Flexibilidade e convicção num fundo com mais de duas décadas de história

Vasco_Teles_Eurobond_GNB
-

Ainda não tinha começado o novo século e já o fundo NB Eurobond existia. São mais de 22 anos de uma estratégia de investimento em obrigações que, inevitavelmente, acumula uma história rica e muito densa. Vasco Teles, gestor do fundo desde 2008, fala à Funds People de alguma dessa história e comenta as razões que fazem do NB Eurobond o melhor fundo estrangeiro de obrigações em 2017, segundo a Morningstar.

Nascido em 1995, o fundo beneficiou do processo de convergência das yields que se deu durante a integração europeia de finais dos anos 90 e inícios dos anos 2000, chegando à crise de 2008 com rentabilidades interessantes, mas com pouca amplitude face ao benchmark. “Em fases de pouca volatilidade de mercado é muito difícil obter uma performance superior ao índice de referência. No entanto, com a chegada da crise financeira de 2008, começámos a ver muita dispersão no mercado, e com a dispersão surgem oportunidades. No final de 2009 começaram a surgir as primeiras tensões relativamente aos periféricos. Vimos Portugal e Grécia, numa fase inicial, a divergir completamente dos outros países europeus. E foi nessa fase que o fundo conseguiu ser mais assertivo e ter um bom posicionamento, evitando o alargamento dos spreads”, conta o gestor.

Deste modo, em 2011, o fundo passou praticamente todo o ano investido em dívida de países core, numa altura em que começaram a surgir os primeiros sinais de stress em Espanha e Itália, que contagiaram a França em 2012. “Neste período gerimos o posicionamento no sentido de assumir os riscos mais adequados e evitar os mais prejudiciais e, já na fase de inversão do ciclo de spreads, com o BCE a intervir  no mercado - primeiro verbalmente e depois com a aquisição de ativos - apenas tivemos que seguir a tendência e acompanhar a subida do mercado”, comentao o profissional da GNB Gestão de Ativos.

Esta gestão dinâmica e acertada tem proporcionado ao fundo vários prémios e reconhecimentos ao longo dos últimos anos, mas, segundo Vasco Teles, o ano passado foi particularmente positivo: “Tínhamos liquidado as nossas posições em dívida portuguesa um ano antes, e voltámos a entrar de forma decisiva numa fase que coincidiu com os máximos das yields soberanas nacionais”. Finalmente, o gestor destaca o feliz posicionamento em dívida soberana grega, que “terá sido a classe de ativos que no ano passado diferenciou positivamente o fundo”.

Características da gestão

Os 22 anos do fundo não se resumem em três parágrafos, mas a forma como Vasco Teles expôs a história permite realçar uma das características mais marcantes do fundo: a flexibilidade. Para Vasco Teles o desenho do fundo é particularmente “feliz”. É um fundo que tem a possibilidade de assumir risco, de forma flexível e com grande convicção, o que tem permitido consistentemente superar a concorrência. “Penso que temos duas principais valências. A possibilidade de assumir risco em termos absolutos, e a possibilidade de nos desviarmos bastante face ao benchmark. Isso permite que apresentemos um histórico de rentabilidades invejável, mesmo se compararmos com o segmento de equity”.

A concentração da carteira  é mais um dos factores de sucesso do desenho do fundo. Embora possa parecer um contrassenso, a concentração das convicções de investimento em poucos emitentes e poucas emissões permite, segundo Vasco Teles, isolar a relação causa-efeito entre a rentabilidade e os ativos em carteira. “Quando há uma grande dispersão em termos de ativos e posições, muitas vezes os impactos e as fontes de valor ficam muito difusos. A nossa estratégia de gestão, muito focada, mas com muitos graus de liberdade para gerir com risco, tem mostrado os seus resultados”, comenta. O risco em cada posição é gerido com base na convicção em cada caso de investimento. “Se a equipa está disposta a assumir pouco risco posiciona-se numa parte mais curta da curva, mas se está muito bulish, poderá posicionar-se a 10, 20 ou 30 anos”, explica o gestor.

Forças de mercado

O gestor espera um segundo trimestre relativamente tranquilo no mercado de obrigações. “O mercado europeu opera num contexto de baixa volatilidade induzida pelo BCE. O mandato do banco central passa claramente por manter os investidores calmos relativamente à evolução dos spreads, para manter a transmissão da política monetária a funcionar”, comenta.

Vasco Teles relembra também uma força ainda muito presente no mercado: a escassez de títulos. “A escassez verifica-se sobretudo na Alemanha e na Holanda. É uma escassez técnica e vimos recentemente um membro do banco central a alertar para o reduzido free float da dívida soberana alemã. Isso tem implicações. Num contexto de grande regulação e grandes exigências, grandes desafios ao nível do ALM, de responsabilidades financeiras e da liquidez dos ativos em balanço, faz-nos crer que não se vai dar uma subida das yields como muitos intervenientes acreditam”, explica.

Neste sentido, a duration tem tido uma evolução dinâmica no fundo, e embora tenham reduzido substancialmente o risco de taxa de juro no início do ano, recomeçaram a repor o risco nas carteiras. “Estamos positivos em taxa de juro nos  próximos meses, mas temos sempre em mente que é um processo dinâmico e, em virtude da nossa flexibilidade, apenas nos manteremos com este posicionamento se o mercado continuar suportado”, conclui.