Fundos de ações América: uma década depois da Lehman Brothers

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Photo by John Fornander on Unsplash

A 15 de setembro de 2008, o banco norte-americano Lehman Brothers sucumbiu à crise do subprime e declarou falência. Seguiram-se meses de extrema volatilidade que despoletaram uma segunda fase de um bear market que apenas terminou em fevereiro de 2009. Desde então, o mercado norte-americano voltou a ganhar fulgor. Timidamente, o sector bancário emergiu das cinzas e o imobiliário, o sector nuclear da crise, estabilizou e retomou um trilho mais moderado. Vimos também a estrutura de mercado mudar muito. Empresas como o Facebook, Amazon e Netflix tomaram a liderança dos mercado e proporcionaram aos investidores ganhos extraordinários. Desde os seus mínimos em 2009, o índice S&P 500 proporcionou um retorno de 250%, mais que triplicando o capital daqueles que confiaram no potencial e resiliência das principais empresas do mercado de capitais norte-americano

Contudo, nestes 10 anos, os quatro fundos nacionais de ações norte-americanas mostraram uma evolução díspar. Muito embora todos se posicionem no segmento large-cap, a gestão é executada de forma distinta  e isso reflete-se no perfil de risco e retorno apresentado ao longo da última década.

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Com referência ao final de agosto de 2008, o fundo que maior retorno anualizado proporcionou ao longo destes 10 anos foi o Caixagest Acções EUA, muito embora estes resultados tenham sido conseguidos à custa de um maior risco assumido, visível no desvio padrão anualizado de 14,07%. É também o maior fundo deste conjunto e é gerido pela Caixagest. A abordagem de gestão do fundo resulta numa carteira relativamente diversificada - 37 títulos - mas com uma concentração de 55% dos ativos entre as 10 maiores posições. A maior posição, no final de julho de 2018 - 9,45% da carteira -, configurava-se na produtora de aeronaves Boeing, título que em dois anos valorizou mais de 2,5 vezes. Segue-se o grupo de produtos e seguros de saúde UnitedHealth, que ocupa 7,5% da carteira e o grupo bancário Goldman Sachs, com 6,26%. Grandes marcas de renome mundial, como a Apple, Caterpillar e Microsoft, fazem também parte das 10 maiores posições do fundo.

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Há dez anos atrás, o panorama era um pouco distinto. Em primeiro lugar, os ativos do fundo estavam bastante mais dispersos, incluindo na sua composição mais de 70 títulos distintos. Em segundo lugar, o mix que compõe o top 10 de ativos mudou quase completamente, com apenas uma resistente. Falamos da primeira 'trillion dollar company': A Apple. Destaque para as duas maiores posições na carteira de então, nomeadamente a gigante do retalho norte-americana, Wal-Mart e a multinacional de bens de consumo, Procter & Gamble.

O segundo fundo mais rentável no período é o IMGA Acções América, gerido por António Dias e co-gerido por Nuno Marques, profissionais da maior entidade gestora independente nacional, a IM Gestão de Ativos. A gestão desta estratégia tem um enfoque diversificado, com investimentos em mais de 120 posições e uma concentração de apenas 30% nas 10 maiores posições. Estas são lideradas por empresas do sector tecnológico ou comunicação, como a Microsoft (5,51%), Apple (4,16%) e Alphabet (3,62%).

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Há 10 anos atrás, a maior posição do fundo era a empresa de serviços petrolíferos integrados, Exxon Mobil, seguida da Microsoft e do conglomerado industrial General Eletric. Nenhuma das 10 maiores posições se mantém no atual top 10.

Gerido por Luis Beamonte, o fundo de ações americanas da Santander AM figura no terceiro lugar do ranking de rentabilidade a 10 anos. Com a denominação de Santander Acções América, o fundo proporcionou um retorno anualizado de 8,57%, com um desvio padrão de 13,33%.

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Ao contrários dos seus anteriores pares, este produto de investimento inclui uma percentagem da carteira alocada a investimento indireto em ações norte-americanas, de 13%, materializado através de instrumentos ETF e futuros. De resto, as maiores posições individuais materializam-se na retalhista de bens para o lar Home Depot, a Wal-Mart e o banco de investimento Goldman Sachs. As 10 maiores posições ocupam 43% da carteira, composta, na sua totalidade, por apenas 36 títulos. Recuando uma década, podemos observar que a abordagem era então muito distinta, com a carteira dispersa por 100 posições individuais e um futuro sobre o S&P 500. As três maiores posições coincidem com as do fundo homólogo da IMGA (Exxon Mobil, Microsoft e General Electric).

Por fim, o BPI América, da BPI Gestão de Activos, gerido por José Badalo. São quase 100 posições individuais, a par com algumas posições em futuros sobre o S&P 500 e sobre o câmbio euro/dolar. As duas maiores posições em carteira são as duas primeiras 'trillion dollar companies', a Apple (3,5%) e a Amazon (3,4%). Estas empresas, aliás, encontram-se em todos os portefólios de fundos de ações americanas nacionais, o que é coerente com a visão quase consensual do seu potencial que as levou a superar sucessivos patamares de capitalização bolsista. A terceira posição configura-se na Visa (2,9%), a empresa de serviços financeiros multinacional. 

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Contudo, em setembro de 2008 o panorama era distinto, o que se refletia nas maiores posições de então desta estratégia. Empresas como a Total System Services - empresa de processamento de cartões de crédito - a Pharmerica Corporation - empresas de serviços farmacêuticos a institucionais  - e a Aflac - empresa de seguros - configuram as três maiores posições de então, que se revelam bastante distintas dos sues pares nacionais.

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