o carvão na geração de eletricidade”.

No campo dos metais a preferência recai nos metais preciosos: ouro e prata. O profissional refere que “existe um novo bull market que começou no final do ano passado, pelo que devemos continuar a assistir a ganhos, embora possamos enfrentar alguma correção”. Não deixa por isso esquecer uma velha máxima: “O ouro é uma ótima proteção contra a inflação”. Em termos mais latos, contudo, o segmento dos metais recebe da parte da gestora alguma precaução, pois a China “é a grande consumidora dos metais básicos” e, como é sabido, “esta economia continua a debater-se com alguns problemas”.  

No sector da agricultura, atualmente, o café e o açúcar levam um sinal positivo por parte da entidade. Sobre este último aponta que o preço “tem sofrido recentemente um certo rally”, pois a maioria das grandes produções regionais do mundo têm tido problemas com o tempo. Para o profissional, “o açúcar está muito barato e, repentinamente, a oferta não corresponde, pelo que vemos um défice no mercado e os preços sobem”. Relativamente ao café a situação é idêntica: “os preços colapsaram, depois de alguns problemas este ano com as colheitas brasileiras – o Brasil é o maior produtor de café do mundo – os stocks de café, em termos globais estão em níveis tão baixos como há 50 anos atrás”.