Fundação Champalimaud: 2018 de perdas, com a amenização dos alternativos

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Com um bom início de ano de 2018, mas um final não tão favorável assim. É com esta tónica que a Fundação Champalimaud – a segunda com maior volume de património em Portugal – descreve o comportamento da gestão do seu património financeiro no ano de 2018. Desta forma, escrevem no relatório e contas da entidade que “apesar de um forte início de ano”, 2018 ficou marcado por um “quarto trimestre turbulento, com receios de desaceleração do crescimento global, tensões geopolíticas e aumento das taxas de juros nos EUA, convergindo, nos últimos meses, para a queda de valor dos ativos financeiros”.

Sem ser imune às pressões descritas, comentam, a carteira de investimentos da Fundação terminou 2018 com uma perda de 3,7%, situando-se nos 452,2 milhões de euros. Uma queda que resultou de retornos negativos em “todas as classes de ativos”, sendo a exceção feita aos investimentos alternativos. O valor da carteira de investimentos compara portanto com os 483,2 milhões de euros de final de 2017.

A prudência nos investimentos, que já era evidenciada nos resultados referentes a 2017, “mantém-se”. Da Fundação escrevem que, comparativamente com outras fundações, privilegiam “um perfil de investimentos conservador”, com uma alocação “inicial por tipos de ativos”, e privilegiando “uma perspetiva de longo prazo e a diversificação de investimentos”. Estes requisitos, acrescentam, são executados por um consultor externo, o Guggenheim Investment Advisors.

Embora prudente, a Fundação Champalimaud aponta no documento que o seu objetivo é “ultrapassar o desempenho do mercado, dentro do seu perfil de risco, selecionando os melhores fundos para cada categoria de ativos, e escolhendo-os em função, simultaneamente, do reconhecimento dos gestores e dos seus resultados comprovados”. O investimento em títulos específicos não fica de fora, embora apelidem estes movimentos de “investimentos ocasionais”, “escolhidos em conjunto com a administração, na perspetiva oportunista de otimização de resultados”. “Isto foi conseguido nos anos mais recentes com a estratégia de aproveitamento do produto designado por CoCos”, apontam.

Ações mais prejudiciais - queda de 6,5%

Por classe de ativos, a Fundação aborda o contributo que cada uma deu à carteira no ano de 2018. Com pouca novidade, escrevem que a carteira de ações “foi a que mais contribuiu negativamente para o resultado global da carteira de investimentos, já que registou um retorno negativo de 6,5%”. Segundo a instituição, “este desempenho negativo ocorreu maioritariamente por via dos gestores das carteiras de ações europeias e britânicas”. De forma a compensar estas perdas, a instituição não esquece a “estratégia de cobertura seguida”, que “ajudou a reduzir o impacto negativo dos investimentos subjacentes”.

Embora em menor escala, o mercado de rendimento fixo também contribui negativamente para os resultados da carteira, e foi o segundo maior detrator de performance, com um valor de -2,7% de retorno. “A performance negativa foi fortemente influenciada pela elevada concentração em títulos híbridos individuais como os CoCos e outros títulos de dívida preferencial que, como a maioria dos ativos de risco, registou um quarto trimestre particularmente fraco”, escrevem. Adiantam também que “a componente da carteira de títulos de crédito sénior, beneficiando de taxas variáveis e relativa baixa sensibilidade de preço, superou o mercado global, e a estratégia seguida só se tornou negativa no último mês do ano”. A contribuir para a performance negativa deste segmento esteve também, adiantam, a “reduzida exposição da carteira ao mercado obrigacionista de risco reduzido (investment grade)”, o que “também prejudicou os retornos alcançados”, já que “este tipo de ativos teve um bom desempenho a partir do momento em que investidores se concentraram em ativos de refúgio seguro”.

O tom positivo dos mercados privados

Como já indicado, a componente de alternativos foi a única a contribuir positivamente para performance do portefólio, no caso com um ganho de 3,7%. “A maior parte desse retorno veio dos investimentos nos mercados não cotados, como os fundos de capital de risco (private equity) e os fundos de dívida (private debt)”, identificam. Também “os investimentos de imobiliário (real estate), particularmente o investimento no Pradera Retail Parks (IKEA), ajudaram aos resultados, que beneficiaram da contínua distribuição de dividendos ao longo do ano”. Negativamente, a este nível, a Fundação aponta os contributos dos “designados Event Driven Hedge Fund Managers e da posição residual da carteira em Commodities”.

O tom negativo de 2018 é contrabalançado com a nuance mais positiva que observam já em 2019. Ao início de ano a Fundação dedica algumas palavras, onde referem que “2019 começou com uma inflexão pronunciada na trajetória, já que a maioria dos ativos de risco em janeiro e fevereiro recuperou perdas devido aos resultados das empresas melhores do que o esperado e à postura colaborante da Reserva Federal, que contribuiu para a elevação do sentimento dos investidores”.