Fundos são responsáveis por mais de metade da atividade de investimento imobiliário no primeiro semestre

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mauromaori, Flickr, Creative Commons

Os primeiros seis meses do ano foram marcados por uma recuperação e crescimento positivos para a economia portuguesa, impulsionados em grande parte pelo aumento das exportações. Este cenário, mais sorridente do que nos últimos anos, é também caracterizado por um aumento e dinamismo do mercado imobiliário de investimento comercial durante o primeiro semestre do ano. Estas são algumas das conclusões presentes no WMarket Review 2017 — 1º semestre, da consultora imobiliária Worx, um estudo que analisa o mercado imobiliário em Portugal e que perspetiva para 2017 um resultado histórico.

“Portugal está a viver um ano com uma excelente performance no mercado de investimento imobiliário comercial e que pelos resultados alcançados no final do 1º semestre de 2017, deixa antever que será quebrado o recorde pertencente ao ano de 2015, ano em que o mercado atingiu os dois mil milhões de euros”, antecipam. Os especialistas responsáveis por esta análise explicam estes resultados pela instabilidade do sistema financeiro, aliada a um risco elevado no retorno de investimento, que conduziu muitos investidores ao mercado imobiliário, como “veículo estratégico de diversificação de risco”.

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Nos primeiros seis meses do ano, o mercado de investimento imobiliário comercial nacional contabilizou um valor ligeiramente acima dos mil milhões de euros, sendo que 60% dessas operações correspondem a ativos com valor de investimento superior a 100 milhões de euros. “Aos investidores oportunísticos sucedem-se agora os investidores institucionais com perfil core, dispostos a pagar valores mais elevados por ativos de qualidade e provavelmente com horizontes mais longos de investimento”, referem. Portanto, para o segundo semestre, “é expectável que os montantes de investimento se mantenham em alta e possam ultrapassar os 1.5 mil milhões de euros, estabelecendo assim um novo recorde para o mercado português”, esclarecem.

Um dos grandes desafios para Portugal é, de acordo com o estudo, a captação de um maior volume de investimento estrangeiro, embora a criação de programas de incentivo ao investimento e o boom turístico internacional tenham contribuído para reanimar o setor da construção. A realidade é que o mercado português continua a ser dominado pelos fundos de investimento imobiliário e por capitais estrangeiros, com 90% do volume total de investimento transacionado no primeiro semestre de 2017 a ser levado a cabo por investidores internacionais.

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O segmento de retalho dominou o mercado de investimento durante o período em análise, com um volume total de 400 milhões de euros. Alguns exemplos significativos são as operações de venda do Fórum Coimbra, do Fórum Viseu e da Vila do Conde Style Outlet, que representaram 88% do mercado de investimento para este segmento. No entanto, registou um decréscimo de 17,5% face a 2016, o que também aconteceu com o segmento de escritórios, com um volume de investimento total semestral de 298 milhões de euros e um decréscimo de 36% em relação ao último ano.

De acordo com o estudo, o mercado de retalho continua a viver um “período de grande dinamismo”, impulsionado pelas inaugurações de novos equipamentos comerciais, a abertura de restaurantes, bares e esplanadas, e pelo facto das principais cadeias de retalho alimentar terem estado muito ativas nesta primeira metade do ano. A abertura do Mar Shopping Algarve, um investimento de 200 milhões de euros, será benéfico para o setor durante este segundo semestre.

No mercado de escritórios, Lisboa atingiu resultado positivos em termos de procura, devido à “exposição cada vez maior da cidade de Lisboa aos mercados internacionais”, refere o estudo. O Porto é cada vez mais visto como um mercado estratégico de investimento, tendo sido a escolha de muitas empresas multinacionais, como é o caso da Webhelp, Natixi, Euronext, Critical Software, BNP Paribas e HostelWorld. Porém, os analistas referem que a falta de oferta nova e de qualidade não consegue competir com o índice elevado de procura.

O mercado industrial e logístico revelou, durante este período, sinais de maior atividade devido às exportações e ao aumento significativo nos níveis de consumo e de confiança dos consumidores. No entanto, o estudo refere que a “oferta permanece muito escassa, dispersa e de fraca qualidade”. A retoma do investimento na Plataforma Logística da Castanheira do Ribatejo, no concelho de Vila Franca de Xira poderá vir a ter impacto neste setor nos próximos meses.

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O turismo tem demonstrado nos últimos anos uma tendência de evolução positiva, o que se voltou a confirmar nos primeiros seis meses de 2017. As exportações registaram um valor de 6.061 mil milhões de euros, o que se traduz num aumento de mais 21% comparativamente com o período homólogo de 2016. Também as importações de serviços – viagens e turismo – registaram um aumento na ordem dos 13,2%, o que resultou num saldo positivo de 3.953 mil milhões de euros. “Portugal tem-se afirmado cada vez mais como uma marca de peso no panorama turístico internacional. O crescimento positivo dos principais indicadores assim o prova”, referem.

Até ao final do ano, deverão abrir mais 21 unidades hoteleiras e Lisboa irá liderar a tabela com 10 novas unidades, seguida do Norte com seis e Alentejo a somar duas aberturas. Algarve e Regiões Autónomas da Madeira e Açores, apenas com uma unidade.

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A nível europeu, as incertezas quanto ao desenrolar de alguns constrangimentos políticos, nomeadamente as eleições em França, o Brexit e a política Trump, face a uma economia “ainda enfraquecida”, são preocupações que podem limitar o investimento imobiliário na Europa Ocidental, que, apesar disso, registou uma subida de 9% no primeiro semestre de 2017.