Gabriela Figueiredo Dias: “O paradigma do investimento focado apenas em retorno financeiro parece estar em crise”

Gabriela Figueiredo Dias CMVM
Cedida

O mote para a conferência anual da CMVM deste ano não poderia ser mais atual: finanças sustentáveis. Uma temática que, Gabriela Figueiredo Dias, presidente da CMVM, acredita constituir “uma oportunidade de transformação do sistema financeiro”.

No seu discurso de abertura da conferência anual, a presidente do regulador quis ser cautelosa na mensagem que passava à assistência. Embora use a palavra “oportunidade” para classificar esta temática, deixou um alerta bem claro. “O tema da sustentabilidade apresenta também um risco relevante de superficialidade, opacidade e oportunismo”, referiu.

Ciente de que para muitos investidores o retorno do seu investimento, hoje em dia, é avaliado por outros factores, como “o impacto social, ambiental e cultural”, a responsável pelo regulador acredita que estão reunidas condições para que estes objetivos sejam integrados no “dever fiduciário dos gestores sem o desviar do dever central de criação de valor para os acionistas”.

Paradigma do retorno financeiro: crise

Gabriela Figuiredo Dias foi perentória na mensagem que passou aos presentes na audiência: “O paradigma do investimento focado apenas em retorno financeiro parece estar em crise”. Os próprios investidores institucionais, sublinhou, começam a preocupar-se com a temática e os dados parecem comprová-lo. “O volume de emissões de obrigações verdes atingiu cerca de 140 mil milhões de euros em 2017, aumentando 14 vezes desde 2013”, apontou a profissional, indicando também que “os desinvestimentos em ativos intensivos em carbono ascenderam a 5 biliões de euros por ano”.

O lado da oferta também não tardou em reagir a esta tendência. Gabriela Figueiredo Dias assinala “o desenvolvimento de instrumentos de investimento de impacto”, por parte de algumas entidades. Outros instrumentos que têm aliado o propósito social ou ambiental ao objetivo de rendibilidade também foram lembrados. “Obrigações verdes; empréstimos verdes, obrigações de impacto, fundos de investimento social, fenómenos de blended finance, entre outros, representam instrumentos que visam impactos positivos em domínios como a preservação ambiental, a proteção social, o acesso à saúde ou a escolaridade”, reiterou.

Os gestores de ativos não foram esquecidos, nomeadamente na sua tarefa de corresponder às expectativas dos seus clientes. “Igualmente consistente tem sido a exigência colocada por investidores individuais aos gestores de ativos para a escolha de investimentos sustentáveis que ofereçam uma garantia de combinação de propósito e rendibilidade, impondo assim um cuidado adicional na fundamentação das decisões de investimento”, sublinhou.

Leia o discurso de Gabriela Figuiredo Dias aqui.